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Preso após 8/1, PM que faltou CPI citou Carla Zambelli como defensora

Única parlamentar indiciada em relatório da CPMI, Zambelli foi citada, em vídeo, por PM preso após 8/1

atualizado

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Manifestantes de verde e amarelo em cima de caminhão discursando. Carla Zambelli com microfone na mão
1 de 1 Manifestantes de verde e amarelo em cima de caminhão discursando. Carla Zambelli com microfone na mão - Foto: Reprodução

O major da reserva da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) que liderou o acampamento golpista em frente ao Quartel-General do Exército já chegou a citar a deputada Carla Zambelli (PL-SP) como defensora do movimento. Cláudio Mendes dos Santos, 49 anos, hoje preso, é peça-chave da mobilização do QG, mas faltou ao depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do DF na semana em que Zambelli teve pedido de indiciamento feito pela CPMI do Congresso Nacional.

Enquanto estava no QG, liderando a manifestação a favor de um golpe, o major Cláudio comentou sobre ter aberto o espaço do carro de som principal no acampamento para alguns políticos.

“Abrimos algumas exceções para pessoas que sofreram. Porque nós temos também ao nosso lado. Temos aqueles também que nos defendem. O deputado [Daniel] Silveira, a própria Carla Zambelli. São pessoas que também estão sofrendo muito com perseguição, e outros aí”, afirmou o golpista preso, em vídeo de 27 de novembro de 2022.

 

O major da reserva da PMDF prestaria esclarecimentos aos deputados distritais nessa última quinta-feira (19/10), mas passou mal, foi levado à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de São Sebastião e a sessão foi desmarcada. Dias antes, a deputada federal Carla Zambelli teve nome registrado como a única parlamentar que aparece na lista de pedidos de indiciamento da senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da CPMI do 8 de Janeiro.

Zambelli

Gama pediu que a deputada fosse responsabilizada pelos crimes de associação criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de estado.

“É inegável que a deputada federal Carla Zambelli, abusando de suas prerrogativas parlamentares, difundiu informações falsas a respeito do processo eleitoral. Entretanto, seu fim maior não era o de simplesmente questionar as urnas eletrônicas, mas se utilizar da aparente dúvida maliciosamente incutida na população a respeito da lisura do pleito para que o plano golpista de Jair Messias Bolsonaro – do qual sempre fez parte – fosse colocado em prática”, escreveu Eliziane.

Zambelli discursou no QG em 24 de novembro de 2022. Na ocasião, ao lado do marido e de Cláudio Mendes, ela levou bolsonaristas ao delírio com um discurso que dizia estar em andamento uma ação que iria “mexer com as estruturas do Senado”.

“Enquanto você estão aqui, saibam que existem pessoas trabalhando, às vezes nos bastidores, às vezes caladinho, mas a gente está trabalhando. E eu não vou descansar um segundo enquanto a gente não conseguir nossa liberdade.”

Um vídeo postado na página do Instagram de Antonio Aginaldo, esposo de Zambelli, mostra Cláudio discursando no QG antes da fala de Zambelli. Para passar instruções aos manifestantes, o major falava ao microfone e pedia para os bolsonaristas repetirem cada frase.

Quem é Cláudio Mendes

O militar da reserva da PMDF usava o título para endossar discursos a favor de uma intervenção. Era um dos líderes que mais discursava no palco improvisado montado em um caminhão no QG de Brasília, e participantes do ato disseram que ele teria ensinado táticas de guerrilha no acampamento.

O PM se apresentava como major Cláudio Santa Cruz e se vangloriava por ter sido do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). Nas redes, postava vídeos dando um tom de guerra para ações contra o resultado das urnas.

Dois homens armados com uniforme da PMDF
Passagem pelo Exército e pela PMDF eram citadas pelo major no QG para gerar credibilidade entre manifestantes

“Vem para rua, vem para Brasília, vamos lotar tudo. Agora é QG, é rua, é rampa… Vai ter brasileiro subindo em pé de árvore, vai ter que ser assim”, convocou, em um dos vídeos. Em outro, afirmou que “o Brasil está em combate, está em luta”, e chamou “milhares de pessoas” para ocupar as ruas da capital.

Em plena pandemia, em 2020, ele também se gravava saindo de casa, fazendo exercício físico na rua, em meio ao lockdown, e elogiando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “Essa corja de canalhas não vai levar o país no grito, chefe. O país precisa trabalhar, o senhor está certinho. Força, presidente!”.

Fontes ouvidas pela reportagem denunciam ainda que o oficial ganhava dinheiro com os atos bolsonaristas no QG. O Metrópoles flagrou o major da reserva incentivando um golpe de Estado contra o resultado das urnas por diversas vezes.

No dia da posse de Lula (PT), Cláudio foi figura central de uma discussão entre os próprios apoiadores de Jair Bolsonaro, que reclamaram de mais um pedido de dinheiro feito pelo major e o chamaram de covarde. “Só quer saber de Pix”, acusou um homem. Relembre:

Segundo o Portal da Transparência do Governo do Distrito Federal, o salário dele é de R$ 20,7 mil. Nas redes sociais, que ele excluiu depois dos ataques bolsonaristas na Praça dos Três Poderes, o militar ainda informava que era instrutor de tiro.

“Encher a Esplanada”

Dias antes do atentado, ele esteve em um programa de uma rádio comunitária fazendo convocações e pedindo cumplicidade de policiais contra manifestantes.

“Quero fazer um apelo aos meus colegas policiais. Eu sou um comandante policial, um major policial, estou na reserva, mas pelo amor de Deus. Polícia Federal, vocês contam com nosso respeito, não se vendam, não deixem alguém fazer vocês rasgarem a Constituição, não pratiquem prisões desleais. Da mesma forma a Polícia Civil.”

Durante a participação no programa, ele ainda diz que “o presidente foi bem claro ao dizer que as Forças Armadas estão nos apoiando”, e instiga cada pessoa que votou em Bolsonaro a “encher o QG, encher a Esplanada”.

A rádio fomentou discursos golpistas por mais de uma hora, pedindo até Pix para Renan Sena, bolsonarista que viria a ser preso semanas depois pela Polícia Federal por participação nos ataques à democracia.

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