PF e FBI: israelense morador do DF arrecadou U$ 15 milhões na dark web
Tal Prihar foi detido em Paris por comandar um site de negócios ilegais. EUA confiscarão as contas no nome dele e do sócio, Michael Phan
atualizado
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O esquema do israelense Tal Prihar, morador do Lago Sul, acumulou 15 milhões de dólares em bitcoins devido a 40 mil transações ilegais realizadas por meio de seu site na dark web – camada da internet que não pode ser acessada por meio de mecanismos de busca comuns, como o Google. Ele foi preso na última segunda-feira (06/05/2019), em Paris, França, na operação conjunta da Polícia Federal e do FBI (o Departamento Federal de Investigação dos Estados Unidos) para combater crimes praticados nas redes.
Os Estados Unidos irão confiscar quatro carteiras virtuais e três contas bancárias que estavam em nome de Prihar e de seu sócio, Michael Phan, também preso na ação policial. A Procuradoria-Geral do estado da Pensilvânia deu mais detalhes, nesta quarta-feira (08/05/2019), de como funcionava o esquema de crimes praticados pela dupla. O endereço que eles comandavam era a porta de entrada para sites de venda de drogas, entre outros negócios ilegais, ao redor do mundo.
“Essa é a ação mais significativa da história contra a dark web”, disse o procurador-geral do estado americano, Scott W. Brady. “A Procuradoria-Geral dos EUA usou todo o seu conhecimento cibernético para atacar a venda de opioides. Esse caso significa o primeiro ataque à grande estrutura que apoia e promove a venda de drogas.”
Segundo as investigações, os israelenses Tal Prihar e Michael Phan controlavam o site DeepDotWeb, responsável não apenas por indicar sites em que é possível comprar drogas, como heroína, cocaína, MDMA e LSD, mas também por ensinar novos usuários a adquirir entorpecentes e outros produtos contrabandeados ou relacionados a fraudes.
O domínio foi criado em novembro de 2014 e ganhava uma porcentagem de todas as compras que mediava. Os pagamentos eram feitos via bitcoin. Tudo era guardado numa carteira virtual e posteriormente transferido para a conta de empresas de fachada controladas pelos dois, para fazer a lavagem do dinheiro. O lucro era divido igualmente entre os compatriotas.
“Sites como DeepDotWeb são ameaças globais que necessitam de parcerias internacionais para serem parados”, disse Robert Jones, agente especial do FBI. “Os esforços feitos por todas as agências investigadoras do mundo mandam a mensagem de que nós estamos indo atrás dos operadores desses sites perigosos.”
Apesar de morar em Brasília, Prihar foi preso no Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, na última segunda-feira (06/05/2019) durante uma viagem. O investigado também é suspeito de crime de pornografia infantil. Já Phan foi encontrado em Israel. Scott Brady preferiu não dar detalhes de como será feita a extradição ou quantos anos os dois podem ficar na cadeia.
A vida de Prihar em Brasília
Tal Prihar mantinha uma rotina discreta na casa em que morava, no Lago Sul. Ele residia com a mulher, também israelense, e quatro filhos pequenos, em uma casa alugada na QL 22 há cerca de um ano. O valor médio do aluguel no mesmo conjunto é R$ 10 mil. O local foi alvo de busca e apreensão, onde os agentes localizaram R$ 1 milhão em espécie, notebooks, smartphones e dispositivos utilizados para a guarda de criptomoedas. Havia dinheiro escondido até mesmo dentro de uma impressora.
A residência possui área de lazer luxuosa com piscina, churrasqueira e sauna. Apesar do conforto, o casal não costumava comprar móveis ou objetos caros. A família tinha um carro modelo SUV e contava com empregada e funcionários para cuidar da piscina e do jardim. As crianças chegaram a estudar em uma escola particular na região, mas desde o início deste ano passaram a ter aulas particulares em casa, que conta com sistema de segurança, como alarme e câmeras.
Segundo uma funcionária, que pediu para não ser identificada, eles eram “pessoas muito simples”. “Tinham aparência humilde. O casal era muito cuidadoso com os filhos. Uma vez nos contaram que o sustento deles vinha de um site. Eu jamais poderia imaginar que ele era envolvido com qualquer tipo de crime”, contou. Ela também disse que a mulher era muito religiosa e seguia os costumes e tradições de Israel. “Fazia muitas orações e respeitava os feriados.”
Discreto, o casal evitava promover festas ou eventos no local. O pouco domínio do português também dificultava a comunicação com os vizinhos. “Ele costumava tomar uma cerveja ou vinho em casa mesmo. Estavam sempre na residência. Quando viajavam, era para Israel ou Europa. Diziam que gostavam de morar no Brasil porque o custo de vida é menor por aqui”, acrescentou outro funcionário.
Nas redes sociais, o suspeito se apresentava como sócio-administrador de uma empresa de marketing. O endereço da firma é o mesmo da residência. Ele também participa de fóruns on-line sobre segurança cibernética.
Ex-morador
Não é a primeira vez que o endereço é alvo da Polícia Federal. Em 2015, os policiais foram ao mesmo local prender o antigo morador José Dirceu. Na época, o ex-ministro cumpria prisão em regime aberto após ter sido acusado no julgamento do mensalão. Ele deixou o imóvel vestindo uma camisa azul, calça social e terno e não foi algemado. Dois carros caracterizados da polícia entraram na garagem da casa para levá-lo.
Deep web e dark web
Professor do Departamento de Informática da Universidade de Brasília (UnB), Jorge Fernandes diz que a dificuldade de rastreamento por parte das autoridades torna as redes obscuras da internet um terreno fértil para criminosos. Segundo o especialista, sem fiscalização, o espaço acaba sendo ocupado por bandidos, pedófilos e traficantes de drogas, armas e, até, órgãos.
Segundo o professor, a deep web é composta por um conjunto de servidores que não são indexados por mecanismos de buscas, como o Google. Por sua vez, a dark web é uma camada ainda mais profunda da rede utilizada por criminosos. “Você tem um submundo de informações e não possui mapeamento completo dele. Eles fazem assim porque gostam de se esconder.”
Jorge Fernandes explica que endereços na zona mais profunda da rede só podem ser acessados por quem conhece o caminho. “Assim como existe em qualquer grupo social, na internet também acabam criando uma estrutura de submundo.”
De acordo com o especialista, o conjunto de protocolos de acesso que os frequentadores da deep web usam dificulta o trabalho da polícia. “Até porque tem uma dificuldade de jurisdição no mundo. Por exemplo, se um computador que tem um monte de coisas ligadas ao crime está hospedado em outro país, a polícia daqui não tem como forçá-lo a sair do ar.”