Advogado alvo de operação é acusado de coagir preso na Trickster
Agentes cumpriram quatro mandados de busca e apreensão nesta sexta-feira (15/6) em mais um desdobramento da força-tarefa
atualizado
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A Polícia Civil do Distrito Federal deflagrou, nesta sexta-feira (15/6), mais uma fase da Operação Trickster, que investiga esquema de fraudes no sistema de bilhetagem eletrônica do Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans). Desta vez, foram cumpridos quatro mandados de busca e apreensão, expedidos pela 3ª Vara Criminal de Brasília.
De acordo com as investigações da PCDF, em 19 de março de 2018, quatro dias após a primeira fase da Trickster, um dos investigados na operação – preso temporariamente – recebeu a visita do advogado Rodrigo Duque Dutra na carceragem do Divisão de Controle e Custódia de Presos (DCCP) da Polícia Civil. Ele teria sido coagido pelo defensor. Em tom de ameaça, Duque teria dito para o suspeito ficar calado e não delatar o esquema criminoso do qual fazia parte.Após as investigações, a PCDF verificou que o advogado compareceu à carceragem a pedido do auxiliar administrativo Renato Itajahy Malcotti, ligado à Secretaria de Planejamento. Malcotti tem relação com o ex-auditor fiscal de atividades urbanas do DFTrans Pedro Jorge Oliveira Brasil, um dos alvos de prisão da primeira fase da Trickster, deflagrada em março. Possui três passagens por peculato e uma por estelionato.
Na operação, batizada de Coertio e deflagrada pela Coordenação Especial de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado, contra a Administração Pública e à Ordem Tributária (Cecor) e pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), tanto o advogado quanto o servidor estão sendo investigados pelo crime de coação no curso do processo. As medidas foram cumpridas nas casas dos suspeitos, no Lago Sul e Guará, e em escritórios na Asa Norte e no Saan.
Malcotti tem o mesmo nome do pai, apontado como um dos operadores da Caixa de Pandora. Em 2014, o empresário virou réu na Justiça, junto com outros ex-gestores, entre eles, o ex-governador José Roberto Arruda, acusado de fazer parte do esquema.
Delegado Wenderson Teles fala sobre a operação. Confira:
Esquema bilionário
Com base nas diligências da PCDF, o esquema de fraude no sistema de bilhetagem funcionava desde 2014. As fraudes ocorriam por meio da compra de créditos fraudulentos, destinados a empresas de chamada e funcionários fantasmas. As irregularidades podem ter causado prejuízo superior a R$ 1 bilhão aos cofres públicos.
Pedro Jorge Brasil, que era lotado desde 2014 na Subsecretaria de Fiscalização, Auditoria e Controle (Sufisa), da Secretaria de Mobilidade, seria o líder do esquema. Segundo os investigadores, ele se utilizava do cargo para vincular falsos funcionários ao recebimento de vale-transporte. Outros servidores do DFTrans o ajudavam a alimentar o sistema com as informações.
De acordo com a Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público e Social (Prodep), do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, o grupo liderado por Pedro Jorge inseriu dados falsos de 903 pessoas no sistema. Foram criadas 10 empresas fictícias com o objetivo de simular vínculo para geração de créditos de vale-transporte a fim de adquirir vantagens econômicas indevidas.
Em março deste ano, um ano após a primeira fase da Trickster, cinco pessoas foram denunciadas pelo MP, entre elas, Pedro Jorge. Elas responderão por organização criminosa e crime de inserção de dados falsos em sistema de informações. Promotores também pedem reparação mínima de mais de R$ 2,3 milhões pelos danos causados pela prática criminosa.
A operação, batizada de Trickster, refere-se à forma de agir do grupo criminoso, pois na mitologia e no estudo do folclore e da religião, um trickster é Deus, Deusa, espírito, homem, mulher ou animal antropomórfico que prega peças ou desobedece regras e normas de comportamento.