Operação Delivery: dinheiro do tráfico era “limpo” em lavanderias
Dois dos presos nesta terça-feira (6/2) tinham estabelecimentos no Sudoeste e em Águas Claras
atualizado
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A Polícia Civil do Distrito Federal investiga se o bando acusado de tráfico de drogas no DF usava carro alugado pelo deputado Valadares Filho (PSB/SE) para a entrega dos entorpecentes a clientes de alto poder aquisitivo na capital do país. Entre os presos, nesta terça-feira (6/2), na Operação Delivery, que apura a prática criminosa, está o secretário parlamentar Daniel Lourival Azevedo.
De acordo com o delegado Rogério Henrique Oliveira, da 5ª DP (área central), durante as investigações, que começaram há um ano, a PCDF “praticamente confirmou” a utilização do veículo alugado pelo parlamentar e que era conduzido diariamente por Azevedo. “Não temos como dizer 100%. Temos informações de que ele (Daniel Azevedo) usava Mégane (da Renault). Muitas vezes, esses carros são terceirizados de órgãos públicos”, ressaltou.Segundo o delegado, os policiais têm informações de que o secretário parlamentar, que era motorista de Valadares Filho, saía do expediente para vender a droga. Com remuneração de R$ 6,5 mil mensais, Azevedo trabalha como comissionado na Câmara dos Deputados desde 2007.
Funcionários do gabinete de Valadares Filho confirmaram que o homem presta serviços ao deputado e, normalmente, atua mais na rua do que na Casa. Mas, segundo a assessoria de comunicação do socialista, Azevedo será demitido.
A assessoria informou também que Azevedo utilizava um Renault Fluence e ficava, inclusive, com o carro aos finais de semana. O parlamentar afirmou ter ficado surpreso com a prisão e o suposto envolvimento do funcionário com o tráfico de entorpecentes. Além disso, dispôs-se a colaborar no que for preciso com as investigações da PCDF.
Serviços jurídicos
Entre os 23 presos nesta terça, também está a ex-estagiária da Procuradoria-Geral da República (PGR) Marcela Galdino da Silva, 23, e Fernando Godoy, que pertenceu à Polícia do Exército e ostentava fotos com fuzil nas redes sociais. “O grupo tinha assessoria jurídica, integrada por ela”, ressaltou o delegado, em coletiva à imprensa.
Estudante de direito, Marcela estava em cursinho preparatório para prestar concurso para a Polícia Civil do DF. Era ela quem orientava o grupo sobre o procedimento, quantidade e forma como a droga seria transportada. A PGR afirmou, em nota, que Marcela estagiou no gabinete do subprocurador-geral por dois anos, mas deixou o órgão em junho do ano passado.
Marcela é namorada de Carlos Alberto de Almeida Leite, 25 anos. Conhecido como Kaká, ele é apontado pela polícia como o maior fornecedor das drogas. Os comparsas buscavam o entorpecente na casa dele, na Vila Planalto, e distribuíam na região central. A encomenda era entregue, muitas vezes, em órgãos públicos ou nas imediações. Entre 40 e 50 pessoas foram identificadas como clientes cativos da quadrilha. Elas serão ouvidas pela polícia.
Kaká e um outro homem preso na operação deflagrada nesta terça — identificado como Rodrigo Silva Vaz, ou Passarinho — tinham lavanderias. A suspeita é de que eles usavam os estabelecimentos, localizados em em Águas Claras e Sudoeste, para “limpar” o dinheiro da droga. A PCDF vai pedir à Justiça que bloqueio os bens do grupo.
Cocaína pura
Os acusados vendiam diversos tipos de entorpecentes, como escama de peixe (cocaína pura), haxixe, maconha, merla e LSD. Usavam motocicletas para entregá-los. O material vinha da Bolívia. Os traficantes atuavam somente no DF, especialmente para atender a clientela da Esplanada. Entre os clientes, jornalistas, médicos, servidores públicos.
Todas as unidades do Departamento de Polícia Circunscricional (DPC) foram escaladas para a operação. A PCDF apreendeu, entre outros materiais, drogas, pneus, arma de fogo, dinheiro, arma de choque, celular e dichavador (para triturar a droga). Com o grupo, os investigadores encontraram grande quantidade de haxixe, avaliada em R$ 10 mil, por exemplo. Uma única pedra custa R$ 50.
A Justiça determinou que os suspeitos fiquem presos temporariamente. Se condenados, eles podem pegar até 30 anos de cadeia.
Colaborou Ian Ferraz