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Patrulha da moda: novas regras na PMDF revoltam tropa feminina

Novo regulamento publicado pela corporação traz medidas polêmicas, segundo as policiais, como obrigatoriedade de maquiagem e do uso de coque

atualizado

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Giovanna Bembom/Metrópoles
policiais militares
1 de 1 policiais militares - Foto: Giovanna Bembom/Metrópoles

Após a divulgação do novo Regulamento de Uniformes da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), mulheres que integram a corporação avaliaram como “retrocesso” as medidas anunciadas para “padronizar” a aparência da tropa.

Metrópoles teve acesso a inúmeras reclamações das policiais em conversas reservadas por meio de grupos de aplicativo. As principais delas tratam da obrigatoriedade do uso de maquiagem e da determinação sobre o tipo de cabelo a ser usado pelas integrantes da corporação.

A reportagem vai preservar os nomes das militares, para que não sejam punidas. “As policiais femininas estão indignadas com a postura da comandante em relação a elas. Pensaram que, finalmente, seriam tratadas com igualdade de gênero, mas guardando as peculiaridades da mulher. Mas não. Voltamos a 1983, quando entraram as primeiras policiais femininas”, reclamou uma oficial em grupo reservado de WhatsApp.

“Só de ler o regulamento, a gente vê que é um retrocesso”, escreveu outra. Para algumas, o regulamento viola a individualidade feminina. “Fomos proibidas de usar rabo de cavalo. Agora, só coque. Uso obrigatório de maquiagem”, endossou outra policial.

A restrição foi vista de forma prejudicial para oficiais e cadetes negras ou com cabelos crespos, uma vez que as induz ao alisamento capilar. “Imagine o nosso constrangimento de ter que modificar a nossa natureza, a nossa origem, porque o comando entende que todas precisam estar de coque. Isso é um grande abuso de poder e tira de nós, mulheres, as nossas naturezas”, desabafou uma PM diretamente ao Metrópoles.

Em outra mensagem, mais uma crítica: “A adequação dos uniformes se dará em um prazo de 18 meses, mas a mudança na apresentação individual é imediata, ou seja, a partir de agora nada de rabo de cavalo em atividade que não seja educação física, nada de sapatos de salto fora das especificações técnicas e nada de andar com brincos e adornos fora do especificado”, reclamou.

 

Reprodução / DODF
Penteado coque será usado o tempo todo pelas policiais; rabo de cavalo apenas em momentos de exercícios

 

Entenda o caso
A PMDF publicou no Diário Oficial (DODF) da última quinta-feira (4/4) a atualização do Regulamento de Uniformes da Polícia Militar. Além de definir um novo modelo de farda – criado a partir de tecido resistente a fatores como sol, chuva e óleo –, a corporação reforçou tradições antigas, como a utilização de produtos de beleza no rosto, e até limitou uso de anéis e brincos, além de proibir acessórios, como piercings e lentes de contato.

O regulamento é categórico ao exigir o embelezamento das mulheres enquanto estiverem a serviço da corporação. A única exceção é se houver alergia ou intolerância aos produtos. “Em caso de prescrição médica ou determinação superior fundamentada, a policial militar feminino será dispensada do uso de maquiagem e de outros produtos”, destaca a norma.

A instituição “liberou” apliques capilares e até o estilo rastafári, “desde que seja no mesmo tom de cabelo usado, devendo, obrigatoriamente, ter comprimento e quantidade moderadas, para o uso do coque sem excessivo volume”.

Pela variedade de tipos de cabelo, a PMDF orienta que “todos devem ser cuidadosamente penteados e arrumados, a fim de conter o volume, o que possibilitará o uso correto das coberturas e a manutenção da estética, uniformidade e harmonia na apresentação pessoal”.

Veja a galeria com os novos uniformes:

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Para o major Menegasse, integrante do grupo de trabalho que criou o regulamento, as regras são históricas e inspiradas nas tradições das forças militares. “Se alguém vai trabalhar em uma empresa aérea, por exemplo, precisa estar impecável. Nosso objetivo é ser tão ou mais exemplar do que os comissários de voo. A gente vem de uma sociedade plural, com características diferentes. Então, a uniformização de procedimentos é sempre uma forma de tratar todos de forma igual”, disse.

A declaração também causou desconforto entre as policiais. “Nós, da PMDF, não ficamos dentro do ar-condicionado, servindo comidas e oferecendo orientações de segurança de voo. Nós estamos nas ruas, entrando e saindo do camburão, prendendo bandidos. E querem que nos pareçamos com comissária de voo? Isso é, no mínimo, ridículo”, revoltou-se uma oficial.

Experiente na corporação, com muitos anos de carreira, a policial militar ficou indignada ao se lembrar de quando assumiu o posto dentro da PMDF.

“Quando eu entrei, tive que cortar meu cabelo dentro do alojamento, naquela hora exata. Você não podia ter cabelo que ultrapassasse os 30 cm. Recentemente, isso havia caído. Agora, voltou a ser obrigatório. A indignação maior é de estarmos sob comando-geral justamente de uma mulher”, reclamou.

 

O outro lado
Acionado, o Centro de Comunicação Social da PMDF preferiu manifestar-se por nota. Em texto enviado ao Metrópoles, o Comando-Geral explicou que a exigência do coque se deu pelo fato de que todo efetivo administrativo trabalha em condições de pronto-emprego, ou seja, a tropa pode ser acionada a qualquer momento para atuar no serviço operacional.

“Sendo assim, por questões de segurança durante o exercício da atividade policial, exige-se o uso do coque, visando à segurança da policial militar e à rapidez para colocar o policiamento nas ruas. Ademais, o rabo de cavalo não foi proibido, apenas teve o uso regulamentado com uniformes específicos para atividade física”, pontuou.

Sobre o uso de produtos de embelezamento por policiais mulheres, a nota esclarece que “a maquiagem já era de uso obrigatório e não houve alteração. O mesmo caso aplica-se às unhas, pois nenhum regulamento determina que elas estejam pintadas, e, sim, orienta sobre as cores a serem utilizadas caso a policial queira optar por pintá-las”, pontuou.

A última versão das regras sobre o uso e o modelo das fardas havia sido publicada no DODF de 31 de janeiro de 2013. Já as “normas referentes a aspectos da apresentação” para policiais do sexo feminino eram estabelecidas pela Portaria 332/2001, há 18 anos.

Sob responsabilidade dos superiores imediatos, a fiscalização ocorrerá diariamente dentro dos grupamentos e batalhões específicos. De acordo com o major Menegasse, na primeira ocorrência de descumprimento, o policial é advertido discretamente pelo superior. No caso de reincidência, o efeito pode se tornar administrativo.

“Se não tiver nenhum caso anterior e a infração for muito grave, recebe advertência. Se já houver histórico de desobediência, há a repreensão. Em casos mais graves, com registros raros, pode ocorrer a detenção administrativa, mas em casos muito extremos”, explicou.

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