PM apreende objetos usados em confronto no Assentamento 26 de Setembro
Polícia Militar localizou um galpão utilizado por manifestantes para guardar estilingues, bolas de gude e pregos, usados como munição
atualizado
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O 10º dia de operações, deflagradas pela Secretaria DF Legal no Assentamento 26 de Setembro, na região de Taguatinga, terminou por volta das 16h desta quinta-feira (27/8) e, mais uma vez, houve confronto entre moradores do local e a calavaria da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), segundo a corporação.
Apesar dos confrontos, não há registro de feridos. Nessa quarta (26/8), um policial civil foi atingido na perna, por um disparo de arma de fogo, efetuado por um manifestante, que está foragido.
Em um vídeo, divulgado pela Polícia Militar, é possível ver alguns moradores do assentamento convocando outros manifestantes para tentar impedir a ação de derrubada. Nas imagens é possível ver um rapaz, que utiliza um estilingue para lançar objetos contra os veículos da PM e do GDF que chegam à invasão. Segundo a PM, são bolinhas de gude utilizadas como munição.
Veja o vídeo:
Durante a manhã, um galpão dentro do Assentamento 26 de Setembro foi encontrado pelos militares, que utilizaram o helicóptero da corporação para identificar o local. Segundo a PM, era lá que os manifestantes guardavam pneus e toras de madeira, utilizados para fazer barricadas nas ruas da comunidade, além de pregos, bolinhas de gude e estilingues, usados como munição contra os militares.
Outro ônibus da viação São José foi incendiado nas proximidades do assentamento, na tarde desta quinta-feira (27/08). Este é o segundo coletivo atacado só esta semana, supostamente por manifestantes revoltados com a ação do GDF na invasão.
Em vídeo, que circula nas redes sociais, uma mulher narra os acontecimentos. “Expulsaram a gente de dentro do baú, ainda em movimento. Jogaram coisas na frente para parar e nos obrigaram a sair do ônibus. Estamos aqui tentando salvar a nossa pele”, disse a mulher.
Assista ao vídeo:
Nessa quarta (26/8), nas proximidades de onde houve a derrubada, na via Estrutural, o primeiro coletivo foi incendiado. Havia 50 passageiros dentro do ônibus, que seguia da Asa Norte para Ceilândia, na hora em que o fogo começou, mas todos conseguiram deixar o local antes que as chamas se alastrassem. Os bombeiros atuaram na ocorrência e nenhum passageiro ficou ferido.
O motorista do coletivo foi levado a uma delegacia para ser ouvido pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) e dar informações sobre o ocorrido.
Balanço da operação
Ao Metrópoles, o DF Legal disse que, na ação desta esta quinta-feira, foram demolidas três edificações de alvenaria, três galpões metálicos, cercas, 300 metros lineares de muros de alvenaria e 100 metros lineares de cercamento de zinco, retirado de uma área de 40 metros quadrados.
Desde o início da operação, em 18 de agosto, 344.400 metros quadrados de área foram desocupadas na região, de acordo com a pasta. Não há prazo para o término das ações.
De acordo com a a secretaria, as ações no Assentamento 26 de Setembro estão restritas à edificações em fase inicial de construção e de cercamentos, muros, guaritas, postes, cisternas, poços artesianos e bases. “Em decorrência da pandemia de Covid-19, nenhuma edificação habitada está sendo removida. Portanto, não há famílias retiradas”, esclareceu a pasta, por meio de nota.
“Saiu de controle”
Nesta quinta-feira (27/8), o presidente da Associação de Moradores Núcleo e Cidadania do assentamento disse ao Metrópoles que a entidade repudia “toda violência” ocorrida durante a operação ocorrida nessa quarta-feira.
“A associação é totalmente contra essa situação que ocorreu no dia de ontem, pois não precisava daquilo. As coisas saíram do controle tanto por parte das autoridades, como por parte de moradores”, afirmou Miguel Rodrigues.
Para ele, a operação do DF Legal foi truculenta. “Fomos surpreendidos com um tratamento de guerra. Se tivessem reunido as lideranças, conversado, seria uma situação. Mas a forma com que tudo aconteceu foi muito ruim para todos”, disse.
Apesar disso, ele ressalta que “nada justifica a violência”, ao se referir a moradores que feriram os policiais na tarde dessa quarta. “A gente sabe que a polícia está fazendo o seu trabalho. A violência não representa o 26 de Setembro”, enfatizou.
“Dizem que não estão derrubando casa habitada, mas durante a operação havia crianças, pessoas de idade, expostas àquela situação. Pedimos que haja uma roda de conversa, uma negociação, para que isso seja resolvido da melhor maneira”, concluiu o representante.
Morador do local, Walison Dourado, 37 anos, considera que as operações de derrubada no assentamento têm gerado “um verdadeiro cenário de guerra”. “A forma como eles entraram lá foi totalmente brutal. É uma área composta por pais e mães de família”, assinalou.
“O governo prometeu a regularização, encorajou a população a construir ali e agora temos que passar por essa situação dramática”, completou.
Veja o momento da derrubada de uma das edificações do assentamento, em ação do DF Legal nessa quarta-feira:
Ação na Justiça
Segundo Willian Vasconcelos, advogado de mais de 20 moradores do assentamento, as pessoas que vivem na região irão entrar com uma ação na Justiça para tentar suspender a operação de derrubada feita pelo DF Legal.
“Queremos entrar na Justiça ainda nesta semana, pois as pessoas ali têm urgência nisso. Muitos compraram lotes após a promessa de regularizar a área e agora estão tendo grande prejuízo com a derrubada das construções”, relatou.
Assim como o presidente da associação de moradores, o advogado reforça que os residentes estão “dispostos a dialogar com o governo”. “Os moradores sempre buscaram a conversa, mas o GDF só dizia que iria regularizar e nada. Agora, vamos buscar na Justiça que essa operação seja suspensa.”
Veja imagens: