PMs presos por tortura estão com ansiedade e angústia, diz psicóloga
Psicóloga visitou um dos 14 PMs presos suspeitos de torturarem um soldado. Profissional fala em ansiedade e alterações de sono
atualizado
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Os policiais militares que foram presos por suspeita de agredir e torturar um colega de farda durante o curso operacional da corporação estão com oscilações de humor e sintomas de ansiedade e angústia. A constatação foi feita por uma psicóloga da Associação Nacional de Policiais e Bombeiros Militares (Anaspol), que visitou, nesta quarta-feira (1º/5), um dos militares presos.
Segundo Raíssa Andrade, o PMs está com alterações de apetite e sono, além dos sintomas já citados.
Em um vídeo postado nas redes sociais, a psicóloga afirma que “dentro de qualquer curso operacional da PM o objetivo é formar soldados para agirem em situações extremas. Se não conseguir, pode se retirar”.
Ela ainda compara a situação do curso de formação com relacionamentos amorosos.
“Venho trazer esse questionamento, essa reflexão. Por que nos mantemos em situações em que observamos que não conseguimos seguir em frente. Se realmente aconteceu o que o depoente relatou, por que ele não se retirou?”, questiona.
Veja o vídeo:
Ao Metrópoles a psicóloga relatou que a situação, no geral, é crítica. “Precisamos cuidar da saúde mental desses militares e de seus familiares”, disse.
“Estou à disposição para prestar os meus serviços para os policiais que estão detidos diante dessa situação, levando em consideração, que o quadro de saúde da PM não disponibiliza um psicólogo para acompanhá-los”, completou.
PMs presos
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) determinou, na última segunda-feira (29/4), a prisão temporária de 14 policiais militares. Os PMs são suspeitos de agredir e torturar um colega de farda durante o curso para o Batalhão de Choque (Patamo).
A determinação se deu após o soldado Danilo Martins, 34 anos, denunciar que foi agredido por um grupo de policiais militares, em 22 de abril, ao participar do curso de Patamo, do BPChoque.
O participante contou que as agressões começaram após ele se recusar a desistir da formação. Os presos estão detidos no 19º Batalhão da Polícia Militar (BPM), no Complexo Penitenciário da Papuda.
Confira quem teve a prisão decretada:
- Marco Aurélio Teixeira, segundo-tenente
- Gabriel Saraiva, segundo-tenente
- Daniel Barboza, subtenente
- Wagner Santos, primeiro-sargento
- Fábio de Oliveira, segundo-tenente
- Elder de Oliveira Arruda, segundo-sargento
- Eduardo Ribeiro, segundo-sargento
- Rafael Pereira Miranda, terceiro-sargento
- Bruno Almeida, terceiro-sargento
- Danilo Lopes, cabo
- Rodrigo Dias, soldado
- Matheus Barros, soldado
- Diekson Peres, soldado
- Reniery Santa Rosa, capitão
Defesas
Por meio de nota, a corporação informou que, durante as atividades do curso de Patrulhamento Tático Móvel, em 22 de abril, um participante pediu desligamento da formação, após passar pela etapa inicial e pelos exercícios físicos previstos.
“Apesar de sair do batalhão alegando que estava bem, o referido aluno procurou atendimento hospitalar apresentando quadro compatível com rabdomiólise e alegando ter sido agredido”, comunicou.
A Corregedoria da PMDF instaurou inquérito policial militar para apurar o caso. “O coordenador do curso [Marco Aurélio Teixeira] solicitou desligamento voluntário [das atividades], para que as apurações transcorram da forma mais transparente possível, acrescentou a nota da corporação.
Advogado responsável pela defesa de 12 dos PMs presos, Marcelo Almeida afirmou que, em momento algum, “os referidos policiais militares foram notificados para prestar quaisquer tipos de esclarecimentos sobre os fatos objeto da operação, seja pelo Departamento de Controle e Correição da PMDF ou mesmo pelo MPDFT”.
O advogado também disse que os clientes foram “surpreendidos”, na segunda-feira (29/4), “com as respectivas prisões, razão pela qual a defesa técnica buscará levar aos autos [do processo] as versões deles, para que, então, o Poder Judiciário possa aplicar o direito da melhor forma”.