Pandemia avança no DF, mas jovens ignoram e fazem festinhas no Lago Paranoá
O Metrópoles flagrou, na sexta-feira (01/05), cerca de 30 pessoas no Deck Sul. Eventos em lanchas também costumam reunir muita gente
atualizado
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As batidas do chamado “funk proibidão” atravessam o Lago Paranoá e quebram o silêncio de quadras residenciais situadas nas proximidades do espelho d’água. Os mais afetados pelos “pancadões” são moradores que têm casas perto da Ponte das Garças.
Na madrugada de sexta-feira (01/05), o Metrópoles flagrou pelo menos 20 veículos posicionados lado a lado no estacionamento do Deck Sul. Alguns, rebaixados e equipados com aparelhagem de som nas portas e no bagageiro, garantiam música no volume máximo para animação dos cerca de 30 jovens.
Além do incômodo causado principalmente aos moradores da QL 6 do Lago Sul, o grupo ignorava a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) de manter o isolamento social para frear o contágio do novo coronavírus.
Aglomerados ao redor dos carros, poucos usavam máscaras de proteção. O acessório passou a ser obrigatório no Distrito Federal na quinta-feira (30/04). Outro flagrante desrespeito à quarentena – e às leis em geral – era o compartilhamento de garrafas de cerveja e cigarros de maconha.
Rachas
Muitos dos automóveis que estavam parados no Deck Sul são modificados para participar de rachas. Turbinados, os veículos contam com rodas de perfis largos e baixos, que dão mais estabilidade nas curvas. Por volta das 3h, a festinha acabou. Alguns condutores entraram nos carros, arrancaram pelas curvas do estacionamento e acessaram a L4 Sul em alta velocidade.
Outro grupo se enfileirou na altura de um semáforo e iniciou um racha em direção ao Guará.
Esquenta nos postos
Antes mesmo de a festinha no Deck Sul começar, jovens aproveitavam para comprar e consumir bebidas alcoólicas em postos de combustíveis do Lago Sul, em mais um claro sinal de desobediência às orientações de distanciamento social.
Os estabelecimentos preferidos e mais movimentados são os que têm grandes lojas de conveniência com variedade de cervejas e destilados. Em uma delas, os tetos dos carros eram usados como mesas para equilibrar garrafas e latas.
Diferentemente do funk que embalava o evento no Deck, nos postos, o gênero musical predominante era o sertanejo.
Pouco depois da meia-noite, mesmo após terem ingerido bebida alcoólica, muitos saíram dirigindo. Durante o período em que a reportagem esteve em um dos postos, viaturas da Polícia Militar do DF (PMDF) patrulhavam a região, mas ninguém foi abordado.
Na madrugada do Dia do Trabalhador, o Metrópoles também registrou encontros com aglomeração em lanchas no Lago Paranoá. Ancoradas perto da Ponte Costa e Silva, algumas dessas embarcações, com até 10 pessoas, tinham pista de dança, DJ e jogo de luz.
Moradores reclamam
Reclusos em função da pandemia, moradores de regiões vizinhas aos locais das festas são os que mais sofrem com o desrespeito de quem insiste em descumprir as medidas de prevenção.
“É uma algazarra: além da música muito alta, dá para ouvir uma gritaria grande madrugada adentro”, queixa-se a designer de joias Carolina Andrade, 36 anos, residente de um conjunto da QL 6, quadra que fica em frente ao local onde os eventos ocorrem.
“A vizinhança inteira está incomodada. Parece soar até como uma provocação, porque não dá para entender como as pessoas saem de casa em plena pandemia”, reclama.
A jornalista Juliana Lima, 45, moradora do mesmo conjunto, também lamenta a falta de respeito. “Hoje mesmo [sexta-feira (01/05)], eu tive uma reunião às 8h. Com a música alta até as 5h, simplesmente não consegui pregar os olhos.”
Segundo ela, a PM é sempre acionada, mas nada é resolvido. “Os frequentadores não dão bola e continuam com as festas.”
Em outro conjunto, o som alto também é um tormento para a vizinhança. Conforme uma moradora que não quis ser identificada, o mais impressionante é ver tanta gente fazendo pouco caso da pandemia. “Eu não saio de casa, mas fico com medo pelos outros”, diz.
Outra residente da quadra pede providências para o que ela chama de afronta. “É o barulho que estamos acostumados a escutar quando tem festa e show nesses clubes. Um desrespeito total. Dá para ouvir do meu quarto.”
Durante o dia
Durante o dia, a Orla do Lago Paranoá também é movimentada. Diferentemente do que ocorre na madrugada, não há consumo de drogas ou som automotivo, mas o agrupamento de pessoas em muitos pontos é preocupante.
Mesmo com todas as atividades esportivas profissionais do mundo paralisadas em função da pandemia da Covid-19, em uma quadra poliesportiva do Lago Sul, pelo menos 12 homens jogavam futebol sem qualquer temor de contaminação.
Além do inevitável contato durante as disputas pela bola, apertos de mão e abraços eram trocados sem cerimônia. Ao lado, pelo menos 10 skatistas faziam manobras no local dedicado a eles.
Nos gramados e na pista para caminhada, muita gente ignorava o uso de máscaras. Nos parquinhos ao ar livre, crianças subiam e desciam de gangorras e escorregadores; e adultos faziam ginástica em aparelhos comunitários.
Sem higienização diária, a superfície desses equipamentos pode estar impregnada com o vírus que já matou 32 pessoas e infectou outras 1.605 na capital do país. Os dados constam no boletim da Secretaria de Saúde divulgado nesse sábado (02/05).
Lanchas
Nas águas do Lago Paranoá, não era difícil ver muitas pessoas em lanchas. Na tarde do feriado do Dia do Trabalhador, por exemplo, em uma delas, de médio porte, havia 11 homens e mulheres que dançavam, se abraçavam e bebiam.
A reportagem questionou quais ações a PMDF tem adotado para impedir as festas que incomodam os moradores do Lago Sul, mas a corporação não havia respondido até a última atualização deste texto.
“Maldita Xereca”
Não é só no Lago Sul que há festas em plena pandemia. Ainda na madrugada de sexta (01/05), no Itapoã, organizadores de um evento cobravam R$ 10 apenas para homens. Mulheres entravam de graça.
No convite para a festa estava escrito: “Sexta-feira Maldita da Xereca”. Na sequência, ironizaram: “Bora sair da quarentena e truvar na paz [sic]”.
A PMDF foi ao local, revistou os presentes e, como não encontrou irregularidades, apenas orientou que o evento fosse finalizado.