Perícia high-tech: sistema mapeia armas e ajuda PCDF a resolver crimes
Tecnologia europeia, Evofinder permitiu que peritos criminais da Polícia Civil relacionassem mesma arma a quatro homicídios e uma tentativa
atualizado
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Projéteis deixados em cenas de homicídios trazem informações que vão além da confirmação sobre o calibre da arma utilizada. A tecnologia aliada à expertise dos peritos criminais do Instituto de Criminalística (IC), da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), faz com que as investigações possam avançar em ritmo mais acelerado.
Por meio da solução Evofinder, um banco de dados desenvolvido em parceria entre Rússia e Alemanha, os peritos em balística forense identificaram que uma mesma arma, calibre .40, foi usada em quatro homicídios e uma tentativa de assassinato em três regiões administrativas do DF. Os crimes ocorreram entre agosto de 2019 e abril de 2021.
A descoberta pode mudar o caminho das apurações que buscam identificar a autoria dos crimes contra a vida e a origem das armas utilizadas na capital federal.
Pela primeira vez foi possível relacionar uma única arma a diversos crimes. A partir de uma pistola .40 apreendida pela 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia Centro) e encaminhada em maio de 2021 ao Instituto de Criminalística, os peritos conseguiram comprovar a relação do armamento com outros homicídios.
Com a numeração suprimida, foi necessário fazer a regeneração do número de série. A arma pertencia à Secretaria de Segurança Pública da Bahia e foi localizada com um adolescente em Brasília.
Quando a inserção do material foi feita no Evofinder, os peritos constataram que a arma de fogo havia sido utilizada em cinco ocorrências: quatro homicídios consumados e um tentado.
Exames constataram ainda que a pistola .40 foi usada em conjunto com uma outra arma 9mm, em um assassinato cometido no Gama, em agosto de 2019. Na mesma ocorrência, os criminosos empregaram outras duas armas, uma calibre .38 e outra, .380.
A cada nova correlação apontada no sistema, as delegacias envolvidas eram alertadas. O diretor do Instituto de Criminalística, Emerson Pinto de Souza, ressalta a importância desses recursos no trabalho de balística forense. “A tecnologia é fundamental na solução de crimes. Tudo isso é um trabalho em equipe entre a perícia e a investigação. Gera agilidade. A resposta tem de ser precisa e dada em um tempo razoável para ser usada nas investigações”, afirmou.
Como funciona
O instituto passou a usar o programa de forma sistemática em janeiro de 2020. Com o reforço no quadro pessoal, foi possível estabelecer rotinas sistematizadas de inserção de material balístico no software.
Apenas em 2020, foram inseridos 5.654 elementos relacionados a estojos, projéteis e armas, totalizando 11.816 cadastros. A força-tarefa dos peritos criminais deu resultado. Foram encontradas, com as amostras cadastradas até abril de 2021, diversas correlações entre diferentes elementos balísticos que permitiram a elaboração de 126 laudos de inteligência pericial.
Os documentos, assinados por dois peritos, contêm informações sobre as armas, munições utilizadas, locais de crime e a correlação entre os dados de ocorrências similares. Todas as informações são encaminhadas às delegacias de polícia responsáveis pelos inquéritos. Muitas vezes, a investigação ainda não havia identificado conexão entre uma determinada arma e uma vítima de homicídio, ou entre diferentes ocorrências.
A perita criminal Tatiana Costa conta que os materiais analisados na Seção de Balística Forense (SBF) são encaminhados pelas unidades policiais, Instituto de Medicina Legal (IML) e hospitais.
A primeira etapa do processo consiste em efetuar o teste de eficiência da arma apreendida ou obter modelos de armamentos padrões que serão confrontados com os estojos e projéteis apreendidos no local do crime. Trata-se de um procedimento feito por dois peritos em um tanque com água.
O líquido preserva todas as ranhuras que serão examinadas posteriormente com uso de microscópio.
“Coletamos o padrão e analisamos o material incriminado. Emitimos um laudo e arquivamos. Depois, o perito escaneia tudo e coloca no banco de dados. Em seguida, fazemos o confronto. O sistema seleciona por período, datas, e elenca o grau de compatibilidade entre dados. Quando verificamos um possível positivo, pegamos o material físico e analisamos, novamente, no microscópio. Confirmada a semelhança, emitimos o laudo de inteligência à delegacia”, explica Tatiana Costa.
O diretor da Divisão de Perícias Laboratoriais do IC, Juliano Gomes, frisa que o Distrito Federal é líder nacional no uso da tecnologia na perícia balística.
“O Evofinder é adotado apenas na Bahia, Goiás e DF. Já emitimos uma quantidade expressiva de laudos e o nosso banco, atualmente, é o maior do Brasil. Aos poucos, vamos passar a inserir materiais balísticos de anos anteriores a 2019. Acreditamos que assim será possível colher informações de homicídios que ainda não foram solucionados”, destaca Gomes.