PCDF tenta acordo com Detran para fechar lojas que vendem peças roubadas
A iniciativa é vista como um duro golpe contra a indústria que fatura alto com a venda de peças de carros furtados e roubados no DF
atualizado
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Durante os 12 meses de investigação da Operação Último Suspiro, que desmantelou a organização criminosa especializada em furto de airbags de carros de luxo no Distrito Federal, a Polícia Civil tenta firmar um acordo de cooperação técnica com o Departamento de Trânsito (Detran-DF) para apertar o cerco contra o comércio clandestino de peças retiradas de carros furtados e roubados no DF. A iniciativa permitiria à PCDF interditar as lojas ilegais. Todavia, o acordo depende de manifestação do órgão de trânsito.
Desde o ano passado, quando deflagrada a Operação Rota da Seda, para desarticular organização criminosa especializada em roubo e desmanche de veículos, havia sido revelado o descontrole do setor de revenda de autopeças na capital da República. À época, cerca de 450 policiais cumpriram 120 mandados de prisão, preventiva e temporária, de busca e apreensão. Durante a ação, os agentes interditaram 20 lojas no DF, em São Paulo e Goiás.
Segundo o delegado da Divisão de Repressão à Adulteração e Desmanche Ilegal de Veículos (Dirad), da Coordenação de Repressão a Crimes Patrimoniais (Corpatri), Erick Sallum, o comércio clandestino de peças veiculares é alimentado por roubo e furto de veículos. “A maioria dessas lojas está à margem da legislação e trabalha, direta ou indiretamente, com peças ilegais. Enquanto essa indústria continuar tranquilamente absorvendo as peças originadas em roubos e furtos de veículos, a Polícia Civil apenas enxugará gelo”, lamentou.
O Metrópoles procurou o Detran para entender os motivos que adiam a assinatura do acordo de cooperação. Por meio de nota, a autarquia disse que “constituiu um grupo de trabalho para instituir o procedimento, bem como as rotinas para o credenciamento das empresas destinadas à desmontagem de veículos, em cumprimento à Lei 12.977 de 20 de maio de 2014”.
O Detran disse, ainda, que o grupo de trabalho, composto por servidores de carreira da autarquia, identificou a necessidade de criação de sistema para registro e armazenamento de todas as informações, permitindo o início das atividades. “O sistema encontra-se em fase de desenvolvimento”, diz o órgão.
“O Detran-DF não descarta a possibilidade de realizar acordo de cooperação técnica para o exercício das atividades e ressalta que tem atuado em conjunto com os demais órgãos de Segurança Pública do Distrito Federal nas ações efetuadas para coibir crimes de diversas naturezas, como os relacionados ao comércio de peças, bem como no caso das ações integradas, onde a Autarquia atua em conjunto com a PMDF, PRF, PCDF e DER”, diz a nota.
Último suspiro
Sallum ressaltou que a investigação da Operação Último Suspiro foi capaz de imputar aos envolvidos dezenas de furtos qualificados. Além disso, os criminosos responderão por organização criminosa, receptação, lavagem de dinheiro e adulteração de sinal identificador dos carros usados para o transporte deles.
“O somatório das penas pode alcançar patamar acima de 30 anos de reclusão. Tem-se a expectativa de que essa tenha sido a última atuação desse grupo. Espera-se, por fim, que a operação tenha efeito pedagógico sobre os demais. Vender airbags no DF não vale mais o risco. Quem insistir vai acabar na cadeia e perder todos os valores auferidos com a prática ilegal”, garantiu.
A operação cumpriu cumpriu mandados de prisão preventiva, uma temporária e 16 de busca e apreensão. As apurações apontaram que o criminosos descobriram nos acessórios um rentável nicho de lucratividade e passaram a investir no furto e roubo das peças para revendê-las.
Trabalho de inteligência desenvolvido pela unidade especializada mapeou, entre janeiro de 2019 e outubro de 2020, cerca de 130 ocorrências policiais de furto ou roubo dos airbags.
As investigações duraram cerca de um ano, e dezenas de perícias foram feitas, mas nenhuma conseguiu apontar os autores. Somente com o monitoramento dos receptadores – lojistas do setor de autopeças – foi possível desvendar quem seriam os responsáveis por tantos crimes. Dado o risco de deflagração das bolsas dos airbags durante a extração, a habilidade dos criminosos era espantosa, segundo a PCDF.
Leia a nota do Detran na íntegra:
O Departamento de Trânsito do Distrito Federal destaca que constituiu um grupo de trabalho para instituir o procedimento, bem como as rotinas para o credenciamento das empresas destinadas à desmontagem de veículos, em cumprimento à Lei 12.977 de 20 de maio de 2014.
O grupo de trabalho, composto por servidores de carreira desta Autarquia, identificou a necessidade de criação de sistema para registro e armazenamento de todas as informações, permitindo o início das atividades. O sistema encontra-se em fase de desenvolvimento.
Com a conclusão desse sistema, será possível realizar o registro do credenciamento, a etiquetagem e o rastreamento das peças, possibilitando a fiscalização administrativa, com aplicação de penalidades e análise de recursos das infrações.
O Detran-DF não descarta a possibilidade de realizar acordo de cooperação técnica para o exercício das atividades e ressalta que tem atuado em conjunto com os demais órgãos de Segurança Pública do Distrito Federal nas ações efetuadas para coibir crimes de diversas naturezas, como os relacionados ao comércio de peças, bem como no caso das ações integradas, onde a Autarquia atua em conjunto com a PMDF, PRF, PCDF e DER.