Polícia desarticula quadrilha que cobrava até R$ 6 mil para usar dublês na prova prática do Detran-DF
O envolvimento de servidores do departamento é investigado. Já há provas de que funcionários de autoescolas e clínicas participavam do esquema
atualizado
Compartilhar notícia
Uma quadrilha que fraudava exames do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF) foi desarticulada na manhã desta quarta-feira (24/2). O grupo cobrava de R$ 3 mil a R$ 6 mil para garantir a aprovação de condutores na prova prática e escrita para tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). A operação, batizada de Análogo, foi realizada pela Coordenação de Repressão aos Crimes contra o Consumidor, à Ordem Tributária e a Fraudes (Corf). A fraude consistia em substituir o candidato a tirar a carteira por dublês, ou seja, pessoas de aparência física semelhante.
Dez mandados de prisão, 12 de condução coercitiva e 22 de busca e apreensão foram cumpridos em Brazlândia, Ceilândia e Taguatinga. “Os motoristas que pagaram para passar na prova também foram ouvidos e podem responder por falsidade ideológica”, explicou o delegado-chefe da Cord, Jeferson Lisboa.
Segundo Lisboa, funcionários de autoescolas e de clínicas fazem parte da quadrilha. Eles monitoravam candidatos que reprovavam com frequência nos exames e ofereciam o serviço. A propaganda da atividade criminosa também era feita boca a boca. Os agentes fizeram buscas na clínica São Gabriel, em Taguatinga, e na autoescola Trânsito Livre, em Ceilândia. A reportagem tentou contato com as empresas, mas não obteve resposta até esta publicação.
“Eles eram tão organizados que mantinham um banco de dados de pessoas com as mesmas características dos alunos. No dia da prova do Detran, o integrante da quadrilha fazia os testes e garantia a aprovação”, detalhou o delegado.
A polícia não descarta a possibilidade de envolvimento de servidores do órgão. “As investigações continuam. O próprio Detran tem nos ajudado a esclarecer esse esquema”, destacou Jeferson Lisboa. O líder do grupo foi identificado pela polícia como Adriano Reis Cotts Sá, 35 anos. Ele é funcionário da autoescola. As vítimas, segundo a polícia, pagavam o valor cobrado pela quadrilha em dinheiro.
Um fiscal que prestava serviço para o Detran também foi detido. “Eles não são vinculados ao órgão. São servidores públicos que obedecem uma série de requisitos para exercer a função”, explicou o diretor-geral do Detran, Jayme Amorim.
A identidade dos clientes localizados pela policia seguirá para o Detran que poderá cancelar a habilitação dos envolvidos. “O documento não é falso. A maneira que eles obtiveram a CNH que é ilícita”, esclareceu o delegado.
Os suspeitos foram autuados por organização criminosa e falsidade ideológica. Se condenados podem pegar até 12 anos de reclusão. Durante as prisões foram apreendidas, além de computadores e documentos, duas armas de fogo.
Biometria
Para evitar fraudes, uma portaria do Detran estabelece a adoção de sistemas de biometria (identificação eletrônica por meio das digitais) e câmeras de monitoramento nos carros de autoescolas.
Até o segundo semestre deste ano, o candidato que quiser tirar carteira terá as aulas filmadas e deverá se identificar por meio do cadastro biométrico. “O procedimento de biometria estará valendo também durante as provas práticas”, ressaltou Amorim.