Polícia Militar faz operação para desocupar Torre Palace Hotel
Prédio é ocupado por sem-teto e usuários de drogas. Eixo Monumental está fechado na altura do hotel. Motoristas devem evitar a região
atualizado
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As negociações para a desocupação do Torre Palace Hotel, na área central de Brasília serão retomadas na manhã desta quinta-feira (2/6). A Polícia Militar cercou o edifício nas primeiras horas de quarta (1º), mas depois de 20 horas, pelo menos 13 sem-teto do Movimento da Resistência Popular (MRP) resistem e continuam dentro do prédio. O trecho de 100 metros do Eixo Monumental entre a entrada da W/3 Norte e a Torre de TV, sentido Palácio do Buriti, continua interditado. A recomendação é para que os motoristas evitem passar pela região.
O local serve de abrigo para usuários de drogas e foi batizado de “Cracolândia Vertical”. Durante toda a quarta-feira o clima foi de tensão. Os ocupantes do edifício ameaçavam explodir o local com botijões de gás. Uma barricada de pneus e objetos foi feita para evitar a entrada dos policiais. De acordo com a Secretaria-Adjunta de Desenvolvimento Social e Humano (Sedestmidh), estão ocupando o prédio 13 adultos e cinco crianças.
Os ocupantes que já tinham saído do prédio mais cedo entraram em confronto com a polícia no final da tarde de quarta. Os sem-teto que seguem dentro do prédio arremessam objetos contra a PM. O Batalhão de Choque aproveitou a saída de parte dos invasores do Torre Palace e fez um cordão de isolamento ao redor do prédio. Ninguém consegue mais entrar no local.
Em reunião com deputados federais e representantes do Ministério Público Federal (MPF), na quarta, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) bateu o pé e disse que não voltará atrás na decisão de retirar os sem-teto que ocupam o Torre Palace. Segundo a assessoria do Palácio do Buriti, foi oferecido auxílio-aluguel para os invasores e vagas em albergues para os que não se encaixam no perfil do programa.
Como forma de resistência, os invasores atearam fogo em objetos. Por segurança, o Eixo Monumental foi fechado logo após a Rodoviária, no sentido Palácio do Buriti. Os sem-teto dizem que não sairão e que vão resistir. No início da tarde, os invasores jogaram um rojão num grupo de policiais e os PMs utilizaram gás de pimenta para acalmar os ânimos.
“Não temos para onde ir. Ninguém do governo veio aqui para oferecer um lugar para a gente”, disse Ylka Carvalho, uma das coordenadoras do Movimento Resistência Popular (MRP). De acordo com ela, cerca de 80 pessoas estão no prédio, entre elas muitas crianças. Mais tarde, Ylka foi detida pela PM.
A gente só sai se tiver um documento com um lugar definitivo. Nós não vamos sair fácil assim não. Esse governador (Rodrigo Rollemberg) é muito mentiroso. Vamos resistir até o fim.
Ylka Carvalho, coordenadora do MRP
Um negociador tenta chegar a um acordo para a retirada dos invasores. “Nós temos oito unidades de acolhimento para receber essas famílias, se elas quiserem. Nós estamos aqui para conversar com eles quando houver a desocupação”, disse Jean Marcel Pereira, coordenador de Proteção Social da Secretaria de Direitos Humanos. Ele, entretanto, reconhece que a situação não seria definitiva, já que os sem-teto poderiam ficar nas unidades por até 90 dias.
No meio da tarde, presidiários a serviço da Secretaria de Segurança começaram a fechar com tijolos e cimento as entradas do edifício (foto de destaque). Houve reação imediata dos invasores, que começaram a jogar pedaços de telha, paus e outros objetos de cima do prédio. Um caminhão foi incendiado.
Hotéis vizinhos
Todas as forças de segurança foram escaladas para a desocupação, autorizada do Governo do Distrito Federal e coordenada pela Secretaria de Segurança Pública. Até o momento não houve a evacuação dos hotéis vizinhos, mas carros estacionados próximo ao Torre Palace foram retirados pela empilhadeira do Detran-DF.
De acordo com a Secretaria de Segurança, a operação está amparada por decisão judicial do desembargador Sebastião Coelho, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), datada do dia 24/5, que autoriza o Estado a entrar e tomar as medidas legais de saúde e segurança do prédio.
A medida foi tomada depois que os invasores impediram o trabalho de agentes da Vigilância Ambiental de Saúde, da Secretaria de Saúde, e da Subsecretaria de Proteção e Defesa Civil, subordinada à Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social, para combater focos do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, do zika vírus e da febre chikungunya, e a presença de ratos.
De acordo com a PM, 250 policiais estão na ação, inclusive o Batalhão de Choque. Ao todo, 360 pessoas estão envolvidas na desocupação, entre elas três conselheiros tutelares. “Seria apenas uma ação da Defesa Civil, mas algumas pessoas se recusaram a sair. Por isso fomos acionados para a desocupação”, disse o chefe da Comunicação Social da PMDF, Antônio Carlos Santana.
Disputa judicial
Fundado em 1973, o Torre Palace Hotel foi o primeiro prédio do Setor Hoteleiro Norte. Hoje, é parte de uma disputa entre herdeiros do libanês Jibran El-Hadj, dono do prédio, morto em 2000. O prédio está abandonado desde 2013. Desde outubro do ano passado, é o lar de integrantes do Movimento Resistência Popular, que invadiram o local após serem expulsos do Clube Primavera, em Taguatinga.
Ao todo, cerca de 200 pessoas ocupam o local, que fica em área privilegiada, em frente ao Eixo Monumental. Palco de diversas tentativas mal-sucedidas de reintegração de posse, o hotel já foi condenado pela Defesa Civil, que apontou diversas falhas graves na estrutura da construção.
Retirada e cercamento
Em março deste ano, a juíza Mara Silda Nunes de Almeida, da 8ª Vara de Fazenda Pública, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, deferiu, em caráter liminar, ação protocolada pela Procuradoria-Geral do Distrito Federal (PGDF), por ordem do governador Rodrigo Rollemberg (PSB), contra a Torre Incorporações e Empreendimento Imobiliário Ltda., proprietária do hotel Torre Palace, no Setor Hoteleiro Norte.
Na ocasião, foi dado um prazo de 20 dias para que a empresa promovesse a remoção das pessoas que estavam no local, bem como o cercamento do perímetro da edificação, a retirada das telhas quebradas ou soltas e a correção do telhado para evitar infiltrações, entre outras providências necessárias em caráter de urgência.