Polícia investiga grupo acusado de tentar obter vantagem ilícita no GDF
Inquérito indica que empresário do Paraná e blogueiro local estariam juntos para fazer lobby por contrato irregular na pasta de Economia
atualizado
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A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) abriu inquérito após receber denúncia sobre a existência de possível organização criminosa que supostamente obtinha vantagens ilícitas do Governo do Distrito Federal (GDF). O caso envolve contrato de R$ 30 milhões, cujo objeto é a criação de um banco de dados para a Secretaria de Economia.
Depoimentos que correm em sigilo citam o vice-governador Paco Britto (Avante) como intermediário para facilitar a liberação de pagamentos à empresa pelos serviços prestados – mas questionados pela pasta – e para garantir a esperada renovação do acordo com o governo, o que não ocorreu. O caso está sendo apurado pelo Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Decor).
O inquérito tem dois alvos. Um deles é o empresário Luiz Sérgio Wosniak, dono da empresa paranaense Digidata, contratada para fazer o banco de dados. O outro é o jornalista Darione Silva, mais conhecido como Donny Silva, filho do ex-conselheiro Maurílio Silva, do Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF).
As investigações visam identificar se a dupla articulou para receber parcelas de serviços questionados pela área técnica da Secretaria de Economia. Segundo as apurações, Donny teria sido contratado para atuar como espécie de preposto, para defender os interesses do empresário. Os dois negam (veja abaixo).
Em 2018, na gestão de Rodrigo Rollemberg (PSB), a empresa de Wosniak venceu um contrato de informática, por valor superior a R$ 30 milhões, com o objetivo de criar de banco de dados para aquela gestão da extinta Secretaria de Fazenda, hoje rebatizada de Secretaria de Economia.
A secretaria argumenta que os serviços contratados não foram entregues e, por isso, teve início a rescisão e a suspensão dos pagamentos. Com a negativa, o empresário tentou reverter a situação na Justiça, mas tanto o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) quanto a Vara de Fazenda Pública do DF, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), entenderam que a rescisão foi correta.
Entenda
Ao tomar conhecimento de que haveria entraves para receber R$ 3 milhões (valor restante do contrato em curso), o empresário acatou sugestão de conhecidos para procurar os serviços de Donny Silva. Por orientação do blogueiro, o empresário paranaense desembarcou em Brasília para tratar do assunto pessoalmente.
Durante o depoimento, Wosniak relatou que, após ter desembarcado, foi levado para uma reunião com o vice-governador Paco Britto (Avante). O momento foi testemunhado por outras pessoas, incluindo Donny Silva, responsável pela articulação da agenda com o número dois do Palácio do Buriti. A reunião ocorreu na residência oficial da vice-governadoria, na QI 5 do Lago Sul, bairro nobre da capital.
O testemunho também indica que Donny Silva teria se identificado como “assessor de imprensa” de Paco Britto, o que teria facilitado o encaixe na agenda extra oficial. Procurado pelo Metrópoles, Paco desmentiu a ligação com o blogueiro (veja abaixo). No mesmo depoimento, Wosniak confirmou ter celebrado acordo verbal prévio, com o objetivo de remunerar o jornalista futuramente, caso as tratativas obtivessem êxito.
Mesmo com as investidas que chegaram ao substituto oficial do chefe do Executivo distrital, a Secretaria de Economia manteve a decisão de finalizar o negócio com a Digidata e glosar o valor questionado. A partir de então, conforme as investigações, a página pessoal mantida por Donny Silva passou a publicar conteúdos para atacar integrantes da atual gestão da pasta.
Ao tomar conhecimento do teor das notas, a assessoria jurídica da pasta apresentou queixa-crime contra o comunicador e também levou o caso ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). Um dos crimes previstos é o de stalking.
Darione de Melo Silva foi indiciado, anteriormente, por falsidade ideológica e crime contra a honra. Ele foi apontado no inquérito relatado pela Delegacia Especial de Repressão a Crimes Cibernéticos (DRCC) como responsável por manter o site De Olho no Poder, usado para publicar ataques contra o governador Ibaneis Rocha (MDB) e outros integrantes do GDF.
