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Parentes cobram resposta em missa de 7º dia de docente envenenado

Ex-diretor do CEF 410 Norte, Odailton Charles de Albuquerque Silva morreu após ingerir raticida. PCDF investiga as causas

atualizado

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1 de 1 Irmã-do-professor-envenenado - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Familiares do professor Odailton Charles de Albuquerque Silva, 50 anos, compareceram à Paróquia Maria Imaculada, no Guará, na noite desta terça-feira (11/02/2020), para a celebração da missa de sétimo dia da morte do educador do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 410 Norte. Ele foi envenenado por raticida e morreu no último dia 4.

Uma semana após o falecimento do ex-diretor, Maria José de Albuquerque Barros (foto em destaque), irmã de Odailton, continua devastada e conta que não há como descrever o sentimento. “Só quem passa por uma situação dessa sabe dizer. É muita tristeza”, lamenta.

Ela conta que Odailton era uma pessoa que gostava muito da profissão e ainda estava longe de pensar em aposentadoria. “Estava com uma filha de 7 anos, passou 8 anos na direção. Tinha vocação para isso”, lembra.

Inconformada com a morte do irmão, Maria pede justiça. “Isso foi dentro de um colégio público com um servidor de carreira. Não vou pedir, vou exigir uma solução.”

Áudios

Nesta terça, o Metrópoles publicou áudios em que o educador fala a um interlocutor sobre supostas irregularidades cometidas na escola.

Nas gravações feitas dias antes de morrer envenenado, o educador afirma que, além das “rachadinhas“, a unidade pública de ensino também teria cometido ilicitudes em processos de contratação de empreiteiras para serviços de manutenção do próprio colégio.

No registro, Charles afirma que iria procurar um deputado distrital, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e o Governo do DF (GDF) para formalizar as acusações. Segundo o docente relata, o suposto esquema beneficiaria um grupo de servidores.

“Depois, eu quero dar uma passada no gabinete para a gente conversar, porque eu quero que você me oriente. Vou fazer uma denúncia no MP e no GDF contra a questão da utilização das emendas parlamentares, que eles seguraram até abusar. Não sei se você lembra, quando fiz a denúncia pro deputado, que eles [servidores] estavam indicando empresas. Tenho as gravações e vou apresentar isso”, diz o educador no áudio.

O professor reforçou, também, ter recebido denúncias de irregularidades dos próprios colegas de trabalho. “Estão colocando gente para fazer o serviço nas escolas, gente que a gente não conhece. Eu já vi indícios assim, até conversando com outros colegas. Realmente, eles estão sendo beneficiados por contratarem essas empresas e estão recebendo algum por fora. Quero uma orientação antes de fazer alguma coisa, porque eu vou chutar o pé da barraca.”

Ouça:

Dívidas

Uma outra gravação obtida pela reportagem traz o diálogo entre o educador e um suposto amigo, a quem Charles estaria devendo dinheiro. Ele combina um dia para quitar a dívida com o credor. A origem e o fim do dinheiro ainda são desconhecidos.

“Estou com um crédito meu, pessoal, então, não vou esperar dinheiro cair do céu para acertar minhas contas. Então, na sexta-feira eu vou te procurar e você pode pegar o dinheiro em mãos. A gente pode marcar aí na escola [CEF 410 Norte], ou em outro lugar, não sei. Você me passa um canto qualquer que eu te encontro. Calcula, vê quanto eu te devo pra gente fazer esse acerto”, afirma na gravação.

Ele ainda ressalta a um interlocutor que havia deixado R$ 160 mil no caixa do CEF 410 Norte.

Ouça também:

“Rachadinha”

Em um terceiro áudio publicado com exclusividade pelo Metrópoles, o ex-diretor também comenta sobre suposto esquema de “rachadinha” na escola. O docente se preparava para deixar o cargo de direção da unidade educacional e comentou que visitaria o colégio para se “acertar com o pessoal”.

“Quinta-feira eu vou lá na escola, vou fazer os acertos com o pessoal: passar extrato bancário, essas coisas que eu tenho que passar. Estou recolhendo uns documentos particulares para fazer uma denúncia formal na [Coordenação] Regional de Ensino”, disse.

O educador continuou dizendo que a denúncia envolveria “um dinheiro” deixado por ele no colégio. “Eles [os superiores] nunca repassaram para mim. Seguraram o dinheiro e agora estão o utilizando da forma como eles querem, contratando a empresa que eles querem também. Acho que está havendo ‘rachadinha’ lá”, comentou.

Segundo Charles, a acusação do esquema partiu de dentro da escola. “Andei conversando com os colegas e está havendo ‘racho’ de dinheiro, propina para beneficiar empreiteiros. Por isso que eu indiquei dois ou três empreiteiros lá e eles não aceitaram de jeito nenhum. Seguraram o dinheiro até agora em janeiro. Agora, está de vento e popa, liberando dinheiro à vontade lá. Então, vou fazer essa denúncia, vou recolher tudo que eu tenho de prova, de gravação, e vou arrebentar a boca do balão lá.”

Procurada pela reportagem, a Secretaria de Educação do DF (SEE-DF) negou ter ciência de irregularidade na unidade educacional. Em nota, a pasta afirma que a direção do CEF 410 Norte “apresentou os processos de 2009 a 2018 à SEE-DF, os quais foram aprovados”. “A prestação de contas de 2019 ainda não foi apresentada, mas está dentro do prazo, que corre até o final de fevereiro. Portanto, não há indícios que exijam investigação no momento.”

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