Em ato contra vandalismo, monumento a Galdino tem pichações apagadas
O ex-governador do DF Cristovam Buarque, a deputada Erika Kokay (PT) e outras autoridades e ativistas da causa marcaram presença no ato
atualizado
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O monumento Tributo ao Galdino foi restaurado nesta quarta-feira (17/1) durante um ato de repúdio à pichação da obra. O evento aconteceu na Praça Índio Pataxó Galdino Jesus dos Santos, nas entrequadras 703/704 da Asa Sul, onde o indígena foi queimado vivo por cinco adolescentes brasilienses em 20 de abril de 1997.
A pichações foram cobertas com uma nova camada tinta.
O ex-governador do Distrito Federal Cristovam Buarque, a deputada federal Erika Kokay (PT-DF) e outras autoridades e ativistas da causa indígena marcaram presença na manifestação. O artista Siron Franco, responsável por criar a obra que foi depredada, também era esperado, mas não pôde comparecer por problemas pessoais.
Governador do DF à época do crime, Cristovam Buarque lembrou como reagiu ao saber do assassinato. “Foi um choque muito grande saber que jovens brasilienses fizeram isso.”
O ex-governador apontou a falha na educação, tanto escolar quanto familiar, como causa da falta de conscientização de muitos jovens. Ele também disse acreditar que os responsáveis pelas pichações não fizeram isso por serem contra os indígenas, mas por não conhecerem a história.
Erika Kokay ressaltou a importância da herança indígena para o Brasil. “Os indígenas são parte fundamental da nossa brasilidade e ancestralidade. E nós somos os nossos ancestrais.”
“O que aconteceu nessa praça tem que ser objeto da nossa mais profunda indignação. Estamos aqui em defesa da luta dos povos indígenas. Estamos aqui para defender a obra do Siron e não esquecer o que aconteceu”, ressaltou a deputada.
Luta indígena e arte
Além das falas em defesa dos povos originários e o lamento pela depredação de um monumento importante para a história do DF, as pichações foram cobertas com uma nova camada de tinta, da cor da obra. Manifestações artísticas também foram feitas.
O cantor indígena Cleyton Lacerda apresentou duas músicas que falam de como o povo dele sofreu e sofre. Em um verso, ele lembra quem foram os primeiros donos das terras do Brasil: “Sou filho da Mãe Terra, tudo é minha casa”.
O Crime
Galdino de Jesus era um homem forjado na luta. Cacique de um povo que hoje conta com pouco mais de 2 mil representantes, ele saiu da Bahia na véspera do Dia do Índio de 1997 para participar, na capital do país, de manifestações e negociações com a Fundação Nacional do Índio (Funai). Era porta-voz da luta pela demarcação das terras pataxós.
Conforme as investigações da Polícia Civil do Distrito Federal e a peça de acusação do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), Galdino passou aquele Dia do Índio em reuniões que invadiram a madrugada. Ele se perdeu nos poucos metros que separavam a sede da Funai e a pousada onde estava hospedado na W3 Sul.
Quando finalmente chegou ao local, às 3h do dia 20, foi barrado pela dona do estabelecimento: o acesso só era possível até as 22h. O cacique, então, voltou ao ponto de ônibus que viu pelo caminho e decidiu esperar o dia amanhecer ali.
Por volta das 5h, cinco amigos, um deles menor de idade, cruzaram o caminho do cacique pataxó. Na volta de uma festa, avistaram o que disseram (no processo) pensar ser um mendigo naquele ponto de ônibus e tiveram a cruel ideia de atear fogo ao corpo inerte, por diversão. Os cinco foram até um posto de gasolina próximo, compraram álcool e fósforos, e retornaram à parada. Encharcaram o corpo de álcool, acenderam o fósforo e lançaram sobre “o mendigo”. Entraram no carro e deram a partida enquanto Galdino se levantava desesperado, gritando de dor.
A cena foi presenciada por um chaveiro que madrugara para mais um dia de trabalho. O homem anotou a placa do carro em fuga e acionou a polícia, o que possibilitou a identificação e a prisão de Max Rogério Alves, à época com 19 anos; Tomás Oliveira de Almeida, 18; Antônio Novély Vilanova, 19; Eron Chaves de Oliveira, 19, e o caçula do grupo, então com 17 anos.