Ouça trechos do depoimento do empresário:
Reunião
Em depoimento aos policiais, Wosniak relatou ter viajado a Brasília por sugestão do blogueiro e que, ao aterrissar, foi levado por um motorista para um encontro com o vice-governador, Paco Britto (Avante), e outros convidados, incluindo Donny Silva. A reunião ocorreu na residência oficial da vice-governadoria, na QI 05 do Lago Sul, bairro nobre da capital.
Durante o testemunho, o empresário afirmou à PCDF que Donny Silva teria se identificado como “assessor de imprensa” do número dois do Palácio do Buriti, o que justificaria a reunião. Ao Metrópoles, Paco desmentiu a ligação com o blogueiro (veja abaixo).
No mesmo depoimento, Wosniak confirmou ter celebrado acordo verbal prévio, com o objetivo de futuramente remunerar o jornalista, no caso de êxito na continuidade do contrato. Não houve, contudo, valores fechados para esse pagamento.
Apesar das investidas que chegaram à cúpula do Palácio do Buriti, a Secretaria de Economia manteve a decisão de finalizar o negócio com a Digidata e glosar as parcelas pendentes. A partir de então, conforme as investigações, a página pessoal mantida por Donny Silva passou a publicar conteúdos para atacar integrantes da atual gestão da pasta.
Ao tomar conhecimento do teor das notas, a assessoria jurídica da pasta apresentou queixa-crime contra o comunicador e também levou o caso ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). Um dos crimes previstos é o de stalking.
Darione de Melo Silva foi indiciado, anteriormente, por falsidade ideológica e crime contra a honra. Ele foi apontado no inquérito relatado pela Delegacia Especial de Repressão a Crimes Cibernéticos (DRCC) como responsável por manter o site De Olho no Poder, usado para publicar ataques contra o governador Ibaneis Rocha (MDB) e outros integrantes do GDF.
O que dizem os envolvidos
Acionado pela reportagem, o vice-governador Paco Britto afirmou que não conhecia o empresário Luiz Sérgio Wosniak e que o recebeu a pedido de Donny Silva. O número dois do Palácio do Buriti afirmou que a reunião teve testemunhas e que, em nenhum momento, posicionou-se de forma favorável ao pedido. Ele também desmentiu que mantivesse relação profissional com o blogueiro.
“Ele [Donny Silva] pediu uma audiência e levou o empresário [Wosniak] para a residência oficial, quando relataram o problema. Eu afirmei que, se a empresa fizesse a parte técnica, eu falaria com o secretário de Economia. Mas nada foi apresentado pelo empresário e não levei o caso adiante. Defendo a investigação e, se houver culpados, que sejam exemplarmente punidos”, destacou.
Também procurado, Donny Silva negou as acusações e disse que não mantém ligação com Luiz Sérgio Wosniak.
“Não tenho ligação com o empresário. Recebi a denúncia, assim como recebo de várias fontes. Ele tentou contato com secretário e não conseguiu. Não temo investigação nenhuma. Esse negócio de stalking é mentira, o que fiz foi procurar os meios legais para ser ouvido”, garantiu.
Já o empresário Luiz Sérgio Wosniak também descartou a suposta existência de uma organização criminosa e disse ter conhecido Donny Silva, pessoalmente, durante a reunião na residência oficial do vice-governador.
“Nunca fiz isso [perseguição] na vida e não faria agora. Tenho 67 anos, minha empresa tem mais de 35. Nunca tive encrenca com órgão público nenhum. Dos 600 dias, tinha 360 dias pra fazer o serviço. Não me deram ordem de serviço, não tinha gente para aceitar o serviço, não tinha software para aceitar o serviço. Na hora de pagar, suspenderam o contrato sem motivação e alegam que atrasei. A minha pretensão é continuar o trabalho que vai ajudar muito o pessoal de Brasília”, defendeu.
Em nota, a Secretaria de Economia afirmou que “sempre envidará todos os esforços para preservar o interesse público e combater organizações criminosas”.
Colaboraram Celimar de Meneses e Caio Barbieri