Padre Casemiro: perícia usa câmara tecnológica para encontrar digitais
Equipamento de fumigação de cianoacrilato é utilizado pela polícia para tentar encontrar pistas que levem até o último suspeito do crime
atualizado
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Os investigadores da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) estão usando tecnologia de ponta para encontrar o último suspeito de envolvimento com o assassinato do padre Kazimerz Wojno, 71 anos. A fim de descobrir a identidade do acusado, que aparenta ser menor de idade, policiais da 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte) vão submeter o Chevrolet Opala (foto em destaque), apreendido com dos dois suspeitos já presos, a um moderno equipamento papiloscópico de propriedade da perícia da corporação: a câmara de fumigação de cianoacrilato.
O equipamento, idealizado e projetado pelos profissionais do Laboratório de Exames Papiloscópicos e usado desde o ano passado, consiste em uma câmara onde o carro é colocado que tem o poder de revelar até quatro vezes o número de impressões digitais.
Confira foto da máquina usada pela polícia:
Na prática, a câmara possibilita o controle da umidade, temperatura e tempo de exposição, fatores determinantes para o sucesso na revelação de impressões. E por ser de grande dimensão, permite a perícia em carros, motos e lonas, por exemplo. O veículo apreendido não será o único objeto periciado pelos investigadores, que também procurarão material genético nos itens roubados e recuperados, e no HD abandonado pelos suspeitos durante a fuga.
O assassinato do religioso aconteceu no sábado (21/09/2019), na Igreja Nossa Senhora da Saúde, na 702 Norte. No trabalho policial para encontrar os criminosos — três já foram presos desde então —, o automóvel em que eles fugiram está sendo periciado em busca de pistas e provas.
Caminho dos assassinos
De acordo com investigações da 2ª Delegacia de Polícia, na ida para o assalto, os bandidos usaram o carro de Valparaíso (GO), Entorno do DF, até Santa Maria, onde pegaram um ônibus para a Asa Norte. Depois de matarem o religioso, fugiram a pé e entraram em outro coletivo direto para Valparaíso. A polícia quer saber quem dirigiu o Opala, que ficou estacionado em Santa Maria e foi apreendido em Valparaíso (GO), na terça-feira (24/09/2019). O carro é um modelo Diplomata, fabricado em 1985/86.
Segundo o delegado-chefe da 2ª DP, Laércio Rossetto, o carro foi usado parcialmente para o transporte dos criminosos. “Ainda vamos fazer perícia para tentar identificar indícios de participação de outros comparsas nessa empreitada criminosa”, explicou. O diretor-geral da Polícia Civil, delegado Robson Cândido, esteve na delegacia e falou sobre o desfecho das investigações.
“Temos uma polícia judiciária extremamente bem preparada e equipada. Toda a corporação ficou acordada 72 horas para trabalhar na elucidação desse crime e prender parte dos autores o mais rápido possível. O trabalho dos investigadores em parceria com os peritos foi fundamental para o apontamento das autorias”, afirmou.
Os presos
Foram presos Alessandro de Anchieta Silva, 19, e Antonio Willian Almeida Santos, 32, e Daniel Souza da Cruz, 29. Segundo Rosseto, o primeiro é apontado como autor das ameaças e agressões. Ele acredita que o padre foi morto porque teria reconhecido os bandidos. Nas imagens gravadas por câmeras de prédios vizinhos à igreja, é possível observá-los pulando o muro que cerca a Paróquia Nossa Senhora da Saúde, por volta das 21h40. Eles fogem usando mochilas e um deles aparece segurando um notebook nas mãos.
O circuito interno do prédio próximo à igreja registrou ainda os acusados caminhando tranquilamente nos arredores do local.
Premeditado
Segundo Laércio Rosseto, Alessandro admitiu a participação no crime, porém alegou que não queria a morte do padre. “Contudo ele estava na cena do crime, com uma arma de fogo. Estava disposto [a matar]”, pontuou o delegado, acrescentando que o artefato ainda não foi apreendido.
Os dois suspeitos, que estão presos temporariamente, foram flagrados pela PCDF no momento em que chegavam ao bairro Santa Rita de Cássia, em Valparaíso (GO), no Entorno do Distrito Federal. Rosseto ressaltou que tudo indica que os criminosos sabiam da rotina da casa, já que se dividiram nos dois andares e arrombaram um cofre de 1,5 metro de altura, de concreto. Para isso, usaram ferramentas que estavam no imóvel.
Para o delegado, que acompanhou o trabalho de investigação sobre os vestígios encontrados no local do crime, o latrocínio foi premeditado. “O que entendemos é que eles estavam indo especialmente atrás desse cofre. Eles sabiam que havia o cofre lá, usaram equipamentos que existem na própria residência, de maneira que não precisaram levar nada. É um cofre de um metro e meio, de concreto e aço, com duas portas, isso indica que foi estudado. Eles sabiam o que iriam encontrar lá”, analisou.
A detenção foi feita por investigadores da 2ª DP, com apoio da Divisão de Operações Especiais (DOE) e da Divisão de Operações Aéreas (DOA). Até um helicóptero da corporação foi utilizado para o trabalho de localização dos suspeitos. Com os detidos, a polícia apreendeu dois notebooks, três garrafas de uísque Red Label, um celular, um moletom, um relógio, uma corrente de ouro e chaves de carros. Parte dos itens estava na paróquia.
Além de matarem o padre, os criminosos agrediram o caseiro José Gonzaga da Costa, 39, que ainda tenta se recuperar após o terror vivido na mira de criminosos. O homem estava junto do religioso, conhecido como padre Casemiro, quando quatro homens invadiram a residência do sacerdote e fugiram levando pertences pessoais e objetos de valor. Antes de deixar o local, o grupo assassinou o pároco com requintes de crueldade. O pároco teve os pés e mãos amarrados e foi estrangulado com um arame.
Caseiro agredido
Assim como padre, José foi amarrado com arames durante a ação dos criminosos. No entanto, teve a vida poupada. Em curta conversa com o Metrópoles, na quarta-feira (25/09/2019), ele falou pela primeira vez sobre o caso. E se mostrou aliviado a prisão de dois dos suspeitos. “Graças a Deus. Deus é bom”, disse, olhando para o céu.
Questionado sobre seu estado de saúde, o caseiro, que chegou a ser internado no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) com escoriações, disse estar se recuperando. “Estou melhor, graças a Deus, mas bem eu nunca vou ficar”. Cinco dias após o ocorrido, ele ainda carrega as marcas da noite do crime, como as cicatrizes nas mãos e pernas provocadas pela força com que foi amarrado pelos algozes.
Desde o episódio, José está recluso e evita ao máximo falar sobre a noite do crime. Continua morando no terreno da Paróquia Nossa Senhora da Saúde, na 702 Norte, onde ocorreu o latrocínio (roubo seguido de morte). O caseiro tem passado o dia nas dependências da igreja e só sai para ir a missas, sempre acompanhado do irmão, Célio Gonzaga da Costa.
À reportagem, o irmão disse que também mora no terreno da paróquia, mas dormia no momento em que os bandidos chegaram. Segundo ele, o caso aconteceu logo após o religioso celebrar a missa das 18h30. Padre Casemiro tinha ido fiscalizar uma obra executada no lote.
“Meu irmão contou que eram quatro criminosos. Eles pularam a grade, mas eu não ouvi porque estava dormindo. Acordei quando meu telefone vibrou, por volta das 21h30. Foi quando ouvi meu irmão gritando socorro e fui acudir. Nesse momento, eles fugiram”, revelou Célio.