Para ajudar vítimas, jovem do DF relata relacionamento abusivo no Instagram: “Fui humilhada”
“Não vou mais ficar calada”, disse Ana Clara ao expor o caso na rede social, nesta semana. Publicação viralizou
atualizado
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A brasiliense e estudante de nutrição Ana Clara de Souza Arante, 23 anos, viveu um relacionamento abusivo durante cerca de seis anos e, nesta quarta-feira (13/1), resolveu usar o próprio perfil na rede social Instagram para relatar o caso e ajudar outras mulheres que se encontram na mesma situação.
Segunda Ana Clara, após ter conhecimento e ler relatos de outros casos, ela também identificou a violência que sofria durante anos em seu relacionamento.
Nesta manhã, a jovem resolveu expor o drama. Em uma publicação, a estudante escreveu uma carta aberta a amigos e seguidores.
Após cerca de uma hora, o post viralizou e ganhou mil curtidas – além de, aproximadamente, 300 comentários.
Leia o texto e veja a publicação na íntegra:
“Carta aberta a todas as mulheres que passam por violência física e psicológica e ao meu agressor.
* 21 de dezembro de 2020, a última vez em que fui agredida (ou penso, né).
Embora a violência contra a mulher constitua um crime grave, a Lei Maria da Penha ainda é muito falha. Já recorri muito à delegacia, a juiz e não deram resolvidos positivos (tanto que estou nisso até hoje).
Confesso que uma parcela de culpa seja minha por sempre ceder a ameaças, persuasões, manipulações e juras de amor e de mudança. Mas, quando a gente ama, quando existe apego demais, a gente fica cego. E, meu Deus, como fui cega! Cega por 6 anos. Sim, vivi um relacionamento abusivo por 6 anos e fui agredida durante anos.
Durante 6 anos houve violências psicológicas e físicas, xingamentos, difamação, manipulações, mentiras, tentativa de atropelamento, tapas, murros, mordidas e, para piorar, traição. Por 3x tentei me defender, e ele usa isso como desculpa que eu o agredi também. Usa até de chantagem emocional para eu ajudá-lo, para eu ter dó. Eu desenvolvi uma dependência emocional tão grande, que não me via fora daquilo, me sentia culpada, com medo e sozinha.
Mas, Ana, por que você está expondo isso só agora? Porque, finalmente, me encorajei! Por anos, fui chamada de louca, mentirosa e finalmente decidi contar meu lado e única verdade dessa história. A verdade que amigos dele ocultam, passam pano, me colocam como mentirosa e o colocam como vítima.
Hoje, só hoje, enxergo com clareza que foram os anos mais tóxicos da minha vida. Todo agressor é realmente uma farsa. Ele, por exemplo, é visto como alguém que chama atenção por ser bonito, inteligente, de boa família mas quem vê cara não vê caráter, né? Bom, a única vez que o juiz me ouviu, ele usou tornozeleira eletrônica. Adiantou? Não! Pois a perseguição continuou.
Já fui agredida inúmeras vezes, meu psicológico foi destruído, possuo traumas que só Deus sabe. Essas fotos aí não são nada comparado ao que já passei. Vocês não sabem, e não saberão metade do inferno em que vivi e vivo.
Eu tô cansada das pessoas me olharem e me julgarem, sendo que ninguém está apanhando e vivenciando tudo aquilo no meu lugar. Cansada de vocês passarem pano. Cansada de ser agredida psicologicamente e fisicamente.
Me encorajei a postar esse texto pra encorajar quem passa por isso, pra pedir socorro pra pessoas próximas que ainda não sabem, pois, por enquanto, ainda sou estatística da Maria da Penha, mas, se continuar desse jeito, serei mais uma estatística de feminicídio.
Obs: apenas algumas fotos de alguns ocorridos (SIC).”
Ao Metrópoles, a jovem reforçou que não ficará mais calada. Pontuou ainda que ela e o ex-namorado se conheceram em uma academia de ginástica do Distrito Federal. A estudante comenta que a família sempre quis que ela se afastasse do homem, mas Ana Clara acabou não dando ouvidos.
“Estou muito emocionada. Jamais imaginaria que receberia tanto apoio e que as pessoas, de fato, acreditariam em mim. Já tentei expor isso em outras oportunidades e nunca fui ouvida”, desabafou a jovem.
Ela acrescentou que recebeu diversas ameaças do ex-namorado e chegou a registrar seis ocorrências contra o agressor na Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).
Veja as marcas das agressões que Ana Clara postou em seu perfil nesta quarta-feira (13/1):
O relacionamento chegou ao fim em 2017. “Há seis processos abertos, e estou abrindo o sétimo agora. Ele tentou me atropelar em setembro de 2020, e eu não tive coragem de registrar. Agora, tomei essa decisão”, afirmou.
Ana Clara diz ter resolvido expor o caso para que outras mulheres possam enxergar o absurdo da situação e saibam se posicionar ao se depararem com atitudes como as relatadas pela estudante.
“Desenvolvi depressão e ansiedade. Sofri muito e não quero que outras mulheres passem pelo mesmo que eu passei”, explicou.