Perfil no Twitter denuncia supostas fraudes no sistema de cotas da UnB
Universidade diz estar atenta às denúncias de irregularidades e pede que estudantes denunciem casos na ouvidoria
atualizado
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Após estudantes da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) criarem um perfil no Twitter para denunciar irregularidades do sistema de cotas raciais da instituição de ensino, usuários da rede social também decidiram tornar públicas supostas fraudes cometidas na admissão de candidatos cotistas na Universidade de Brasília (UnB).
Criado em junho deste ano, o perfil Fraudadores de Cotas UnB compartilha informações pessoais de candidatos, em sua maioria brancos, que teriam sido aprovados em vagas exclusiva para cotistas negros ou indígenas.
A página afirma que após sua criação já está recebendo inúmeras outras denúncias do tipo. “Estamos fazendo o possível, a conta quase travando de tanta mensagem. Mas continuem mandando, vamos responder as pessoas e postar na medida do possível. Não para um segundo, a quantidade de pessoas desonestas é incontável”, publicaram os administradores da conta.
Segundo a comunidade, as fraudes teriam sido registradas no ingresso de estudantes das mais diversas áreas da graduação. A primeira publicação foi realizada ainda nesta quarta-feira (04/06). Em 11 horas, o perfil conseguiu mais de 4,8 mil seguidores.
Confira:
UnB investiga
Em nota, a Universidade de Brasília afirmou que está investigando as denúncias de fraudes no sistema de cotas. De acordo com a instituição de ensino, foi criada uma comissão de sindicância para apurar o caso.
Mais de 100 estudantes que se autodeclararam cotistas já foram investigados pela UnB por suspeita de irregularidades no processo de admissão. Do total, 28 viraram alvo de processos administrativos disciplinares.
Do restante das denúncias apuradas, segundo a UnB, 14 não eram estudantes da instituição, 23 não eram cotistas raciais e 37 atendiam ao critério fenotípico.
Agora, os processos estão sob análise da Procuradoria Federal da UnB. “Esta irá subsidiar decisão da Administração Superior quanto a eventual desligamento de estudantes. Enquanto o processo não chegar ao fim, as informações devem ser mantidas em sigilo para preservar o direito a ampla defesa de todos os envolvidos”, defendeu no texto.
A UnB pede que os alunos que desconfiarem de fraudes denunciem as supostas irregularidades na ouvidoria da instituição. A informação deve ser dada via e-mail, pelo endereço ouvidoria@unb.br.
Polêmica antiga
Não é de hoje que a Universidade de Brasília se vê obrigada a apurar denúncias de irregularidades cometidas pelos estudantes no processo de admissão da instituição de ensino.
Quando o programa de cotas foi criado, a UnB designava uma banca para realizar, pessoalmente, a entrevista dos candidatos. Agora, o processo se dá por autodeclaração.
Em 2018, um erro no sistema de cotas da instituição ganhou repercussão após a UnB aceitar uma jovem como cotista e negar o direito à sua irmã. As duas são gêmeas univitelinas. O caso foi noticiado pelo Metrópoles.
As gêmeas Carina Bastos da Costa Soares e Marina Bastos da Costa Soares prestaram o vestibular para o curso de medicina veterinária. Apenas uma delas foi aprovada nas vagas reservadas a estudantes de escola pública.
O problema foi levado para análise do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT). Em caráter liminar, a 17ª Vara Federal Cível da Seção Judiciária determinou que a UnB matriculasse as duas estudantes.
Segundo o magistrado responsável pelo caso, Rodrigo Parente Paiva, houve comportamento contraditório da comissão avaliadora. “Não há argumentos jurídicos no caso, tendo em vista que, consoante aos autos, é possível observar que sua irmã idêntica restou enquadrada como cotista, enquanto a impetrante ficou de fora de tal lista”, alega a sentença.
À época, o Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos (Cebraspe), responsável pela seleção, disse que a candidata Carina Bastos não havia apresentado a documentação exigida.
Outro caso
Em 2007, Alan Teixeira da Cunha e Alex Teixeira da Cunha, 18 anos, gêmeos univitelinos, passaram pela mesma situação. Na ocasião, os jovens – filhos de pai negro e mãe branca – disputavam vagas no vestibular da UnB por meio do sistema de cotas raciais. À época, a regra previa apenas critérios de raça e não socioeconômicos ou de origem escolar.
A submissão de fotografias à banca avaliadora levou o júri a decidir que Alan era negro, mas, Alex, não. O irmão “branco” recorreu – possibilidade prevista no edital do vestibular. A decisão foi mudada, mas os gêmeos não passaram no vestibular daquele ano