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PCDF abre inquérito contra médico acusado de deformar 30 pacientes

Em dois dias, 10 pessoas procuraram a Corf para denunciar o cirurgião Wesley Murakami, que agora passa a ser oficialmente investigado

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O médico acusado de deformar os rostos de pelo menos 30 pacientes em Brasília e Goiás passou a ser oficialmente investigado pela Polícia Civil do Distrito Federal. Somente entre quarta (5/12) e essa quinta-feira (6), a Coordenação de Repressão aos Crimes Contra o Consumidor (Corf) recebeu 10 denúncias contra Wesley Murakami e abriu inquérito.

Nos próximos dias, a lista deve aumentar, pois, como mostrou o Metrópoles, um grupo de WhatsApp reúne pelo menos 30 pessoas que alegam terem sido vítimas de procedimentos malfeitos. De acordo com o delegado adjunto da Corf, Jônatas Silva, os denunciantes foram encaminhados ao Instituto Médico Legal (IML), após o registro das ocorrências, para a realização de exame de corpo de delito. “Além disso, instauramos inquérito policial para averiguarmos as queixas”, explicou Silva.

Além das denúncias feitas no DF, outras seis foram registradas no 4º Distrito Policial do Estado de Goiás, segundo informou o advogado de Wesley Murakami, André Bueno. Nas redes sociais, o médico se apresenta como especialista em cirurgias de bioplastia e harmonização facial.

Não é apenas na esfera policial que o cirurgião terá de se explicar. No Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF), corre contra o profissional de saúde um processo ético instaurado pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás. Ele também responde a uma sindicância de natureza ética. Os procedimentos correm em sigilo.

Os clientes de Wesley Murakami queixam-se do resultado do procedimento que consiste na aplicação de PMMA (sigla para polimetilmetacrilato, um plástico apresentado no formato de microesferas). A suspeita é de que Wesley tenha introduzido o produto em excesso e em locais nos quais não haveria necessidade.

Após o caso se tornar público, mais pessoas tomaram coragem para contar suas experiências traumáticas na mesa de cirurgia do médico. O “Dr. Murakami” – como o profissional se apresenta nas redes sociais – usava a estratégia de apontar defeitos na face de quem se interessava pelos seus serviços.

Tatiane Seles Pereira, 41 anos, quase caiu na lábia do suspeito. Há dois anos, ela procurou o consultório de Murakami no Taguatinga Shopping para tirar dúvidas sobre a remoção de uma mancha no rosto. Durante a conversa, conta ter sido convencida por ele a realizar outros procedimentos estéticos.

Eu me senti horrível. Fui para remover uma mancha e ele saiu prometendo muita coisa. Apresentou mil defeitos em mim. Saí de lá acabada

Tatiane Seles Pereira, paciente

Uma outra paciente, sob condição de anonimato, reconheceu o poder de persuasão do médico. “Não gostava muito do meu queixo e tinha mesmo de fazer uma cirurgia para corrigir um problema na mordida, mas ele me colocou em frente ao espelho e saiu apontando vários defeitos.”

Ameaça
O resultado, no entanto, não foi como planejado, e a paciente passou a sentir vergonha de sair de casa. A mulher chegou a procurar o profissional após a cirurgia, descrita por ela como um “completo fiasco”. Murakami teria se comprometido a ressarcir os R$ 9 mil gastos, mas não cumpriu com a palavra.

“Fizemos um acordo. Inicialmente, ele me pagou R$ 1,5 mil e prometeu pagar o resto, mas está sempre adiando.” Após denunciá-lo, ela diz ter sido procurada pela equipe do médico, pressionando-a com tom ameaçador. “Hoje recebi uma mensagem que dizia: ‘Eu vi você na televisão, tá?’. Estamos todos com medo, esse cara nos dá muito medo. É aterrorizante.”

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O médico é acusado de deformar o rosto de pacientes
Em 2012, Alexandre Garzon procurou o profissional para o procedimento cirúrgico conhecido como harmonização facial e bioplastia
Alexandre conta que ficou com o rosto deformado, pois o médico teria aplicado “material em excesso e em locais que não era para aplicar”
A administradora Amanda Nepomuceno antes de realizar a bioplastia
Antes e depois de Amanda
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Wesley Murakami atendia em Goiânia e no Taguatinga Shopping

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O médico é acusado de deformar o rosto de pacientes

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Em 2012, Alexandre Garzon procurou o profissional para o procedimento cirúrgico conhecido como harmonização facial e bioplastia

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Alexandre conta que ficou com o rosto deformado, pois o médico teria aplicado “material em excesso e em locais que não era para aplicar”

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A administradora Amanda Nepomuceno antes de realizar a bioplastia

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Antes e depois de Amanda

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Amanda após o procedimento

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“Bumbum irregular”
Além de ser acusado de deformar o rosto de dezenas de pessoas, Wesley Murakami é apontado como autor de erro médico ao realizar bioplastia nos glúteos da enfermeira de Goiânia (GO) Kellyane Fonseca, 28. Ela procurou o profissional a fim de tornear o bumbum. Murakami garantiu que o procedimento seria feito com PMMA, mas uma outra substância usada provocou queimaduras de segundo grau na mulher.

Kellyane voltou a procurar o médico, que teria se prontificado a fazer uma segunda intervenção. “Meu bumbum ficou todo irregular. Fui atrás e ele prometeu fazer outra aplicação e corrigir. Nessa nova aplicação, reclamei de dor o tempo todo, ameacei desmaiar, e a todo instante ele me dava água com açúcar. No término, precisei usar oxigênio, pois apresentei insuficiência respiratória.”

Oito dias após a segunda cirurgia, o estado de saúde de Kellyane apresentou piora. “Tive febre e precisei procurar um médico. Estava com infecção. Imediatamente, optaram pela minha internação, quando fiquei oito dias à base de antibióticos.”

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Procedimento
Na última semana, sem saber que estava sendo gravada, a secretária da clínica de Murakami em Goiânia explicou o procedimento “sem corte”. Segundo ela, cobra-se R$ 80 por um atendimento inicial. “A gente pede para fazer um levantamento. Tudo isso é analisado com nosso médico, e ele vai te falar direitinho o valor. Essa consulta é R$ 80, e o valor pode ser descontado caso você feche um procedimento.”

Questionada sobre os efeitos colaterais, a funcionária negou os riscos. “Não tem, porque esses produtos são autorizados pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] e foram testados até mesmo para pessoas com diabetes. Não tem contraindicação. Assim, o doutor pede para o paciente não beber, dá os remédios direitinho e pede para ele fazer o retorno dentro de 10 dias”, explicou a funcionária.

Outro lado
Procurado pelo Metrópoles, Wesley Murakami respondeu às acusações por meio de uma nota repassada pelos seus advogados. Sobre as denúncias de convencer pacientes a realizarem procedimentos sem necessidade, disse que “persuadir pacientes é importante para que a pessoa veja qual poderia ser o resultado do procedimento e mostrar quais pontos precisam de intervenção”.

Já em relação aos casos registrados no DF, informou que a equipe de defesa do médico tem ciência apenas de uma denúncia. “A clínica que fica situada no Taguatinga Shopping possui todas as licenças e alvarás para funcionar”, sustentou.

“A assessoria jurídica do médico já esteve na delegacia e aguarda informações das autoridades policiais sobre denúncias formalizadas. O médico está disponível para contribuir com o bom andamento das investigações e fará tudo que for possível para esclarecer os fatos, apresentando sua capacidade teórica e prática, profissionalismo e ética”, finalizou em nota.

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