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Pastor cria projeto para “injustamente denunciados” de bater em mulher

Criador de grupos de assistência para mulheres e crianças, Anderson Silva diz que é necessário também olhar para este problema

atualizado

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Diego Sulivan/ Arquivo Pessoal
Pastor Anderson Silva
1 de 1 Pastor Anderson Silva - Foto: Diego Sulivan/ Arquivo Pessoal

O pastor brasiliense Anderson Silva, que causou polêmica nas redes sociais no mês passado ao divulgar texto no qual comenta sobre o “potencial demoníaco” das mulheres, divulgou que iniciará um projeto de assistência jurídica a homens denunciados injustamente por crime sexual, agressão contra a mulher ou aqueles que sofrem na disputa pela guarda dos filhos. A expectativa é de que os atendimentos comecem no próximo mês.

Ao Metrópoles, o líder religioso explica que, ao trabalhar ajudando mulheres e crianças, ele passou a perceber que havia uma “variável”. “A prioridade sempre é para os grandes casos. Sabemos que os índices maiores são de homens que agridem as mulheres; por isso, começamos a rede de apoio a elas, mas, agora, vamos também olhar este outro problema”, comenta.

Ele explica que não é uma questão de ideologia e ressalta que tanto homens quanto mulheres podem estar errados nessas situações. “Botando o pé no chão, o ser humano é potencialmente mal. Não interessa se é de esquerda ou de direita. Numericamente, os casos não são semelhantes, mas também acontece”, destaca.

A principal preocupação dele é garantir que homens inocentes não fiquem presos injustamente ou sofram com alienação parental. “Não vou relativizar a vítima. Ela é sempre prioridade, mas vamos oportunizar de o acusado se expressar. Tenho um caso de pedido de ajuda no qual o homem diz que sempre foi agredido pela esposa, mas ela que registrou ocorrência contra ele”, exemplifica.

Entre as bases teóricas e jurídicas utilizadas pelo pastor está a chamada “Síndrome da mulher de Potifar”, termo utilizado na criminologia. O caso está na Bíblia e conta a história da esposa do general Potifar. Ela teria acusado falsamente o escravo José de estuprá-la após ficar com o ego ferido por ter sido rejeitada pelo servo.

Potencial demoníaco da mulher

Anderson causou polêmica nas redes sociais em setembro ao divulgar texto no qual comenta sobre o “potencial demoníaco” das mulheres. Na postagem, ele diz que mulher é “orgulhosa, vingativa e manipuladora”.

A publicação foi feita em 21 de setembro e teve grande repercussão com mais de 750 reações, quase 400 comentários e 150 compartilhamentos.

Confira a postagem

O ponto defendido pelo pastor, no entanto, causou reações distintas. Mesmo nos comentários da publicação, algumas pessoas criticaram o que entenderam ser machismo.

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Outros membros da comunidade evangélica também criticaram o texto. Um teólogo disse que “o evangelho nos ensina que as irmãs não são nem demônios nem anjos, são apenas mulheres criadas por Deus, caídas desde o Éden, necessitadas da redenção que vem de Cristo, e que junto com os homens crescem em santificação”.

Outra teóloga afirmou que “a ‘maldade oculta’ da mulher não é vencida ou dominada pela liderança de um homem em sua vida, mas pelo senhorio de Cristo, o redentor de todos nós”.

A reportagem tentou contato com o pastor para ouvir a versão dele, mas não obteve resposta. O espaço, no entanto, permanece aberto para possíveis manifestações.

Em uma transmissão ao vivo realizada poucos dias após as críticas, Anderson argumentou sobre o que quis dizer. Segundo ele, não é possível julgar o texto apenas pelo o que está escrito, mas é necessário entender toda a trajetória dele para analisar a postagem.

Em pouco mais de uma hora, o religioso explica ponto a ponto o texto. “A mulher tem o potencial demoníaco mais elevado que o homem, pois a maldade do homem você vai ver em breve, a da mulher nem sempre você verá. Como se expressa menos agressivamente, a mulher tem tempo de construir a maldade interna, emocional”, explica.

Anderson argumenta que a violência contra a mulher é injustificável, mas diz que o homem não age sozinho. “A gente tem de voltar lá atrás para perguntar qual foi a participação da mulher nesse ecossistema. Ele responde sozinho pelo crime que cometeu, porém o evangelho não tira dela a responsabilidade moral, doutrinária de participar com sua manipulação na produção do ecossistema que produziu a violência”.

O pastor culpa ainda o feminismo por colocar a mulher em uma posição de “superioridade moral”. “Como se a mulher não tivesse o potencial de ser igual ao homem ou pior, dependendo do contexto”, defende.

Outro projeto

No ano passado, o Metrópoles mostrou a história do projeto Nossas Histórias Curam. A rede de apoio é liderada pelo pastor e atua no enfrentamento de abusos cometidos contra mulheres e crianças sob aval da religião. “O Nossas Histórias Curam nasceu com o meu sentimento de indignação de que a religião se torna perpetuadora desse tipo de violência”, destacou na época.

“Cada projeto desses é consequência de um tipo de indignação. Eu tenho de fazer algo com essa ira, porque, se eu não fizer, ela é contrária a mim, ela me destrói. Eu canalizo o meu sentimento de ira e de indignação com a injustiça criando um projeto capaz de amenizar essa realidade”, explicou o pastor.

Segundo Anderson, há um “submundo nas igrejas”, em que os casos de assédio ocorridos são amenizados e restruturados, com narrativas que fazem a vítima ter medo de denunciar o autor do crime. A rede oferece tratamento terapêutico, o que ajuda as vítimas a lidarem com a dor de modo humanizado.

Em 2016, o pastor também ganhou repercussão ao se ajoelhar diante de homossexuais e pedir perdão pela rejeição que a comunidade evangélica tem a eles. Na igreja dele, dizia, todos eram aceitos. Velhos, jovens, travestis, transexuais, homossexuais, militares, artistas, casais hétero, solteiros, moradores de rua, ricas e pobres. Havia cultos com apresentação de dança, música, exibição de artes plásticas, nos quais se falava sobre aborto, feminismo e outros temas polêmicos dentro do meio religioso.

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