Passarelas e viadutos em condição precária entram na mira do GDF
Buriti cria grupo de trabalho com prazo de 30 dias para conclusão de vistorias em 700 equipamentos viários do DF
atualizado
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Estrutura corroída pela ferrugem, pisos que afundam e a cerca do guarda-corpo de pedestres completamente destruída. A situação encontrada na principal passarela da Estrutural nesta quinta-feira (23/05/2019) é a mesma de fevereiro, quando o Departamento de Estradas de Rodagem (DER-DF) garantiu a liberação de R$ 4,3 milhões para manutenção de 56 travessias de pedestres em estado precário de conservação. Quatro meses após o anúncio de uma “ação emergencial” para revitalizar esses equipamentos, o abandono continua no local.
O descaso na Estrutural não é isolado: outras passarelas, viadutos e até mesmo a Ponte JK padecem com a falta de manutenção por parte de órgãos do governo. Com o alerta do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do DF (Crea-DF) sobre a situação dos equipamentos públicos em todas as regiões administrativas, o Governo do Distrito Federal (GDF) decidiu criar um grupo de trabalho multissetorial, com a participação de entidades representativas, para a realização de inspeções nesses locais.
O decreto para criar a comissão integrada por órgãos do governo e também por entidades como o Crea-DF, Clube de Engenharia e o Conselho de Desenvolvimento Econômico, Sustentável e Estratégico (Codese-DF) foi assinado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) e segue para a publicação no Diário Oficial do DF (DODF). O Palácio do Buriti quer ter acesso a um panorama real sobre a situação de cada um dos cerca de 700 equipamentos públicos existentes nas vias do DF.
“Precisamos ter urgentemente uma avaliação precisa e isenta e levar esse relatório ao governador Ibaneis o mais rapidamente possível. Sabemos que falta manutenção em vários viadutos e aparelhos viários, mas somente o documento nos ajudará a decidir o cronograma geral para reformas e obras”, disse ao Metrópoles o governador em exercício, Paco Britto (Avante).
“Inspeção cadastral”
A medida tenta evitar episódios como o do viaduto que caiu na área central de Brasília, em fevereiro de 2018, no Eixão Sul, ou mesmo da queda de parte da estrutura de elevado no Setor Policial Sul na tarde do ultimo domingo (19/05/2019), quando um pedaço de rocha despencou e atingiu um veículo.
“Vamos fazer a chamada inspeção cadastral nesses mais de 700 equipamentos públicos, entre viadutos e passarelas. Vamos dizer se a situação deles encontra-se em risco ou não”, explicou a presidente do Crea-DF, Fátima Có.
De acordo com o decreto do chefe do Executivo, o novo grupo de trabalho terá um mês, prorrogável por outros 30 dias, para apresentar o resultado das visitas. “Não adianta alertar só na hora que acontece. A gente quer insistir nessa questão da manutenção, e essas medidas têm que estar na previsão orçamentária. O relatório final será a única forma que nós, entidades, teremos para cobrar do GDF a melhoria das atuais condições”, disse Fátima.
Precariedade
Estado de abandono. É assim que os usuários da passarela da Estrutural, logo antes da entrada da cidade de mesmo nome, definem as condições do elevado que utilizam todos os dias.
A aposentada Maximiana da Silva, 69 anos, é uma das pessoas que sofrem com o descaso. Acostumada a andar pelo elevado, ela conta que é preciso prestar bastante atenção para não se machucar. “Está precisando de uma reforma urgente. Nas escadas, tem hora que a gente pisa e afunda. É um perigo alguém tropeçar e cair”, alerta.
Já o cooperativista Almerino Rodrigues, 28 anos, diz que em alguns momentos parece que a passarela vai ceder. “Quando venta, balança tudo lá em cima. Tem muitos anos que não vejo alguém vindo fazer manutenção, e digo isso porque passo aqui todos os dias. As grades laterais estão soltas. Fora a falta de pintura”, reclama.
O problema atinge também aqueles que andam de bicicleta e precisam usar a rampa. Rejane Moraes, 20 anos, vai e volta para casa diariamente com o veículo e, para atravessar a Estrutural, a estudante não tem outra opção que não seja subir a passarela com as grades rompidas. “Muitas partes estão quebradas e o mato ao lado está alto. Só que é a única opção para conseguir atravessar”, reclama.
Quem passa tanto a pé quanto de bicicleta, como é o caso da auxiliar de serviços gerais Jacqueline Araújo, 27 anos, diz que não importa o jeito: “Não tem uma passagem que seja menos pior. Dos dois jeitos é muito ruim”, lamenta.
Além da estrutura, Jacqueline reclama da falta de segurança. Localizada longe de qualquer comércio e sem iluminação própria, a passarela se tornou um lugar de assaltos constantes. “Não tem hora, é de manhã, tarde e de noite. O lugar é muito deserto”, diz.
O outro lado
Procurado, o GDF se posicionou por meio do DER-DF. Em nota, o órgão assegurou que os serviços de manutenção das 56 passarelas aéreas “seguem normalmente”. “Em nenhum momento houve interrupção dos trabalhos, apenas uma alteração no cronograma de ordem das passagens, o que é normal de acordo com a necessidade do departamento e demanda das vias em que se encontram”, explica.
Ainda segundo a autarquia, sobre o cronograma inicialmente previsto e anunciado, “o DER-DF alterou a ordem das manutenções devido ao início da Operação EPTG, que, no momento, necessitava mais dos reparos emergenciais devido ao aumento de trânsito de pedestres pelas passarelas para os canteiros centrais. Reforçamos ainda que a ordem dos serviços não altera em nada o prazo de 12 meses para a execução dos trabalhos”, reafirma.
De acordo com o DER-DF, as passarelas da DF-075 (em frente ao Paraíba Carne de Sol, no Núcleo Bandeirante), da Candangolândia e Octogonal e da EPTG passam por manutenção. Na próxima etapa, adianta o órgão, os elevados da DF-095, da DF-001 e na BR-020 (próximo ao posto Itiquira) também passarão por melhorias.