Peritos isolam substância que teria causado morte de professor
Produto que está em agrotóxicos é de fácil acesso e pode ser encontrado em qualquer comércio especializado na venda de itens agrícolas
atualizado
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Peritos do Instituto de Criminalística (IC) isolaram em laboratório a substância química que teria provocado a morte do professor Odailton Charles Albuquerque Silva (foto em destaque) , 50 anos. Ele passou mal na quinta-feira (30/01/2020) após tomar um suco e acabou falecendo nessa terça-feira (04/02/2020) no Hospital Regional da Asa Norte (Hran).
A suspeita é de que o ex-diretor tenha sido envenenado dentro do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 410 Norte. De acordo com peritos ouvidos pelo Metrópoles, os organofosforados, encontrados nas roupas e no organismo do docente, são inseticidas agrotóxicos muito utilizados tanto em fazendas no DF quanto em plantações e lavouras espalhadas pelas regiões rurais do país. A substância é de fácil acesso e pode ser encontrada em qualquer comércio especializado na venda de produtos agrícolas.
De acordo com a análise feita pelos peritos, os organofosforados possuem funções específicas, voltadas para cada tipo de plantação. No entanto, uma das características presentes em todas as vertentes dos inseticidas é curiosa: ele se dissipa pouco tempo depois de ser aplicado.
“Antigamente, esses agrotóxicos permaneciam presentes em frutas, legumes e verduras. Ocorriam casos de pássaros que morriam após consumir um fruto e o mesmo acontecia com a cobra que se alimentava do pássaro morto. Com os organofosforados, os produtos podiam ser consumidos normalmente após um período de exposição”, explicou um dos peritos.
Com equipamentos sofisticados, o Instituto de Criminalística conseguiu identificar traços do agrotóxico no organismo e nas roupas do professor. Os peritos ainda trabalham para definir, com precisão, a qual parte da família dos organofosforados pertence a substância que pode ter sido misturada ao suco tomado pelo professor. Por exemplo, o chumbinho, tipo comum de raticida que pertence à família dos organofosforados.
Sintomas
Segundos os estudos feitos sobre a substância, os sintomas após a ingestão podem aparecer de forma rápida ou tardia, dependendo da quantidade presente nos tecidos humanos. Se a absorção do produto ocorrer pela via respiratória, os sintomas tendem a aparecer em poucos minutos. Já nas absorções pelas vias cutânea ou oral – que pode ser o caso do professor Charles – os sintomas podem demorar a se manifestar.
A intoxicação por esses agrotóxicos tem o quadro clínico característico de hiperestimulação colinérgica, podendo ser aguda, subcrônica ou crônica (neurotoxicidade tardia). Na primeira situação, há um conjunto de sintomas denominados síndrome parassimpaticomimética, muscarínica ou colinérgica. A exposição do indivíduo a baixos níveis do composto está associada a lacrimejamento, salivação e micção/defecação involuntárias.
Níveis mais elevados são associados a confusão, ataxia, diminuição dos reflexos, convulsões, coma e paralisia no centro respiratório. A evolução dos sintomas até a morte decorre da insuficiência respiratória, produzida pelo conjunto de ações muscarínicas nos brônquios, nicotínicas nas placas motora e centrais. O tempo entre a exposição e o óbito pode variar de cinco minutos a 24 horas, dependendo da via de exposição, dose e outros fatores.