Parque nega retratação em caso de mulher repreendida por usar biquíni
Administração do espaço alega que caso não é machismo e o problema é usar roupa de banho no local. Caso ocorreu em maio último
atualizado
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O Pontão do Lago Sul se negou a fazer uma retratação formal no caso em que a servidora pública Patrícia Nogueira alega ter sido vítima de machismo quando foi impedida de usar biquíni nas dependências do parque, em maio último. O processo segue em tramitação no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT).
O caso foi revelado pelo Metrópoles no dia seguinte ao ocorrido. Patrícia andava de bicicleta e decidiu retirar a camiseta, ficando com a parte de cima do biquíni à mostra, fato que fez com que um segurança do espaço a advertisse sobre a proibição do uso, o qual considerou “traje de banho”. No exato momento da abordagem, contudo, um homem descamisado passou pelo local, mas não teve nenhuma advertência do vigilante do parque, concedido à iniciativa privada.
Por esse motivo a defesa dela, representada pelo advogado Danilo Morais, pediu uma formalização de desculpas e que fosse feita doação de cestas básicas a uma instituição de acolhimento a mulheres vítimas de violência no DF. Na ação, é alegado que a diferença entre um top e a parte de cima de um biquíni é ínfima para que um seja permitido e outro não.
Ao contestar os argumentos, a defesa do Pontão diz que não se trata de machismo, mas “uma questão pontual configurada em uma divergência de conceito ou de interpretação de normas concernentes a traje de banho” e o problema poderia ter sido resolvido na administração do local, que estava aberta no momento da discussão.
Os advogados do parque ainda justificam que a proibição do uso desses trajes tem como intuito evitar acidentes. Uma vez que não há salva-vidas no local, ali não deve ter nenhuma pessoa vestida como se pudesse entrar na água. O problema, diz o Pontão, é a roupa de banho, não estar sem camisa.
Dessa forma, a defesa entendeu que não deveria se retratar, muito menos pagar qualquer indenização.
Entenda o caso
Patrícia Nogueira foi repreendida pelo segurança no dia 8 de maio, em Brasília, pelo fato de estar usando a parte de cima do biquíni e um short enquanto praticava exercícios ao ar livre, na beira do Lago Paranoá. O caso ocorreu durante um passeio de bicicleta no Pontão, um dos principais cartões postais de Brasília.
A abordagem se deu porque o vigilante do local informou ter sido orientado sobre a proibição de uso de “trajes de banho” por usuários dentro do complexo gastronômico e turístico da capital federal. Contudo, durante a gravação da abordagem, a servidora pública Patrícia Nogueira percebeu a aproximação de um homem sem camisa, sem que fosse igualmente alertado pela equipe de segurança do local. O Pontão afirmou que a abordagem foi equivocada.
“Fui lá, de manhã, pra tomar sol, ver o lago, e aí estava de short e coloquei a parte de cima do biquíni. Desci a blusa e aí o guarda veio, me mandou colocar a camiseta e que eu não podia ficar ali com a parte de cima do biquíni, de short, tênis, máscara, né? Mas a parte de cima do biquíni não podia mostrar. E na hora que ele estava falando isso pra mim, passou um homem andando sem camisa. Aí eu falei, mas ele tá sem camisa e eu não posso ficar com a parte de cima do biquíni? Ele falou ‘não’. Isso é um absurdo muito grande”, desabafou.
Veja o vídeo:
Abordagem
Segundo Patrícia, o vigilante orientou “de forma educada” que ela colocasse uma roupa de ginástica como forma de respeitar as regras internas do parque.
“Quer dizer, não só eles censuram o nosso corpo como querem me dizer o que eu devo usar, enquanto um homem passa sem camisa ali do lado. Fiquei muito indignada com isso. Eu estava com a parte de cima do biquíni, uma parte de biquíni grande, a diferença daquilo para o top de ginástica seria o quê? Meio grama a mais de tecido? Este é o país em que vivemos”, continuou.