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Prostíbulos se espalham pelas salas comerciais do Conjunto Nacional

Há pelo menos sete clínicas estéticas que oferecem sexo mediante pagamento no shopping. Uma delas foi fechada pela polícia na quinta (28/9)

atualizado

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Felipe Menezes/Metrópoles
conjunto nacional
1 de 1 conjunto nacional - Foto: Felipe Menezes/Metrópoles

A casa de massagens Toque Suave, alvo de batida policial na última quinta-feira (28/9), não é o único recinto de prostituição disfarçado de clínica estética no Conjunto Nacional. Há pelo menos outros sete estabelecimentos nos quais mulheres oferecem serviços sexuais em troca de dinheiro na mira dos investigadores. As lojas estão espalhadas pelos três andares de salas comerciais do shopping center mais antigo do Distrito Federal, localizado a 3km da Praça dos Três Poderes.

Após a operação que acabou na interdição da Toque Suave, policiais da 5ª DP (Área Central) querem identificar outras lojas que na fachada oferecem tratamentos estéticos, mas, na verdade, camuflam a exploração de garotas de programa. A tarefa, contudo, não será fácil: algumas já fecharam as portas temendo novas investidas policiais. Outra dificuldade é rastrear os verdadeiros responsáveis, porque em geral eles usam laranjas no cadastro das empresas que alugam as salas comerciais.

Uma das lojas que suspendeu as operações nos últimos dias é a Clínica VIP, no sexto andar. Desde que o Metrópoles revelou a existência da Toque Suave – na reportagem do dia 15 de setembro, que embasou a operação da 5ª DP –, a VIP não abriu mais. “Havia uma movimentação bem intensa de mulheres e homens todos os dias”, contou a funcionária de uma das salas vizinhas.

De acordo com outra fonte que trabalha no shopping, os donos da VIP transferiram o ponto por medo da polícia. “Soube que eles ficaram assustados depois da reportagem. Ouvi dizer que a VIP se mudou para uma sala no Setor Comercial Sul”, disse o homem, que pediu para não ter o nome divulgado.

Na frente da VIP, a porta de vidro fumê não faz qualquer menção aos serviços prestados no ambiente. Apenas uma placa de identificação no hall dos elevadores indica o número da sala.

No entanto, um auxiliar de limpeza que passava em frente ao local confirmou à reportagem a oferta de serviços eróticos não apenas na VIP, mas em outros locais do shopping. “Rapaz, está cheio. Tem para todos os gostos e tipo de bolsos. Basta escolher uma e pagar”, afirmou o trabalhador, que passa o dia limpando os corredores e conhece bem a rotina das casas de massagem do Conjunto Nacional.

Pura Beleza
Assim como a Toque Suave e a VIP, há outra clínica onde mulheres oferecem sexo em troca de dinheiro, chamada Pura Beleza. O local, que na fachada diz trabalhar com massagens, prima pela discrição na hora de atender os clientes. A reportagem visitou o estabelecimento.

O espaço é dividido em vários ambientes. Duas moças, jovens e bonitas, costumam ficar atrás do balcão para fazer o primeiro contato. Elas perguntam se é a primeira vez na casa e levam a clientela por um tour pelas instalações.

No primeiro quarto, há uma sala decorada com temas orientais. À meia-luz, o local conta com uma cama suspensa, de modelo semelhante aos usados por gueixas – mulheres japonesas que estudam a tradição milenar da arte, dança e do canto. Uma fonte elétrica ao fundo transmite sensação de tranquilidade por conta do barulho de água corrente.

A segunda sala é equipada com luzes no teto, que mudam de cor a cada instante. O som ambiente também ajuda no processo de relaxamento, segundo a profissional que conduz o passeio pela clínica.

A Pura Beleza tem ainda uma terceira sala, bem maior que as outras. O espaço conta com maca para massagem e uma banheira de hidromassagem, que pode ser usada caso o cliente deseje. Um banheiro confortável, roupões e chinelos também são oferecidos pela clínica. Em um primeiro momento, apenas massagens terapêuticas e tradicionais são ofertadas, mas o esquema de prostituição não demora a ser revelado.

Veja vídeo:

 

Batalhão de massagistas
Com uniforme impecável e cabelo primorosamente penteado na forma de coque, a cicerone da visita pela clínica apresenta todas as profissionais que trabalham no local. No dia em que a reportagem esteve no estabelecimento (21/9), havia oito mulheres à disposição na Pura Beleza. Como em um ritual, as jovens sorridentes ficam enfileiradas em uma sala para que uma delas – ou mais de uma, a depender de quanto o cliente estiver disposto a pagar – seja escolhida.

Quando o visitante decide qual será a profissional, as demais saem da sala e desejam uma boa massagem. Em seguida, a porta é trancada e a negociação começa.

A massagem relaxante custa R$ 120. Por mais R$ 100, podemos fazer uma ‘brincadeira’

Massagista

A mulher se referia à “finalização” manual. Se o cliente quiser penetração vaginal, o valor sobe para R$ 150. Ou seja, no total, a fatura chegaria a R$ 270, mas a profissional disse que o preço final pode ser negociado, a depender dos serviços pedidos.

