Pandemia cria nova modalidade de tráfico no DF: o drive-thru da droga
De acordo com as investigações da PCDF, usuários entram na Estrutural de carro, param ao lado de janelas, pegam drogas e saem em disparada
atualizado
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As engrenagens criminosas que movimentam a estrutura do tráfico de drogas no Distrito Federal não foram abaladas pela pandemia provocada pelo novo coronavírus. Quadrilhas se reinventaram e desenvolveram mecanismos para manter transações de entorpecentes a pleno vapor. Um dos métodos foi identificado pela Polícia Civil e chama a atenção pela engenhosidade: traficantes organizaram uma espécie de “drive-thru do tráfico”, no qual usuários podem comprar cocaína e maconha sem descer de seus veículos.
A atividade se espalhou pelos setores da Vila Estrutural e foi mapeada pela Seção de Repressão às Drogas (SRD) da 8ª Delegacia de Polícia (SIA). Não é exagero, de acordo com os investigadores, afirmar que existem dezenas de pontos de venda de drogas espalhados pelos setores da região administrativa. Boa parte dos locais aderiu à modalidade de drive-thru, por ser mais rápido, seguro e ideal para manter o isolamento em tempos de coronavírus.
De acordo com as apurações, além de residências, pequenos comércios, como distribuidoras de bebidas, também passaram a se manter abertos para atender aos usuários que passam de carro e desejam comprar porções de cocaína ou maconha.
Geralmente, as transações são rápidas, duram poucos segundos, principalmente para não chamar a atenção da Polícia Militar. Pequenas janelas (foto em destaque) ou portinholas são usadas pelos traficantes para passar os entorpecentes ao comprador. Logo depois, o motorista entrega o dinheiro e dá lugar ao próximo veículo.
Confira imagens dos flagrantes feitos pelos investigadores da 8ª DP:
Aliados
Os pontos escolhidos pelos criminosos para ser usado como drive-thru de drogas obedecem uma série de requisitos. O principal deles é a localização. O lugar deve ser situado em alguma das principais ruas que cortam a Estrutural. Além disso, a boca de fumo precisa ser de fácil acesso e com rotas alternativas de entrada e saída, tanto para os usuários quanto para os traficantes. Os grupos criminosos que atuam na cidade se autodenominam “aliados”, pois acreditam que, unidos, podem conseguir movimentar o tráfico mesmo com o combate das polícias Civil e Militar.
Segundo o delegado-chefe da 8ª DP, Rodrigo Bonach, durante a pandemia, a Estrutural se tornou um polo que concentra boa parte do tráfico de drogas na região.
“Neste ano, desencadeamos uma série de operações para desmantelar esses grupos criminosos. Prendemos cerca de 60 traficantes nos primeiros seis meses deste ano, principalmente os chefes desses bandos. Contudo, identificamos que a Estrutural passou a receber usuários de outras cidades, o que não era comum”, disse.
Bonach ressaltou que existe certo nível de organização entre os bandos. Alguns usam grupos de WhatsApp para definir ações e a logística para a distribuição das drogas. Outros adotam rádios comunicadores, semelhantes aos usados pelo narcotráfico no Rio de Janeiro. “Sabemos que esses criminosos se escondem por trás de grupos de moradores, e de suas residências e estabelecimentos, principalmente pelo fato de os imóveis não terem registros ou escrituras. Por isso se sentem confortáveis em fazer esse tráfico por meio de drive-thru”, explicou.
Olheiros e fogueteiros
A polícia apurou que os grupos criminosos também arregimentaram adolescentes e até crianças para apoiar a empreitada criminosa, vendendo porções de drogas tanto nas ruas quanto nos pontos de drive-thru. Recentemente, uma adolescente de 17 anos foi apreendida por traficar drogas para um dos grupos na Estrutural. Ela havia sido trazida do Nordeste pelo traficante para realizar o trabalho.
Em troca de porções de drogas ou pequena quantidade de dinheiro, crianças são posicionadas em locais estratégicos e com boa visão do perímetro, dando o alerta caso viaturas policiais se aproximem. Além dos olheiros, ainda existem os fogueteiros, que soltam rojões e outros fogos de artifício para avisar os criminosos sobre a aproximação da polícia. O principal objetivo é dar tempo para que os suspeitos consigam empreender fuga.
O delegado ressaltou que um dos principais objetivos da PCDF na região da Estrutural é acuar os traficantes, aumentando a repressão para evitar o tráfico ao ar livre, em plena luz do dia. “Traficantes precisam viver com medo, escondidos. Quando se sentem confortáveis, a população é que se torna refém, e isso nós não iremos permitir”, finalizou.