Pais e professores de escolas privadas fazem carreata pela volta às aulas
Segundo a organização do “buzinaço”, aproximadamente 200 carros compareceram ao evento, que pede poder de decisão aos docentes e às famílias
atualizado
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Professores, pais de alunos e donos de escolas privadas de ensino infantil do Distrito Federal promoveram, na tarde desta sexta-feira (7/8), uma carreata na área central de Brasília. O grupo pede o retorno das aulas presenciais na capital federal. Na noite dessa quinta-feira, a Justiça suspendeu, de novo, as atividades nas unidades privadas de ensino.
Educadora e uma das organizadoras da carreata, Katherine Bernardes diz que a escolha pelo retorno ou não das aulas presenciais deveria estar nas mãos de pais e alunos, e não da Justiça. “Um sentimento de revolta enorme com essa decisão. Hoje foram alguns alunos à escola e tivemos de mandar voltar para casa. Estávamos com tudo preparado e até testamos os professores”, afirma.
Os coordenadores da manifestação calcula que 200 família tenham aderido à carreata, cada uma no seu respetivo veículo. Todos foram orientados a buzinarem ao longo do percurso, para chamar a atenção autoridades competentes. O comboio partiu do Colégio Militar e percorreu o Eixo Monumental, passando diante do Palácio do Buriti, Câmara Legislativa, Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDDFT), Biblioteca Nacional e Museu da República, terminando pouco antes do Congresso Nacional.
Faixas foram afixadas nos carros (foto em destaque), com frases que pediam para a Justiça reconsiderar a suspensão da volta às aulas presenciais nas instituições privadas. Com balões coloridos, pais e professores infantis se manifestaram pacificamente, pelas ruas da capital.
Veja imagens:
O desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região (TRT-10) Pedro Luís Vicentin Foltran suspendeu as atividades presenciais nas escolas particulares do Distrito Federal na noite dessa quinta-feira (6/8).
Foltran acolheu pedido do Ministério Público do Trabalho (MPT), que argumentou haver possibilidade de o retorno presencial representar “grave risco de dano à saúde dos trabalhadores das escolas da rede particular de ensino, expondo-os ao contágio da Covid-19 e, consequentemente, à disseminação da doença”.
O MPT disse à Justiça que a contaminação pode “ocasionar a morte de trabalhadores e seus familiares, de estudantes e demais integrantes da comunidade acadêmica e, por fim, da população do Distrito Federal, bem como o aumento da ocupação de leitos nos hospitais públicos e privados desta unidade da Federação, que atualmente já supera 90%”.
Confira a decisão na íntegra:
Desembargador Suspende Aula… by Metropoles on Scribd
A decisão do magistrado vai contra opinião dos manifestantes que se reuniram, por volta das 14h, em frente ao Colégio Militar de Brasília nesta sexta. Lilian Souza, professora e uma das integrantes do movimento, contou ao Metrópoles que, após tanto preparo para o retorno das atividades, o sentimento é de frustração.
“Fiquei muito decepcionada. Na verdade, todos nós. Estávamos prontos para voltar às aulas”, disse Liliana. A colega de profissão, Cinthia Fernanda, concorda. “A escola tem que retornar de acordo com os protocolos. Os pais têm que ter liberdade de escolha. Comércios estão abertos. As crianças precisam de uma saúde mental boa. Os pais precisam ter o poder de escolher”, explica.
Rodrigo Hamati, 37 anos, pai da pequena Iris Medeiros, 4 anos, saiu de casa nesta sexta-feira para protestar pelo ensino presencial no DF. Segundo ele, a quarentena está fazendo mal para as crianças. “Quem mais está sofrendo são as crianças. Se continuar assim, até ano o que vem, não vai ter escolas particulares mais. É preciso ouvir os funcionário. Hoje minha filha chorou por não poder ir à aula. É uma decisão mal embasada”, acusa.
No carro de som, que acompanhava a carreata durante todo o protesto, um representante da categoria entoava palavras de ordem, ao som do Hino Nacional: “Professores querem ensinar, pais precisam trabalhar, crianças querem estudar. Você tem a opção, leva ou não”.
Veja vídeo:
Nível de contaminação
Na decisão dessa quinta-feira, o desembargador Pedro Luís Vicentin Foltran entendeu que o retorno presencial das atividades educacionais “acarreta não só a exposição dos profissionais de educação mas também de um número ainda maior de pessoas envolvidas no transporte dos alunos até as instituições de ensino, aumentando, ainda que indiretamente, o nível de contaminação pelo vírus no Distrito Federal.”
“Caso as escolas particulares implementem de imediato o retorno anunciado, quem corre maior perigo de dano são os trabalhadores. Ao contrário, aguardar a dilação probatória nos autos principais – de maneira a se verificar com clareza se os protocolos de segurança adotados pelas empregadoras são o bastante para garantir a segurança dos trabalhadores – mostra-se a atitude mais prudente, por ser menos danosa”, assinalou o desembargador.
Na mesma decisão, Foltran deu 10 dias para que o Governo do Distrito Federal (GDF) apresente defesa, caso queira. A Procuradoria-Geral do DF (PGDF) ainda analisa o assunto.
Volta tímida
Uma parte dos alunos das escolas particulares voltou às aulas nessa quinta-feira (fotos abaixo), após permissão da 6ª Vara do Trabalho de Brasília para a retomada das atividades presenciais. Poucas escolas, contudo, abriram as portas, temendo novo impedimento judicial ao funcionamento das unidades de ensino privadas.
O MPT recorreu dessa decisão de primeira instância e obteve liminar do desembargador Pedro Luís Vicentin Foltran horas depois. A nova medida judicial tem validade até que seja proferida sentença na ação civil pública que tramita na 6ª Vara.
Entenda
O GDF suspendeu as aulas nas escolas públicas e particulares no dia 12 de março por causa da pandemia do novo coronavírus.
Quatro meses depois, o GDF autorizou o retorno das atividades presenciais nas unidades de ensino da rede privada a partir do dia 27 de julho. O MPT entrou na Justiça para barrar a volta às aulas e obteve decisão favorável do juiz Gustavo Carvalho Chehab, que impediu o retorno por 10 dias.
Nessa terça-feira (4/8), a juíza Adriana Zveiter, da 6ª Vara do Trabalho de Brasília, derrubou a liminar de Chehab e autorizou a reabertura imediata – decisão revogada na noite dessa quinta-feira (6/8).