Peça quebrada teria feito água do Mané Garrincha escoar pelo “ladrão”
Essa seria a causa da conta de água e esgoto de R$ 2.266.757 do estádio. Governo do Distrito Federal aguarda laudo técnico da Caesb
atualizado
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A conta de água e esgoto de R$ 2.266.757 do Estádio Mané Garrincha pode ter sido motivada pelo mau funcionamento do sistema que controla a entrada e a saída dos reservatórios da arena. Segundo o Metrópoles apurou, o dispositivo que avisa o total preenchimento das caixas estaria quebrado, provocando o escoamento para as redes pluviais que desaguam no Lago Paranoá. Ironicamente, o equipamento desvia a água em excesso para um cano conhecido por “ladrão”.
Três fontes ouvidas pela reportagem apontaram o mesmo problema. O mecanismo que avisa quando os reservatórios estão completos necessita de manutenção e esse trabalho estaria sendo feito manualmente. Vale lembrar que o estádio está fechado desde maio, quando foi disputado o último jogo no local.
Funcionários da Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb) estão procurando o que causou uma conta de água tão astronômica. A investigação começou na terça-feira (18/7), após o Metrópoles revelar o gasto milionário do estádio e o desperdício dos 94,2 mil m³ de litros de água. A quantidade é suficiente para abastecer a Candangolândia por mais de um mês.
O presidente da Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap), Júlio César de Azevedo Reis, nega tal possibilidade e aguarda os relatórios técnicos. A estatal é proprietária da arena brasiliense.
O problema foi parar no alto escalão do Governo do Distrito Federal. Na tarde desta quarta (19), o chefe da Casa Civil, Sérgio Sampaio, despistou sobre a possibilidade de falha no funcionamento dos reservatórios. “Existem hipóteses, mas nada confirmado. Eu prefiro não comentar e esperar pelo relatório dos técnicos”, completou. Ele disse ainda ter dado uma semana para que seja descoberto o que de fato ocorreu.O caso levou o Palácio do Buriti a criar uma comissão para investigar o assunto, chefiada pela própria Casa Civil. “Não adianta você dizer que o hidrômetro está funcionando e não encontrar uma explicação que seja lógica para justificar o aumento do consumo”, cobrou Sampaio.
A fatura, que venceu em 20 de junho, só deverá ser paga pela Terracap após os devidos esclarecimentos. “Se tiver ocorrido o consumo é uma dívida da empresa, entre tantas outras. Só quando a coisa estiver devidamente esclarecida nós vamos poder falar em pagamento”, afirmou Sampaio.
Estádio deveria economizar R$ 250 mil por ano com água
Se o projeto inicial e completo do Estádio Mané Garrincha tivesse saído do papel, a conta de água poderia ser mínima. Quando Brasília foi eleita uma das sedes da Copa, era para o piso ao redor do estádio ser intercalado de modo a permitir a captação da água da chuva, que seria armazenada para abastecer a própria arena.
O sistema de captação, tratamento e reaproveitamento de água geraria uma economia de R$ 250 mil por ano aos cofres públicos, além de garantir a destinação de água potável para consumo humano. O manejo de água da chuva atenderia dois itens da sonhada Certificação Leed Platinum, selo máximo de sustentabilidade, que nunca chegou a ser concedida.
O primeiro seria a redução do volume de água escoado pelo estádio e o segundo, a melhoria da água escoada. O projeto de manejo integrado de águas pluviais pode ser visto no documento abaixo.
Manejo integrado de águas pluviais – Estádio Mané Garrincha by Metropoles on Scribd
No entanto, assim como os amplos jardins com fontes ao redor da arena, a construção de uma passagem subterrânea que ligaria o Centro de Convenções aos estacionamentos do Mané Garrincha e do Parque da Cidade, e a interligação entre a W4/W5 Norte e Sul, a captação de água foi uma ideia enterrada definitivamente pelos escândalos envolvendo a construção do estádio.
Segundo as investigações da Polícia Federal e do Ministério Público (MPF), o pagamento de propina envolvendo o Mané Garrincha chega a mais de R$ 15 milhões. A Operação Panatenaico, deflagrada em 23 de maio, colocou atrás das grades os ex-governadores José Roberto Arruda (PR), Agnelo Queiroz (PT) e o ex-vice-governador Tadeu Filippelli (PMDB), além de sete outras pessoas.
O estádio, com capacidade para 70 mil espectadores, foi o mais caro construído para a Copa do Mundo de 2014: R$ 1,8 bilhão. O Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) apontou que esse valor pode chegar a R$ 2 bilhões, em razão dos últimos aditivos.