“PMDF vai parar”: sem redução do interstício, militares espalham faixas de protesto
Os registros foram feitos nesta sexta-feira (18/12) na Estrada parque Taguatinga (EPTG), Ceilândia e Núcleo Bandeirante
atualizado
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As ruas de algumas regiões do Distrito Federal amanheceram com faixas de protesto. Policiais militares ameaçam fazer a chamada Operação Legalidade, quando os militares respeitam a velocidade máxima das vias, respeitam as sinalizações e, com isso, levam mais tempo para atender as ocorrências. O movimento também é conhecido como operação tartaruga. Os registros foram feitos nesta sexta-feira (18/12) na Estrada parque Taguatinga (EPTG), Ceilândia e Núcleo Bandeirante.
Os militares aguardavam, até este mês, um aceno positivo do Governo do DF (GDF) para a redução do interstício – tempo entre as promoções – e a consequente progressão na carreira. Caso ocorresse em 2020, pelo menos 2.181 praças, entre soldados, cabos e sargentos, ganhariam novas patentes.
Com a negativa, policiais insatisfeitos seguem ameaçando tirar o pé do acelerador durante o atendimento de ocorrências. O Metrópoles teve acesso ao conteúdo de conversas travadas em grupos fechados de WhatsApp, em que militares demonstram insatisfação com o cenário e prometem seguir para as ocorrências apenas na velocidade da via.
Em vários grupos, os combatentes questionam a viabilidade necessária para conceder a redução de interstício. As promoções gerariam impacto financeiro de R$ 124 milhões ao Palácio do Buriti, mas serviriam, na avaliação dos militares ouvidos pela reportagem, como combustível para manter a tendência de queda em boa parte dos índices de criminalidade registrados nas 32 regiões administrativas do DF.
Sem abordagem
Atuando na ponta da aplicação do policiamento ostensivo, integrantes das unidades especializadas nutrem o mesmo sentimento de frustração pela falta das promoções. “O descontentamento é geral e a atitude é a mesma em quase todos os batalhões. As abordagens, que muitas vezes resultam na apreensão de armas e drogas, irão se tornar cada vez mais escassas”, ameaçou um dos policiais ouvidos pela reportagem.
Os praças da PM questionam que colegas chegaram a permanecer por até 18 anos na mesma graduação sem alcançar a progressão na carreira. Quando a promoção ocorre de soldado para cabo, o aumento no contracheque se restringe a R$ 160 líquidos. Vários militares ouvidos pelo Metrópoles reclamaram da situação e compararam a realidade da PMDF à de outras forças de segurança, como o Corpo de Bombeiros e a Polícia Civil (PCDF).
Em 13 anos, um agente da PCDF alcança o topo da carreira, enquanto um bombeiro militar recebe a primeira promoção em nove meses. “Em 10 anos, a maioria das carreiras do GDF já atingiu pelo menos 50% da progressão funcional, sendo que a Polícia Civil, quase 100%”, afirmou um dos PMs.
Procurada, a Caserna, associação regulamentada que reúne os praças da PMDF, ressalta que a corporação, entre todas as forças de segurança do DF, é a única que não possui regramentos justos de promoção. A entidade, inclusive, não defende a operação tartaruga. “Nos demais órgãos, antes mesmo de entrar, o agente público já sabe quando ocupará o último posto de sua carreira. Na PM, principalmente com relação aos praças, em sua grande maioria, nunca se chega ao topo da pirâmide. Muitos se aposentam como terceiro-sargento”, disse o presidente em exercício da entidade, Carlos Victor Fernandes Vitório.
Segundo Vitório, neste ano, mesmo com parecer positivo dos órgãos constitucionais, os gestores têm utilizado a argumentação de que é impossível reduzir o interstício. “O policial militar, desde o momento inicial da pandemia, sem se acovardar, foi pro fronte de batalha, mesmo sem a testagem devida da Covid-19. Vidas militares e de seus pares foram perdidas por ocasião da doença. Mesmo com tamanho sacrifício, ao que parece, há tendência ao não oferecimento de dignidade humana, por meio da redução do interstício”, reclamou.
A reportagem procurou o Comando-Geral da PMDF para que se posicionasse sobre a viabilidade da redução de interstício, mas até a última atualização desta reportagem, a corporação não havia se manifestado.