Polícia mira em candidatos beneficiados pela Máfia dos Concursos
Nova fase da operação da Deco focará nas pessoas que contrataram a quadrilha e os que usaram documentos falsos para fazer as provas
atualizado
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A prisão de quatro acusados de fazer parte da Máfia dos Concursos nesta segunda-feira (21/8) não esgota as investigações sobre a organização criminosa. Segundo a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Deco), a Operação Panoptes é apenas a primeira fase. Uma outra deve ser deflagrada nos próximos 60 dias e o foco serão candidatos que passaram em concursos por meio de fraudes e outros integrantes do esquema, como os chamados “pilotos”.
“Esses pilotos são pessoas mais gabaritadas dentro da organização criminosa. Por meio de documentos falsificados, elas realizavam o concurso com o nome do candidato beneficiado”, explicou o delegado Brunno Ornelas, da Deco, durante coletiva à imprensa nesta segunda-feira.Os investigadores já identificaram ao menos 100 casos de pessoas que foram beneficiadas pelo esquema criminoso. Segundo a Polícia Civil, há indícios de fraudes em pelo menos três concursos recentes: Terrracap, Secretaria de Saúde e Corpo de Bombeiros.
Os criminosos miravam o concurso mais esperado do ano no DF, o da Câmara Legislativa, cujo edital foi divulgado nesta segunda. Os investigadores dizem que a quadrilha agia também fora da capital do país. Há, segundo a Polícia Civil, pelo menos um braço da organização em cada estado, o que coloca em suspeição todos os concursos realizados na última década.
A fraude custava caro para quem contratava a quadrilha. Candidatos beneficiados pela Máfia dos Concursos chegavam a pagar até R$ 200 mil para conseguir a aprovação. Segundo a Polícia Civil do DF, era dado um sinal entre R$ 5 mil e R$ 10 mil. Se o nome constasse entre as primeiras colocações na divulgação do resultado, os aprovados desembolsavam até 20 vezes mais para concretizar o negócio.
Foram presos preventivamente nesta segunda-feira Hélio Garcia Ortiz, o filho dele Bruno de Castro Garcia Ortiz, Johann Gutemberg dos Santos e Rafael Rodrigues da Silva Matias. Hélio era o chefe da organização criminosa e, mesmo preso em 2005, nunca deixou de agir de forma ilícita, segundo a Polícia Civil. Bruno agia de forma operacional; Rafael era seu braço direito; e Johann facilitava o esquema fornecendo graduação e pós a quem precisasse e pagasse bem. “O pacote era completo”, destacou Ornelas.
Além das prisões, o Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção de Promoção de Eventos (Cebraspe), antigo Cespe, foi alvo de busca e apreensão, por determinação da Vara Criminal de Águas Claras. Em junho deste ano, um certame da instituição foi suspenso por suspeita de fraude. A seleção para delegado da Polícia Civil do Estado do Goiás (PCGO) está sendo investigada pelo Ministério Público de Goiás e pode ser anulada.
Em nota, a instituição vinculada à Universidade de Brasília (UnB) informou “que está acompanhando a investigação, fornecendo todo o apoio necessário à investigação e é o maior interessado em esclarecer os fatos”.