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PCDF ouve testemunhas que viram professor envenenado passar mal

Advogado que representa a família do docente afirmou que os áudios divulgados reforçam tese de envenenamento

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1 de 1 WhatsApp-Image-2020-02-10-at-07.47.39 - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

A 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte) ouve, nesta terça-feira (11/02/2020), testemunhas que estavam no Centro de Ensino Fundamental (CEF) 410 Norte quando o professor Odailton Charles de Albuquerque Silva, 50 anos, foi envenenado. Mais de 10 pessoas já prestaram depoimento desde o início das investigações.

Desta vez, os policiais da 2ª DP colheram o relato de professores e terceirizados da unidade educacional, além de um policial militar do Batalhão Escolar. Bruno de Oliveira, advogado da família do ex-diretor, também esteve na delegacia. “Estou aqui para pedir cópia dos autos e ficar a par de onde a investigação está no momento”, contou ao Metrópoles.

De acordo com o defensor, a família está “muito abalada com o caso” e espera uma resolução rápida. “É precipitado dizer qualquer coisa ainda. O que eles esperam é a conclusão do inquérito”, resume.

Mesmo assim, Oliveira considera cedo para fazer qualquer afirmação. Segundo ele, os áudios divulgados trazem indícios de que Charles tenha sido envenenado. “É precipitado falar qualquer coisa. Os parentes, no momento, estão preocupados e tristes”, diz.

Áudios

O advogado se refere aos áudios que chegaram ao conhecimento da Polícia Civil do DF (PCDF) após a morte do docente. Em uma série de gravações, o professor fala desde uma possível suspeita de que o envenenamento tenha partido de uma servidora até denúncias sobre supostos esquemas de “rachadinha” e ilicitudes em processos de contratação de empreiteiras para serviços de manutenção do próprio colégio.

Em um dos registros, Charles afirma que iria procurar um deputado distrital, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e o Governo do DF (GDF) para formalizar as acusações. Segundo o docente relata, o suposto esquema beneficiaria um grupo de servidores.

“Depois, eu quero dar uma passada no gabinete para a gente conversar, porque eu quero que você me oriente. Vou fazer uma denúncia no MP e no GDF contra a questão da utilização das emendas parlamentares, que eles seguraram até abusar. Não sei se você lembra, quando fiz a denúncia pro deputado, que eles [servidores] estavam indicando empresas. Tenho as gravações e vou apresentar isso”, diz o educador no áudio.

O professor reforça, também, ter recebido denúncias de irregularidades dos próprios colegas de trabalho. “Estão colocando gente para fazer o serviço nas escolas, gente que a gente não conhece. Eu já vi indícios assim, até conversando com outros colegas. Realmente, eles estão sendo beneficiados por contratarem essas empresas e estão recebendo algum por fora. Quero uma orientação antes de fazer alguma coisa, porque eu vou chutar o pé da barraca.”

Ouça:

Dívidas

Uma outra gravação obtida pela reportagem traz o diálogo entre o educador e um suposto amigo, a quem Charles estaria devendo dinheiro. Ele combina um dia para quitar as dívidas com o credor. A origem e o fim do dinheiro ainda são desconhecidas.

“Estou com um crédito meu pessoal, então, não vou esperar dinheiro cair do céu para acertar minhas contas. Então, na sexta-feira eu vou te procurar e você pode pegar o dinheiro em mãos. A gente pode marcar aí na escola [CEF 410 Norte], ou em outro lugar, não sei. Você me passa um canto qualquer que eu te encontro. Calcula, vê quanto eu te devo pra gente fazer esse acerto”, afirma na gravação.

Ele ainda ressalta a um interlocutor que havia deixado R$ 160 mil no caixa do CEF 410 Norte.

Ouça também:

“Rachadinha”

Em um terceiro áudio publicado com exclusividade pelo Metrópoles, o ex-diretor também comenta sobre suposto esquema de “rachadinha” na escola. O docente se preparava para deixar o cargo de direção da unidade educacional e comentou que visitaria o colégio para se “acertar com o pessoal”.

“Quinta-feira eu vou lá na escola, vou fazer os acertos com o pessoal: passar extrato bancário, essas coisas que eu tenho que passar. Estou recolhendo uns documentos particulares para fazer uma denúncia formal na [Coordenação] Regional de Ensino”, diz.

O educador continua dizendo que a denúncia envolveria “um dinheiro” deixado por ele no colégio. “Eles [os superiores] nunca repassaram para mim. Seguraram o dinheiro e agora estão utilizando da forma como eles querem, contratando a empresa que eles querem também. Acho que está havendo ‘rachadinha’ lá'”, comenta.

Segundo Charles, a acusação do esquema partiu de dentro da escola. “Andei conversando com os colegas e está havendo ‘racho’ de dinheiro, propina para beneficiar empreiteiros. Por isso que eu indiquei dois ou três empreiteiros lá e eles não aceitaram de jeito nenhum. Seguraram o dinheiro até agora em janeiro. Agora, está de vento e popa, liberando dinheiro à vontade lá. Então, vou fazer essa denúncia, vou recolher tudo que eu tenho de prova, de gravação, e vou arrebentar a boca do balão lá.”

Procurada pela reportagem, a Secretaria de Educação do DF (SEE-DF) negou ter ciência de irregularidade na unidade educacional. Em nota, a pasta afirma que a direção do CEF 410 Norte “apresentou os processos de 2009 a 2018 à SEE-DF, os quais foram aprovados”. “A prestação de contas de 2019 ainda não foi apresentada, mas está dentro do prazo, que corre até o final de fevereiro. Portanto, não há indícios que exijam investigação no momento.”

A morte

As gravações ganharam notoriedade após a morte do docente, ocorrida no dia 4 de fevereiro. Odailton Charles morreu envenenado depois de supostamente ter ingerido uma bebida contaminada com chumbinho. A suspeita inicial é que o veneno tomado estivesse em um suco oferecido a ele por uma colega.

Contudo, não houve comprovação de que ele tivesse ingerido o suco. “Achamos vestígios de raticida nas roupas e traços de vômito, mas nada relacionado a suco de uva”, explicou a perita criminal Flavia Pine Leite, que fez o exame nas vestimentas usadas por ele no dia do incidente, em 30 de janeiro.

Charles desconfiou de uma substância estranha em um suco que supostamente havia sido oferecido por uma colega. A servidora foi ouvida pela Polícia Civil e negou ter dado qualquer produto ao docente.

“Nós a ouvimos e ela foi firme em dizer que não ofereceu suco ao professor. Isso não quer dizer que ele não tenha bebido. As investigações continuam, muitas pessoas ainda serão ouvidas”, disse o delegado Laércio Rossetto, da 2ª DP (Asa Norte), que conduz as investigações sobre o caso.

 

 

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