“PM prendeu um inocente”, diz família de empresário preso no lugar do irmão
Em texto divulgado para a imprensa, mulher fala sobre o alívio de ter o marido de volta, mas ressalta que a prisão deixou marcas
atualizado
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A mulher do empresário Milton Baldez de Castro, 48 anos, preso no lugar do irmão, buscou o marido na manhã desta quarta-feira (3/2). Acompanhada do filho de 19 anos, Fátima Baldez pôde, enfim, abraçar o marido. A família aguardou a soltura na porta do Complexo Penitenciário da Papuda.
Após três dias de angústia, a Justiça do Maranhão expediu o alvará de soltura, colocando Milton em liberdade. O tribunal reconheceu que houve um equívoco na identificação do verdadeiro autor dos crimes, que se trata do irmão de Milton Gledilson Tonni Baldez Castro.
Abalado com a situação, Milton abraçou a família, mas não conseguiu conversar muito. Passou mal e precisou ser levado ao hospital.
Em texto divulgado para a imprensa, Fátima comentou sobre o alívio de ter o marido de volta, mas ressaltou que a prisão deixou marcas na família. Milton foi preso, no último sábado (30/1), por policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope), no condomínio onde mora, em Águas Claras. A cena ficou marcada na memória da família, que não tem passagens pela polícia.
“Procurando fazer o trabalho da polícia judiciária, sem treinamento para isso, o Batalhão de Operações Especiais foi remexer no banco de mandados de prisão e acabou encontrando logo o que estava com o nome falso e prendeu um inocente, honesto e trabalhador”, desabafou a família.
A mulher reforçou que Milton Baldez sofreu um erro judicial, porque outra pessoa praticou um crime no Maranhão e usou os dados dele quando presa em flagrante, mas a falsidade não foi corrigida nas fase policial e processual.
Em nota, a PMDF informou que, “durante a abordagem, os policiais consultaram o Banco Nacional de Mandados de Prisão do Conselho Nacional de Justiça e, com os dados repassados pelo próprio detido, verificaram que havia um mandado de prisão expedido em São Luís do Maranhão. Diante disso, o homem foi apresentado na 21ª Delegacia de Polícia (Taguatinga)”.
Memória
O autor do roubo do qual Milton é acusado morava em São Luís (MA) e acabou preso em 2018. Aos policiais maranhenses, o criminoso forneceu o nome do irmão, que mora em Brasília. O processo, então, foi instaurado com base na identidade falsa.
Dias após a prisão em flagrante de Gledilson, o empresário soube da fraude com o nome dele e registrou ocorrência na 3ª Delegacia de Polícia (Cruzeiro). Segundo a defesa de Milton, ele também requereu a correção das informações à Justiça do Maranhão.
“Ele é trabalhador. Foi preso de maneira humilhante, e as humilhações não param. Ainda por cima, ele é do grupo de risco. A sensação é de dor, revolta”, diz a esposa de Milton, Fátima Baldez, 47 anos
Milton e Fátima são casados há 25 anos e têm um filho de 9. “Milton é pai exemplar, dedicado à família dele. Um ser humano ímpar”, afirma.
Humberto Martins Custódio, 41, reforça as afirmações. Amigo de Milton de longa data, o coordenador de marketing destaca o caráter bondoso do homem, que afirma ter sido preso injustamente. “Ele chorou na morte do irmão e achou que esse pesadelo acabaria, mas não foi o caso”, completa.
Morto em tiroteio
Durante depoimento à 3ª DP, Milton detalhou que, em 13 de fevereiro de 2018, recebeu a ligação de uma prima, informando que Gledilson Tonni, após ter sido detido por policiais do 6º Batalhão de Polícia Militar da Cidade de São Luís (MA), forneceu o nome de Milton aos PMs.
A prisão foi alvo de reportagens locais. Os jornais estampavam a foto de Gledilson (veja abaixo), mas divulgaram o nome de Milton. O site oficial da Secretaria de Segurança do Maranhão publicou a foto com a identificação errada. Uma postagem afirmava que Milton Castro seria membro da facção Comando Vermelho, de acordo com informações da polícia local.
Gledilson Tonni foi solto dias após a prisão em flagrante, com uso de tornozeleira eletrônica. No entanto, o dispositivo não se mostrou suficiente para que o homem parasse de cometer crimes. Ele envolveu-se, em 20 de fevereiro do mesmo ano, em outro assalto, e morreu baleado em troca de tiros com a polícia local (veja registro abaixo).
Entretanto, os processos referentes aos supostos crimes cometidos por Milton no Maranhão continuaram tramitando, o que culminou na prisão do empresário, em Brasília.