Pequenas crianças, grandes negócios: chefinhos surpreendem empreendendo
Segundo especialista, quando a criança tem contato com empreendedorismo sem cobranças excessivas, ela pode ter metas e propósitos mais cedo
atualizado
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Apaixonada por bijuteria, a pequena Maria Luísa Sampaio, 11 anos (foto em destaque), começou a confeccionar pulseiras, colares e anéis com a ajuda mãe. Durante a pandemia, teve a iniciativa de criar uma loja on-line para vender os acessórios, que viraram sucesso. Hoje, a criança lucra cerca de R$ 800 por mês.
Maria Luísa aprendeu os trabalhos manuais aos 4 anos, enquanto estudava matemática em casa. “Eu comecei a ensiná-la a somar, subtrair e dividir colocando as bolinhas nas pulseiras. Ela amou fazer e vivia cheia de acessórios no braço”, conta a decoradora de eventos Samara Sampaio, 40, mãe da menina.
A ideia de empreender surgiu com o tempo livre na pandemia. Sem ir à escola, Maria Luísa começou a fazer cada vez mais bijuterias e abriu uma conta no Instagram para divulgar o trabalho. Agora, a criança faz as pulseiras e entrega em todo o Brasil. “Na pandemia, eu fiquei muito triste e entediada. Uma das maneiras de aproveitar o meu tempo e ficar feliz foi fazendo meus acessórios. Fiz muita coisa, então, decidi abrir a loja para mostrar meu trabalho e conseguir mais clientes”, conta Maria Luísa.
A “Marilubiju” tem 974 seguidores nas redes sociais e mais de 400 publicações dos acessórios à venda. Na descrição do Instagram, uma mensagem de Maria Luísa: “Seja fora do comum”, frase que a criança diz se identificar. “Eu sempre fui uma pessoa muito colorida, então, meu propósito, é que as pessoas que são diferentes, iguais a mim, possam usar o que elas gostam e serem felizes”, explica a garota.
Poupança
Apesar do sucesso, a preocupação de Samara é de que a filha fique sobrecarregada com os estudos e a lojinha on-line. “Tenho de ensiná-la a viver dias bons e dias ruins. Tem dias que a venda é boa, mas tem dias que não são tão boas assim. Sempre tenho que lembrá-la de que ela é uma criança, precisa brincar, descansar, estudar e respeitar as respostas de seu corpinho que às vezes fica cansado”, diz a mãe.
Além disso, Samara e o marido, Gustavo César de Almeida, moradores de Taguatinga Sul, ajudam a filha a gerenciar o dinheiro das vendas. Samara revelou que o dividem em três partes: investimento, compra do material para fazer novos acessórios e para Maria Luísa gastar com o que quiser.
“Ela comprou um celular muito bom para ela, com o dinheiro da lojinha. É uma realização importante para o coraçãozinho dela. Mas ela sempre fala que quer juntar para ser empresária no ramo da moda”, pontuou Samara.
Controle financeiro
A educação financeira é algo que Christiane Neves, 38, também tenta ensinar ao filho, que, aos 7, decidiu vender pipoca na frente de casa, no Gama. Segundo a servidora pública, Heitor Carvalho queria juntar dinheiro e comprar jogos de videogame. Agora, o controle financeiro tem trazido muitos benefícios para a criança
“Hoje, quando vamos ao mercado, ele compreende os preços e o que podemos comprar, ou seja, quais são as nossas prioridades naquele momento. Tentamos introduzir as atividades escolares em nossa rotina e, aos poucos, vamos estudando com ele e trabalhando os assuntos de acordo com a realidade da nossa família”, contou Christiane.
A experiência de Heitor com as pipocas é dividida com os pais. “Conversamos muito e, em meio a uma dessas conversas, ele me apresentou a ideia de montar uma lojinha como a do Chaves, personagem do seriado da tevê, para vender algo. Expliquei para ele que precisávamos fazer um cartaz com o tipo de produto que estávamos vendendo e os valores. E assim ele fez, superanimado com a nossa tarefa”, lembrou Christiane.
O combinado entre mãe e filho é de que a venda das pipocas seja feita uma vez por mês, sempre em um sábado pela manhã, desde que não interfira nas atividades da escola.
Empreendedorismo para crianças
Para o coordenador do curso de administração do Iesb, Erlano Marques Ribeiro, 55, o planejamento, a responsabilidade e a independência são características que podem ser ensinas desde cedo para as crianças.
“Imaginamos que, a partir dos 3 anos, é possível colocarmos algumas coisas nas cabeças dos pequenos como exemplos de vida. A ida ao supermercado, por exemplo, pode ser um momento para orientar a criança sobre economia e, principalmente, prioridades. É preciso mostrar que o dinheiro é finito”, desctaca o coordenador.
Além disso, Erlano ressalta que o empreendedorismo na infância é fundamental para a formação dos pequenos. “Precisamos incentivar as crianças sempre. Podemos fazer com que elas criem coisas e que exerçam a autonomia por iniciativa própria. A criança é muito criativa, tem facilidade em criar coisas sem medo de errar. Elas quebram regras, e isso é muito importante no empreendedorismo”, ressalta o especialista.
Para incentivar os filhos em casa, Erlano explica que o jeito mais fácil é trabalhar em oficinas. “A criança necessita de liberdade e momentos lúdicos. Então, a melhor maneira de conduzir a educação empreendedora infantil é proporcionar oficinas para os pequenos de maneira que sejam apresentados desafios similares aos que passamos em nossa vida cotidiana. Quando apresentamos questões da vida cotidiana para crianças, as soluções são incríveis. Aparecem coisas que nunca pensamos porque as crianças trazem respostas sem medo”, pontua.
Os benefícios são muitos. Segundo o especialista, quando a criança tem contato com empreendedorismo sem cobranças excessivas, ela pode começar a pensar em metas e propósitos mais cedo, além de aprender a valorizar o dinheiro em consequência do trabalho que ela desenvolveu.