“Pedidos são absurdos”, diz Ibaneis sobre greve dos médicos no DF
Médicos da rede pública estão em greve há 10 dias. Ibaneis diz que pedidos da classe são “fora do comum” e demandam R$ 600 mi do Orçamento
atualizado
Compartilhar notícia
O governador Ibaneis Rocha (MDB) comentou, na manhã desta sexta-feira (13/9), sobre a greve dos médicos da rede pública de saúde do Distrito Federal. O movimento paredista completou 10 dias e tem uma assembleia geral marcada para esta tarde, às 16h.
“A discussão com os médicos tem sido tratada pelo secretário [de Economia] Ney Ferraz, mas ela tem muita dificuldade de avançar, porque temos aí os pedidos dos médicos, que ultrapassam R$ 600 milhões [em pagamentos], e não existem esses recursos no Orçamento do Distrito Federal”, afirmou o governador.
Ibaneis acrescentou que o Executivo local concedeu melhorias aos servidores recentemente: “Vamos ter de nos esforçar, como estamos, mas demos um reajuste de 18%, contratamos diversos policiais, concedemos um plano de saúde que é um dos mais baratos do país e viemos atendendo a todas as reivindicações dos funcionários públicos do Distrito Federal. Mas, de vez em quando, chegam pedidos que são absurdos, fora do comum e que o governo não tem condição de atender”.
A declaração do governador ocorreu durante a cerimônia de incorporação de 1.264 mil PMs no 11º Curso de Formação de Praças (CFP), na manhã desta sexta-feira (13/9), no Complexo de Ensino da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), em Taguatinga Norte.
A classe representada pelo Sindicato dos Médicos (SindMédico-DF) pede reajuste salarial, a nomeação de candidatos aprovados em concurso e a reestruturação da carreira.
Em março deste ano, o Metrópoles divulgou que hospitais da rede pública de saúde amargam a falta de 25.133 mil profissionais no Distrito Federal. Até o momento, não há indicativos sobre a data de término da paralisação.
Multa
Os médicos do Distrito Federal descumpriram uma decisão judicial e entraram em greve em 3 de setembro. No último dia 27, o desembargador do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) Fernando Habibe havia proibido o movimento paredista. Três dias depois, o magistrado chegou a aumentar a multa diária em caso de descumprimento da determinação, de R$ 50 mil para R$ 200 mil.
Na ação judicial protocolada contra a greve desses profissionais, o Governo do Distrito Federal (GDF) alegou que a manutenção de 100% do corpo médico “é essencial para a apropriada prestação de serviço público à população”.
O Executivo local acrescentou que um reajuste salarial para a categoria “afetará o delicado equilíbrio financeiro das contas públicas” e destacou que, em geral, a remuneração desses servidores supera os R$ 20 mil, “bem acima da média [de outras categorias] no DF”.
Além disso, o governo destacou que todos os servidores distritais receberam, em julho de 2024, a segunda parcela do aumento de 18%. E, em relação à reivindicação por mais concursos e pela preferência na escolha da lotação, “há certame vigente que teve a formação de cadastro de reserva sem limitação de candidatos, sendo nítidos os esforços para nomeação contínua dos aprovados”.
Nesta sexta-feira (13/9), o SindMédico-DF divulgou uma nota direcionada ao governador, em resposta à declaração do chefe do Executivo local sobre a greve da categoria.
Leia na íntegra:
“Ao excelentíssimo sr. governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha
O Sindicato dos Médicos (SindMédico-DF) recebeu com muita surpresa as declarações feitas à imprensa sobre a greve dos médicos da rede pública do Distrito Federal. Segundo essas afirmações, a negociação com a categoria encontra “muita dificuldade de avançar”. O governador disse ainda que quem está à frente da questão é o secretário de Economia, Ney Ferraz Junior. Agora, vamos falar o que realmente está acontecendo?
Até o momento, após 11 dias de greve, o sr. governador sequer recebeu os representantes dos médicos do DF. Não há, por parte do GDF, qualquer tentativa de negociação. Nós já enviamos nossa proposta e não houve contraproposta. Essa é a verdade. O secretário de Economia, de fato, recebeu nossos representantes ao longo deste período, mas não houve e não há, até o presente momento, uma resposta. Nem um telefonema.
Enquanto isso, os médicos da rede pública continuam sobrecarregados, enfrentando condições precárias de trabalho e lutando para garantir o atendimento à população. População esta que, bem antes da greve, há anos, sofre com descaso pela saúde.
O que buscamos é diálogo e valorização, não somente para a categoria, mas para a melhoria do sistema de saúde como um todo. Afinal de contas, do jeito que está não há condições de continuar.
O que nos parece é que o governo faz do caos na saúde um projeto. Um projeto de privatização. E enquanto este for o comportamento dos nossos representantes, eleitos democraticamente, não abriremos mão de continuar lutando pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O silêncio do governo agrava a situação e aprofunda a crise no atendimento público. Estamos dispostos a negociar. Mas, para isso, é preciso que o governador também esteja disposto a ouvir e a agir. A saúde da população do Distrito Federal não pode continuar sendo negligenciada.”