PM que atirou em homem já foi preso por tortura em curso de formação
Danilo Ferreira Lopes é sargento da PMDF e possui histórico de prisões preventivas por tentativa de homicídio e tortura de soldado em 2024
atualizado
Compartilhar notícia
O sargento da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) Danilo Ferreira Lopes (foto em destaque) possui histórico de prisões por crimes supostamente cometidos por ele. O policial militar foi preso após denúncias de envolvimento na tortura de um soldado da corporação em abril último. Ele voltou às celas quatro meses depois.
No último domingo (18/8), Lopes foi detido após atirar contra homem em uma boate. Depois, com a vítima socorrida em um hospital, ele tentou invadir a unidade de saúde onde o alvo dos disparos se encontrava.
A tentativa de homicídio ocorreu no início da manhã de domingo. O policial militar foi preso em flagrante por ameaça e duas tentativas de homicídio com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido.
Na ocasião, a coluna Na Mira, do Metrópoles, apurou que Danilo teria atirado contra um homem em uma boate. A vítima foi socorrida e levada ao Hospital Regional de Taguatinga (HRT). O sargento, então, teria forçado a entrada para atentar novamente contra a vida do rapaz.
A equipe do hospital chamou a polícia. Quando foi detido, o sargento estava com sinais de embriaguez e precisou ser algemado e detido. O militar estava com uma pistola 9 mm com 16 munições e teria confirmado que atirou contra a vítima em uma festa.
O juiz do Núcleo de Audiência de Custódia (NAC) decidiu, nessa segunda-feira (19/8), converter a prisão em flagrante de Danilo Ferreira Lopes para preventiva. O sargento da PMDF segue preso.
Acusações de tortura
Em abril, Danilo Ferreira Lopes foi um dos 14 policiais militares presos temporariamente, suspeitos de agredir e torturar um colega de farda durante o curso de formação do Batalhão de Choque (Patamo).
Segundo depoimento prestado pela vítima à Corregedoria da PMDF e à Promotoria de Justiça Militar do DF, um coordenador do curso de Patamo o retirou no momento da apresentação dos uniformes e itens do curso. O superior teria dito que o soldado “não formaria no curso e que ele não mediria esforços para fazer com que ele desistisse, nem que fosse na base da trairagem”.
“Ainda falou ao declarante que o desligaria do curso por deficiência técnica ou lesionado”, completa o depoimento. O soldado diz que se recusou a desistir. Com isso, o tenente responsável pelo curso teria dito aos outros praças: “Estão vendo esse merda aqui? Ele não vai formar e quem ousar ajudá-lo também será desligado do curso”.
Depois disso, tiveram início as torturas e agressões. O tenente mandou a vítima ir para uma espécie de caixote de concreto onde o depoente foi obrigado a ficar em pé por cerca de 1h30 e o proibiu de participar das atividades do dia.
Ainda de acordo com o depoimento, os soldados e o tenente responsável pelo curso teriam xingado e jogado gás lacrimogênio nos olhos do soldado. “[…] Ato contínuo o depoente foi molhado, enquanto segurava a tora de madeira sobre a cabeça com os braços esticados, sendo que o tenente disse que, quando o depoente secasse, ele voltaria e queria as fichas assinadas.”
“O tenente voltou ao local e o obrigou a assinar uma das fichas, qual seja, a ficha de responsabilização e que, após assinar, o tenente o agrediu com um pedaço de madeira e ordenou que ele corresse em volta do BPChoque cantando os seguintes dizeres: ‘Eu sou um fanfarrão, eu gosto de atenção… eu sou o coach do fracasso, eu me faço de palhaço… eu envergonho a minha família, eu envergonho a minha unidade… eu sou carente e ninguém gosta de mim’.
“Era minha missão”
“Enquanto corria e cantava, o tenente, a todo momento, o agredia com o pedaço de madeira na região da panturrilha e dos glúteos e proferia ofensas ao depoente”, detalha o documento. Além disso, o aluno do curso de formação afirmou às autoridades que recebia os chutes e era obrigado a ficar em posição de flexão enquanto levava pauladas na cabeça.
Após as agressões e humilhações, a vítima optou por desistir do curso. Nesse momento, ele saiu do meio dos colegas e foi ao banheiro se trocar. “Após desistir, o tenente afirmou: ‘Era minha missão te desligar do curso. Muita gente me pediu para te desligar. Volta ano que vem que você não vai receber essa carga’”, completa o documento.
No início de maio, o desembargador plantonista Sandoval Oliveira, da 1ª Turma Criminal da Justiça do Distrito Federal, deferiu o pedido de habeas corpus protocolado pela associação Caserna e revogou a prisão temporária dos 14 policiais militares detidos por denúncias de tortura.
O Metrópoles procurou a defesa do sargento Danilo Ferreira Lopes para solicitar eventuais esclarecimentos sobre as acusações por tentativa de homicídio e tortura. Não houve retorno até a última atualização desta reportagem. O espaço segue aberto para eventuais manifestações.