Policiais civis reduzirão atividades no DF para conter risco de Covid
Decisão foi tomada em assembleia realizada na tarde desta quarta-feira (14/4). Categoria se sente vulnerável ao novo coronavírus
atualizado
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Após assembleia-geral realizada na tarde desta quarta-feira (14/4), o Sindicato dos Policiais Civis do Distrito Federal (Sinpol-DF) deliberou por cobrar do Executivo distrital a implantação de uma escala de vacinação por idade na Polícia Civil (PCDF). Por se sentirem expostos à Covid-19, os policiais também optaram por reduzir a quantidade de operações e atendimentos nas unidades.
Batizado de “Operação Vidas Policiais Importam”, o conjunto de ações perdurará até que todo o efetivo da PCDF seja vacinado contra a Covid-19, diz o sindicato. Os policiais civis serão orientados a registrar formalmente o descumprimento das medidas sanitárias nas delegacias. Também será cobrada a distribuição de equipamentos de Proteção Individual (EPI) e de Proteção Coletiva (EPC).
Conforme decidido pela categoria, a partir de agora, haverá redução no número de operações policiais (e os policiais civis só poderão executá-las com o uso dos EPIs), de oitivas e das intimações de vítimas, testemunhas e suspeitos de crimes.
Não haverá escolta para audiência de custódia virtual no Núcleo de Audiência de Custódia (NAC), assim como ocorria no início da pandemia. Foi definido, ainda, que a categoria defenderá a vacinação urgente de todo o efetivo, com a idade como único critério.
“Os policiais civis não pararam de trabalhar em momento algum. E, justamente por isso, estão se contaminando mais”, afirma Alex Galvão, presidente do Sinpol-DF.
Procurada pelo Metrópoles, a direção da PCDF disse que não vai se pronunciar, por enquanto, sobre a deliberação da assembleia (fotos abaixo) desta tarde. O espaço está aberto a manifestações.
Vacinação
A categoria manifesta, desde o início da pandemia, preocupação devido à exposição no trabalho e risco de contaminação pelo coronavírus, e tem cobrado a inclusão de profissionais do IC e do Instituto de Identificação (II) na lista de grupos prioritários de vacinação para a Covid.
A Portaria N° 2, de 4 de abril de 2021, estabeleceu a lista dos primeiros 350 policiais a receberem doses de vacinas contra SARS-COV2. No entanto, contemplou apenas aqueles envolvidos em operações “lockdown” ou integrantes dos plantões das mesmas operações. Dados da corporação mostram que pelo menos 655 policiais da ativa foram contaminados pelo novo coronavírus e cinco morreram em decorrência da doença.
Dados do Sinpol demonstram que a taxa de contaminação na Polícia Civil é de aproximadamente 18% (são quase 700 servidores contaminados), mas há departamentos onde essa taxa é muito maior. Entre os agentes policiais de custódia lotados na DCCP, por exemplo, esse índice é de 53% (o maior da corporação).
Dois policiais civis morreram no último fim de semana. Segundo o Sinpol-DF, Everton Gonçalves e Carlos Oliveira se contaminaram em atividade. “Everton, inclusive, em um dos relatórios de plantão, registrou uma série de situações que o expunham ao risco na delegacia. O documento foi lido pelo presidente do Sinpol na assembleia”, destacou o sindicato, em nota. “Esse relatório mostra, também, a omissão da Administração da Polícia”, afirma o presidente da entidade. “Não há dúvida de que eles se contaminaram em serviço”, completa Alex Galvão.
A categoria tem cobrado tanto da administração da Polícia Civil quanto do Governo do Distrito Federal a priorização da imunização, sobretudo porque outras categorias que podem realizar suas funções por teletrabalho foram vacinadas.
Também reivindica a melhoria das condições de trabalho durante a pandemia, pois, segundo o Sinpol, as delegacias não possuem nenhum controle de acesso ou qualquer recurso que limite aglomerações. Entre os problemas estão, ainda, a falta de equipamentos de proteção individual e de controle sobre o número de ações e operações policiais.
Os relatos das condições de trabalho vieram também dos dirigentes das associações que representam os agentes policiais de custódia. “A nossa situação não só é mais grave, como é das mais complicadas. A escolta leva, pelo menos, 50 presos, diariamente. E eles só são testados quando chegam à carceragem. Estamos muito expostos”, reitera Kleyce Oliveria, presidente da Associação Brasiliense dos Agentes Policiais de Custódia (AAPC).
Outra assembleia será realizada para decidir sobre as ações dos peritos (foto em destaque) do Instituto de Criminalística, ainda sem data marcada. No entanto, já está definido que os profissionais do IC terão um protocolo mais restrito de atuação em cenas de crime (galeria abaixo); deixando de examinar os corpos no local do óbito e reduzindo ao mínimo as manipulações durante buscas de armas ou drogas.
“Os profissionais da polícia técnica trabalham nos bastidores e, por isso, muitas vezes são invisibilizados e não recebem o cuidado devido. Durante a pandemia, desempenham um papel fundamental nas ações de combate à Covid-19, mas que não é enxergado. Estamos cobrando das autoridades competentes que esses policiais trabalhem com a estrutura, a segurança e a imunização necessárias para continuar a exercer o trabalho de excelência que vem sendo feito”, afirma Alex Galvão, presidente do Sinpol-DF.
Conforme relata Ana Carolline Ribeiro de Toledo, da diretoria do sindicato, os profissionais de perícia comparecem a todo tipo de localidade durante o trabalho. Assim, servidores tanto do Instituto de Criminalística (IC) quanto do Instituto de Identificação (II) precisam tomar cuidados redobrados.
“Usamos EPI, mas precisamos manipular cadáveres nas ruas e nas casas. Nunca sabemos quando as pessoas estão infectadas”, pontua Ana Carolline. “Trinta por cento dos peritos que trabalham em crimes já foram infectados, mais do que o dobro da polícia toda”, acrescenta.
“Outro fato que pode ser destacado é que na viatura andam quatro policiais nas perícias de crime contra a vida (dois peritos criminais, um papiloscopista policial e um agente) e nas ocorrências de crimes contra o patrimônio andam três policiais (um perito, um papiloscopista e um agente), o que aumenta a possibilidade de contaminação entre institutos, porque essas pessoas trabalham em locais diferentes na polícia”, detalha.