PCC, CV, Amigos do Estado e mais 4 facções têm atuação no DF e Entorno
Documento do Ipea, vinculado ao Ministério do Planejamento e Orçamento, indica a presença de pelo menos quatro facções criminosas no DF
atualizado
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Por alguns anos, o grupo criminoso Comboio do Cão (CDC), que se originou no Distrito Federal, atuou de maneira quase isolada dentro dos limites da capital da República. No entanto, facções nacionais vêm aumentando sua teia de influência e chegaram a Brasília e seus arredores. Pelo menos sete organizações exercem algum tipo de influência no DF e no Entorno.
De acordo com o Atlas da Violência, relatório produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Brasília não foge do padrão nacional da violência das grandes cidades. Além do Comboio do Cão, a cidade conta com a presença do Primeiro Comando da Capital (PCC) e do Comando Vermelho (CV). No fim de 2022, a polícia do DF identificou a chegada do Terceiro Comando Puro (TCP), proveniente do Rio de Janeiro. Apesar de não apontados no documento do Ipea, outros grupos rondam ou participam do mundo do crime no centro do país e, por esse motivo, estão constantemente presentes nas notícias da capital federal.
Veja as facções que têm algum tipo de vínculo com o DF:
“Além da presença do CV e do PCC, o DF sofre com a atuação da facção local Comboio do Cão, conhecida pelo modo sanguinário de agir dentro e fora dos presídios, responsável por dezenas de homicídios em 2022 e conectada a traficantes da fronteira com o Paraguai. Como de se esperar pela localização geográfica, o crime na região possui relação totalmente imbricada com o tráfico do estado do Goiás”, aponta o Atlas da Violência.
Existe ainda a sombra de outra facção criminosa que atua em regiões muito próximas de Brasília, inclusive no Entorno do DF. Amigos do Estado (ADE) é uma organização que opera no mundo do crime goiano com foco no tráfico de drogas. Eles são responsáveis por boa parte dos homicídios que ocorrem em Goiás – os municípios de Luziânia e Cristalina apresentam as maiores taxas das mortes violentas do estado.
Sobre a facção goiana, o Atlas da Violência aponta: “Parcela significativa dos homicídios são atribuídos a traficantes integrantes da facção Amigos do Estado (ADE), que fornecia drogas para o Comboio do Cão (originário do DF), movimentando mais de R$ 1 bilhão com tráfico e assaltos”. Neste ano, a Polícia Federal, junto com a Força Integrada de Combate ao Crime Organizado do Distrito Federal (Ficco), realizou megaoperação contra a ADE.
Outras facções criminosas
Apesar de não ser citada pelo relatório do Ipea, a Família do Norte (FDN), criada no Amazonas e considerada a terceira maior facção criminosa do país, possui vínculos fortes com Brasília. Em 2019, por exemplo, cerca de 260 policiais civis do DF fizeram parte da Operação Gomorra para desarticular uma organização que funcionava como um braço da FDN na capital federal.
O grupo é acusado de tráfico de drogas, comércio ilegal de armas e furtos de celulares em grandes eventos e roubos. Hudson Maldonado, então delegado-chefe da 13ª DP (Sobradinho), confirmou, na época, a vinda de faccionados da FDN para criar uma célula criminosa. As apurações policiais flagraram ainda o acordo firmado entre integrantes da quadrilha para matar desafetos.
Uma operação desencadeada pelas polícias civis do Ceará (PCCE), de Goiás (PCGO) e do Distrito Federal (PCDF) revelou a existência de integrantes de uma facção criminosa que domina a maioria dos presídios cearenses, bem como boa parte de comunidades localizadas em Fortaleza. As corporações prenderam um dos líderes da organização Guardiões do Estado (GDE) em Luziânia, no Entorno, no ano passado.
O alvo das polícias era Felipe Pereira Silva, mais conhecido como Felipe Cabeça. O criminoso estava escondido próximo ao DF havia quatro meses. Mesmo distante, o chefão da Guardiões do Estado ainda comandava uma onda de crimes no Ceará. Aliada do PCC e inimiga feroz do Comando Vermelho (CV), a facção GDE é conhecida por monopolizar o tráfico de drogas e ordenar homicídios em série contra seus rivais.
Comboio do Cão
De origem local, a facção é considerada responsável por uma série de crimes em diversas regiões administrativas do DF, sobretudo pela prática de crimes violentos em contexto de “guerra” pelo controle de territórios e pontos de venda de drogas, além de roubos e tráfico de armas de fogo.
Em 30 de abril de 2021, a PCDF prendeu um indivíduo considerado a principal liderança e um dos fundadores do grupo. A prisão ocorreu na cidade de Paranhos (MS), localizada na fronteira com o Paraguai. Em outubro do ano passado, o conjunto teve outro chefe detido pelas forças de segurança distritais. Luiz Gonzaga da Rocha, conhecido como Juninho, 36 anos, foi encontrado na praia de Pirangi do Norte, no município de Parnamirim (RN).
Inimigas mortais, as facções criminosas PCC e Comboio do Cão protagonizam disputas territoriais, inclusive atrás dos muros do Complexo Penitenciário da Papuda. Com exclusividade, a coluna Na Mira, do Metrópoles, revelou uma carta escrita por um dos integrantes da organização paulista e interceptada pelas autoridades revelando pedido de socorro e receio do grupo liderado por Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, de ser massacrado pelos integrantes do Comboio do Cão.
Presença dos líderes do PCC e CV no DF
A partir de 2019, o DF passou a receber lideranças do PCC, do Comando Vermelho (CV) e da Família do Norte. Todos são considerados detentos de altíssima periculosidade e foram confinados na Penitenciária Federal de Brasília. A chegada mais expressiva às prisões do DF é a de Marcola. Ele é o líder máximo do PCC e voltou ao presídio da capital da República no início do ano passado.
A instalação do crime organizado no DF é motivo de preocupação para o Executivo local. Durante entrevista ao Metrópoles, em dezembro do ano passado, o governador Ibaneis Rocha (MDB) declarou que membros de organizações criminosas estão comprando comércios e residências em cidades no Entorno do DF. Esse movimento, segundo Ibaneis, gerou aumento de crimes como tráfico de drogas na capital federal.
Para o titular do Palácio do Buriti, as ações de organizações como o PCC se aproximam do DF devido à transferência de grandes nomes desses grupos para o Presídio Federal de Brasília: “Vemos com muita preocupação, porque eles vão tomando conta do Entorno, comprando residências, estabelecimentos comerciais. Isso tudo por conta dessa aproximação. O aumento do tráfico de entorpecentes é uma coisa que gera a chegada desses grupos criminosos, e também o fato de terem trazido criminosos para o Presídio Federal do Distrito Federal”.
Nelson Gonçalves, especialista em segurança pública, explica que os elementos em torno de um chefe das facções criminosas o acompanham aonde quer que ele vá. “Funcionam como interlocutores dos que estão de fora com os que estão dentro das prisões. Isso traz, obviamente, uma série de orientações da parte do comando dessas organizações para que haja determinadas ações, que podem incluir a aquisição e disponibilização de armas.”