PCDF busca impressões digitais na igreja onde padre Casemiro foi morto
Peritos analisam material à procura de vestígios que possam ajudar na identificação dos criminosos. Polícia já tem quatro suspeitos
atualizado
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Peritos papiloscopistas do Instituto de Identificação da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) analisam o material coletado na Paróquia Nossa Senhora da Saúde, na 702 Norte, onde o padre Kazimerz Wojno, mais conhecido como padre Casemiro, 71 anos, foi brutalmente assassinado na noite de sábado (21/09/2019). O religioso, que morava em uma casa nos fundos do terreno, foi rendido por bandidos. Na ação, os criminosos também mantiveram o caseiro refém.
Os profissionais da PCDF recolheram evidências que podem ajudar na identificação dos assaltantes. Nos próximos dias, os papiloscopistas concluirão laudos com o resultado da análise de fragmentos de impressões digitais. A 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte) está à frente das investigações e já tem quatro suspeitos. No entanto, a identidade deles não foi divulgada para não atrapalhar as apurações.
A ordem na corporação é manter o máximo de sigilo possível sobre o caso e evitar que se repita o ocorrido após a prisão do maníaco Marinésio dos Santos Olinto, em agosto. Na época, com a profusão de denúncias envolvendo o assassino confesso de duas mulheres e mais de uma delegacia responsável por apurar os crimes atribuídos ao cozinheiro, a própria PCDF divulgou informações conflitantes.
A Polícia Civil iniciou as diligências em busca dos suspeitos de matar o padre. O caso teve grande repercussão no Distrito Federal e sensibilizou Ibaneis Rocha (MDB). Na manhã dessa segunda-feira (23/09/2019), o governador chegou a pedir desculpas à população pela onda de violência na capital do país.
À tarde, durante a missa de corpo presente na Paróquia Nossa Senhora da Saúde, o cardeal dom Sérgio da Rocha, arcebispo de Brasília, comentou a tragédia. “A igreja está ferida com a morte violenta do padre Casemiro. A igreja se sente ferida quando homens e mulheres morrem com tanta violência.” Após a missa, o corpo do líder religioso foi levado ao Cemitério Campo da Esperança da Asa Sul, onde foi sepultado sob forte comoção.
Depoimentos
No início da tarde de domingo (22/09/2019), os investigadores colheram depoimentos de envolvidos, testemunhas e do caseiro que foi mantido refém pelos bandidos com o pároco.
A polícia trabalha com a hipótese de latrocínio – roubo seguido de morte. Segundo o delegado Laércio Rosseto, titular da 2ª DP, não há dúvida de que os bandidos tinham conhecimento da rotina da igreja, pelo modus operandi de como executaram o crime. Eles também podem ter matado o religioso após terem sido reconhecidos.
Os criminosos ficaram entre duas e três horas na casa do padre. De acordo com o delegado, o imóvel tinha cofres modernos e os bandidos estavam preparados para arrombá-los. “Havia um cofre de um metro e meio de altura”, pontuou Rosseto. Os bandidos levaram uma serra do tipo makita, pé de cabra, barras e picaretas. Saíram carregando mochilas. Deixaram caixas de relógios caros para trás. Não se sabe ainda o que levaram.
“Agora, pessoas estão sendo ouvidas e as informações são conflitantes. Há pontos divergentes e que não estão ainda esclarecidos. Os suspeitos ouvidos podem não ter atuado diretamente no crime, mas sim de forma indireta. Ainda é cedo e precisamos ter cautela”, afirmou Rosseto.
A polícia tem imagens da movimentação dos suspeitos. Uma das gravações mostra o rosto de um investigado. O conteúdo está sendo analisado e, por isso, ainda está sendo mantido sob sigilo.
Rosseto revelou que uma das linhas de investigação suspeita de moradores de rua da região. “Ele [Casemiro] era uma pessoa muito austera”, ressaltou. “Estamos checando se houve desavença com algum morador de rua”, completou.
Latrocínio
Padre Casemiro foi estrangulado na noite desse sábado (21/09/2019). O religioso foi encontrado com os pés e as mãos amarrados e com um arame envolto ao pescoço. Também tinha uma lesão na cabeça, segundo a polícia. O corpo estava do lado de fora da casa paroquial, que fica nos fundos da igreja. A causa da morte só será esclarecida após a autopsia.
Os investigadores contam com o testemunho do caseiro José Gonzaga da Costa, 39, que também foi feito refém pelos bandidos, mas conseguiu fugir e pedir socorro. À PCDF, o funcionário disse que os suspeitos estavam armados. “Segundo o relato, um dos indivíduos deu um soco no rosto dele e colocou uma arma em sua boca. Ele ouviu os outros falarem que também estavam armados”, apontou Rossetto.
“Barbárie”
“Não havia a menor necessidade de eles cometerem essa barbárie. Pela forma como ele foi morto. Se eles queriam roubar poderiam ter mantido ele preso dentro do banheiro, restringido a liberdade dele. Não havia necessidade de ceifar a vida deste ser humano”, lamentou Rosseto.
Há, por enquanto, quatro suspeitos de terem participado do crime. Imagens das câmeras de segurança da igreja já estão sendo analisadas pelo Polícia Civil. Nelas, é possível identificar o quarteto pulando a cerca do templo religioso momentos antes do crime que tirou a vida do líder paroquiano.
Rosseto explicou que o crime ocorreu quando o padre se dirigia para uma obra, nos fundos da paróquia, após celebrar a missa das 18h30. “Pelo levantamento que fizemos, foi entre 18h40 e 21h40. Temos suspeita de que quatro homens já esperavam por ele no local”, disse. A PCDF já sabe o trajeto de fuga adotado pelos criminosos, que deixaram, pelo caminho, um HD, um celular e uma maleta.
Segundo o investigador, na fuga, os criminosos deixaram parte dos objetos roubados. “A casa está toda revirada. Um cofre foi arrombado e temos imagens que mostram eles pulando o muro da igreja”, finalizou o delegado.
Suspeitas
Padre Casemiro já havia alertado as autoridades policiais do DF sobre a insegurança que ronda a região. Há cinco meses, em 21 de abril deste ano, em pleno Domingo de Páscoa, ladrões invadiram o templo e levaram o sacrário do altar. A peça havia sido doada há 20 anos e tem valor estimado em R$ 20 mil.
De acordo com o delegado-chefe da 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte), Laércio Rossetto, no momento não é possível vincular os suspeitos do crime aos autores do roubo do sacrário. “Não podemos fazer essa ligação ainda.”
A Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri), da PCDF, auxilia nas investigações.
Testemunha
Célio Gonzaga da Costa, irmão do caseiro que dormia no local na hora do crime, disse ao Metrópoles que o caso aconteceu logo após o religioso celebrar a missa das 18h30. Padre Casemiro, como é conhecido pelos fiéis, tinha ido fiscalizar uma obra que acontece no terreno da paróquia.
“Meu irmão contou que eram quatro criminosos. Eles pularam a grade, mas eu não ouvi porque estava dormindo. Acordei quando meu telefone vibrou por volta das 21h30. Foi quando ouvi meu irmão gritando socorro e fui acudir. Nesse momento eles fugiram”, revelou Célio. José Gonzaga sofreu escoriações nos braços, mãos e foi transportado para o Hospital Regional da Asa Norte (Hran) estável e orientado. Foi ele quem conseguiu gritar por socorro, afugentando os ladrões, segundo a corporação.