Pelo menos uma mulher é agredida por hora no DF; Ceilândia ganha nova DP
Estudo da PCDF mapeou dia da semana, a faixa horária, tipo de arma usada e cidades com maior incidência de crimes contra as brasilienses
atualizado
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A cada 60 minutos, pelo menos uma mulher foi alvo de violência física, sexual ou psicológica, no Distrito Federal, nos primeiros quatro meses deste ano. De acordo com análise criminal elaborada pela Polícia Civil, foram registrados 5.226 casos enquadrados na Lei Maria da Penha, média dramática de 43 ocorrências a cada 24 horas, ou seja, média de 1,7 denúncia por hora.
O estudo obtido pelo Metrópoles identifica o dia da semana, a faixa horária, o tipo de arma utilizada e as cidades com maior incidência de crimes praticados contra as mulheres brasilienses.
O levantamento servirá de embasamento para ações desencadeadas pela nova Delegacia de Atendimento à Mulher II (Deam II), que começa a atender a população nesta segunda-feira (08/06), em Ceilândia.
A região administrativa foi escolhida para abrigar a unidade especializada justamente por liderar as estatísticas de violência. Apenas entre 1 de janeiro e 30 de abril deste ano, 736 vítimas sofreram algum tipo de violência doméstica. Muito atrás, Planaltina aparece em segundo lugar, com 448 casos; e Samambaia, em terceiro, com 408 registros.
Veja como será a nova Deam:
Todos os episódios registrados no DF no primeiro quadrimestre de 2020 resultaram na prisão, em flagrante, de 1.307 suspeitos. A maioria das detenções ocorreu na área de cobertura da 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia Centro).
Os dados policiais apontam que 3.587 (69%) casos de Maria da Penha são cometidos por pais, maridos e padrastos; estão relacionados a crimes interpessoais e se desenvolvem dentro da residência das vítimas. Outros 591 ocorrências (11%) foram em via pública. O restante, 1.048 registros (20%), ocorreu em pontos como comércios e empresas.
Dia e hora
A análise criminal produzida pela PCDF determina, também, o dia e a hora em que mais ocorrem os casos de violência contra mulheres no DF. De acordo com o levantamento, sábado e domingo são os dias nos quais mais se registram casos que afrontam a Lei Maria da Penha, principalmente motivados pelo uso de bebida alcoólica por parte dos autores. Os horários de maior incidência das agressões varia entre 19h e 23h59.
Violência física e ameaça foram os principais meios utilizados para o cometimento dos crimes relacionados à violência doméstica, com 67% do total (1.893 casos), sendo seguidas por agressão moral, que foi relatada em 8% (1.619 casos) dos casos.
Segundo o diretor geral da PCDF, delegado Robson Cândido, a Deam II vai atender com exclusividade todas as pessoas do sexo feminino, sejam crianças, adolescentes, adultas e idosas vítimas no contexto da Lei Maria da Penha e em crimes contra a dignidade sexual. Serão encaminhadas à nova unidade policial, as queixas desses crimes que ocorrerem nas áreas abrangidas pela 15ª, 19ª (P Norte), 23ª (P Sul)e 24ª (Setor O) DPs.
De acordo com Cândido, a instalação de uma Deam em Ceilândia é um anseio antigo da população e foi prevista no I Plano de Políticas para as Mulheres, de 2014.
“Mais de 50% das mulheres que registram ocorrência de violência doméstica em Ceilândia deixam de vir até o complexo da PCDF para fazer a perícia. Com isso, muitos casos não são registrados. Esse cenário vai mudar com a nova delegacia”, afirmou.
IML
A delegada que comandará a Deam II, Adriana Romana, adiantou que a unidade contará com o apoio de um posto avançado do Instituto Médico Legal (IML).
“É algo inovador, pois não temos notícia de outra unidade policial no Brasil que conte com um um posto como esse dentro de suas dependências”, comemorou. “Nós ganharemos celeridade e precisão no momento de apurar cada caso, além de proporcionar o atendimento mais rápido das vítimas de crimes relacionados à violência doméstica e contra a dignidade sexual”, disse.
Durante a última semana, servidores que darão expediente na nova unidade passaram por cursos de capacitação ministrados por delegados, promotores e advogados ligados às questões envolvendo a Lei Maria da Penha. Os trabalhos desenvolvidos no curso também tiveram apoio do Núcleo Judiciário da Mulher, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT); da diretora de Políticas de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres, da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e do Banco Mundial, por meio da secretária, delegada da PCDF Grace Justa.
Linha de frente
Policiais militares que integram as equipes de Policiamento de Prevenção Orientado à Violência Doméstica e Familiar (Provid) ficam na linha de frente no momento de socorrer mulheres vítimas de violência doméstica no DF. Diariamente, dezenas de telefonemas com pedidos de socorro são atendidos por meio do telefone 190. Do outro lado da linha, mulheres amedrontadas, e muitas vezes machucadas, pedem ajuda.
Em um dos casos recentes, durante a pandemia provocada pelo novo coronavírus, uma jovem foi brutalmente agredida pelo ex-namorado. O caso ocorreu em 18 de maio. Policiais foram acionados para atender uma ocorrência em São Sebastião: mulheres estavam sendo espancadas em uma festa de aniversário, entre elas, a jovem de 18 anos.
Ela contou que namorou o ex-companheiro por dois anos, tendo terminado o relacionamento em fevereiro de 2020. No entanto, o homem continuava a persegui-la. “Durante todo o relacionamento, ele [o agressor] se portou de maneira controladora, ciumenta e possessiva, chegando ao absurdo de regular minhas postagens nas redes sociais e as pessoas com quem mantinha contato on-line”, detalhou a moça.
No dia da agressão, o ex-companheiro avistou a vítima e começou a espancá-la. As amigas resolveram proteger a jovem e acabaram sendo agredidas, uma delas foi arrastada no chão de brita, ficando com lesões e escoriações nas pernas, braços, seios e costas.
Testemunhas da violência tentaram linchar o homem, que foi salvo pela PM e acabou preso. Após o flagrante, a equipe do Provid foi acionada para fazer o acompanhamento do caso e, com isso, minimizar a sensação de insegurança da vítima.
Dois dias depois do crime, os militares realizaram a primeira visita e iniciaram o monitoramento do caso como forma de prevenir novos eventos de violência doméstica. “Me sinto mais segura e confiante em relação ao término do relacionamento. Essa ajuda psicológica oferecida pela PM foi fundamental para me fazer seguir em frente”, afirmou a jovem.