Sobre a maca onde a massagem é realizada, um recado pregado no teto traz uma mensagem subjetiva: “Se o final valer a pena, o caminho não importa”. Após uma hora, o cliente tem direito a tomar um banho antes de deixar a clínica. O pagamento é feito em dinheiro ou cartão de débito.

Vizinhos reclamam
A presença da clínica incomoda lojistas e funcionários de escritórios que trabalham no mesmo andar. De acordo com um deles, a Pura Beleza funciona há cerca de três anos e sempre levantou suspeitas.

“No começo fiquei feliz quando a clínica abriu, pois achei que era um local para tratamento estético de verdade, voltado para mulheres, mas apenas homens entram lá. Principalmente, no horário de almoço. É possível sentir um cheiro forte de velas aromáticas e incensos”, contou um dos vizinhos do estabelecimento.

Operação policial
O universo da prostituição no shopping sofreu um golpe nesta semana. Na quinta-feira (28), durante a batida na Toque Suave, sete mulheres e um cliente foram conduzidos para prestar depoimento na 5ª DP.

No momento da ação policial, os proprietários não se encontravam no local. Ao deixar a clínica, uma das garotas quis levar a chave e trancar a sala, o que não foi permitido pela PCDF, que aguardava a chegada da Agência de Fiscalização do Distrito Federal (Agefis). Foram levados cadernos de contabilidade, dezenas de preservativos, dinheiro em espécie e máquina de cartão, entre outros itens.

A ação policial teve como principal objetivo identificar se os proprietários do estabelecimento estão praticando rufianismo – quando alguém recebe vantagens financeiras em decorrência da prostituição de terceiros.

 

De acordo com o advogado criminalista Eduardo Toledo, a polícia precisa materializar o rufianismo para indiciar os responsáveis pelo estabelecimento. “A prostituição no Brasil não é crime, mas a exploração sexual, sim. É preciso que se configure a vantagem financeira de terceiros sobre os programas cobrados pelas casas”, explicou.

Segundo o delegado que investiga o caso, Luiz Gustavo Neiva, os depoimentos prestados pelas sete mulheres revelaram a configuração de crime, pois 30% do valor de cada programa era cobrado pelos donos do local. “Uma parte significativa dos cachês das massagistas ficava nas mãos dos exploradores. Isso materializa a exploração sexual”, disse ao Metrópoles.

Outro lado
Procurado pela reportagem o Conjunto Nacional afirmou, por meio de nota, “que colabora com a operação da Polícia Civil, prestando todos os esclarecimentos necessários”. O shopping reforça ainda que “a atividade não condiz com os valores praticados pela companhia e reitera que as salas do 3º ao 6º andar não são de propriedade do Conjunto Nacional, mas de terceiro”, explica.

O tamanho das lojas comerciais varia aproximadamente entre 40m² e 90m². Em sites especializados na locação de imóveis, o valor do aluguel mensal vai de R$ 1,5 mil a R$ 4,5 mil.

Quando o Metrópoles noticiou a existência da clínica, a Toque Suave mantinha um site, que foi retirado do ar após a publicação da denúncia. Além de informações sobre os serviços, a página exibia fotos das profissionais que trabalhavam no local, em trajes mínimos e poses sensuais:

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Na internet, muitas garotas que trabalham nas clínicas também oferecem serviços sexuais de forma autônoma
As garotas costumam entregar 40% do valor cobrado pela massagem aos donos das clínicas
Todas as meninas são orientadas a manter os serviços da forma mais sigilosa possível
Uma denunciante procurou o Metrópoles para revelar um esquema de exploração sexual e ameaças contra garotas de programa
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Os serviços da clínica eram anunciados na internet

Reprodução
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Na internet, muitas garotas que trabalham nas clínicas também oferecem serviços sexuais de forma autônoma

Divulgação
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As garotas costumam entregar 40% do valor cobrado pela massagem aos donos das clínicas

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Todas as meninas são orientadas a manter os serviços da forma mais sigilosa possível

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Uma denunciante procurou o Metrópoles para revelar um esquema de exploração sexual e ameaças contra garotas de programa

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Nas ruas próximas ao shopping, cartões da "clínica" eram distribuídos: "Massagens sensuais"

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Clínica funcionava no sexto andar do Conjunto Nacional

Rafaela Felicciano/Metrópoles
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Placa indica a localização da clínica

Rafaela Felicciano/Metrópoles

Prostituição no centro de Brasília
Primeiro shopping do Centro-Oeste e segundo do Brasil, a história do Conjunto Nacional está intimamente ligada à prostituição na capital federal. Desde a inauguração, na década de 1970, o centro atrai garotas e garotos de programa, que costumam rondar à noite pelos setores de Diversões Norte e Sul – neste caso, concentrando-se no Conic.

Construído em três etapas, finalizadas em 1971, 1974 e 1977, o Conjunto Nacional foi tombado como Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), mas sempre esteve às voltas com os problemas trazidos pela prostituição, como o consumo e tráfico de drogas.

“A prostituição no shopping sempre foi algo muito presente há 30 anos. Mas só agora a polícia resolveu combater o problema”, contou um lojista que trabalha no centro há 29 anos e que pediu para não ter o nome divulgado.

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