Pacientes enfrentam dificuldade para fazer teste da dengue no DF
Segundo doentes e profissionais de saúde, há falta e reagentes em praticamente toda rede pública para a realização dos exames
atualizado
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Por falta de reagente e profissionais de saúde, parte da população não consegue fazer o teste de dengue na rede pública do Distrito Federal. Em 2022, entre janeiro e abril, a capital brasileira registrou 33.886 casos suspeitos da doença. Deste total, 30.955 eram possivelmente positivos. No mesmo período, em 2021, o número foi de aproximadamente 8 mil.
O Metrópoles passou a manhã desta terça-feira (17/5) em frente ao Hospital Regional da Asa Norte (Hran), onde o teste deveria estar à disposição da população. Mesmo com sintomas e dores pelo corpo, após horas de espera e triagens, pacientes deixaram a unidade sem o diagnóstico.
A estudante Jussara da Silva Castro (foto em destaque), de 25 anos, buscou o Hran em uma cadeira de rodas. Com suspeita de infecção por dengue, a jovem residente em Águas Lindas (GO) sente fortes dores e, por isso, não consegue caminhar. “Se ficar em pé, começo a sentir náuseas e desmaio. Desmaiei esses dias por causa da dor”, desabafou.
Jussara ainda enfrenta uma doença autoimune. “Eu vim com suspeita de dengue, mas a médica disse que não ia pedir o teste porque estava sem reagente”, afirmou. Para a estudante, o exame é um procedimento básico para o tratamento da doença. Mas, às 9h da manhã de terça, ela saiu do hospital sem a resposta.
Poucos minutos depois, Gildemar Luís Ribeiro, de 60 anos, também deixou o Hran sem o teste. “Disseram que não tem médico. Fiquei muito chateado, estou doente. Sinto dor nas costas e nas pernas. É muita fraqueza. Minhas pernas estão tremendo”, comentou.
Gildemar mora em Águas Lindas (GO) e trabalha em Ceilândia. Deixar o Hran sem o teste foi uma decepção para o trabalhador. “Teve umas noites que não consegui pregar o olho. Sofri com dor, febre, não comia nada, porque a boca amargava demais. É um sofrimento”, contou.
Na sequência, Maiara Caldeira, de 29 anos, moradora da Expansão do Setor O, em Ceilândia, saiu do hospital sem fazer o teste. “Estou com três dias de dor de cabeça muito forte. Sinto dores na nuca e pelo corpo. Vim fazer o teste, mas me disseram que só estão atendendo casos de emergência”, relatou.
“Me senti mal”
Maiara recebeu a informação de que deveria buscar uma unidade de pronto-atendimento (UPA) ou posto de saúde. “Eu me sinto mal. Porque vamos para um posto ou UPA e também não somos atendidos. Um hospital deveria atender bem a gente”, criticou.
Após Jussara, Gildemar e Maiara deixarem o Hran sem conseguir fazer o teste, Valdemar Bezerra de Mendonça, de 60 anos, também saiu do hospital. Mas ao contrário dos pacientes anteriores, o morador do Condomínio Quintas da Alvorada, no Lago Sul, conseguiu fazer o exame.
“Vim e consegui fazer o teste”, afirmou. Valdemar sentiu dor de cabeça, febre e dores nas juntas. “Assim que cheguei, não tinha mais ninguém na fila. Não sei o que pode ter acontecido, porque uns vem e conseguem e outros, não”, ponderou.
Não há testes rápidos
Em 10 de maio, a reportagem entrou em contato com três Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e, em todas, os funcionários informaram que os pacientes que desejassem fazer teste rápido de dengue estavam sendo encaminhados ao Hran. No mesmo dia, servidores do hospital afirmaram que não havia testes rápidos de dengue disponíveis devido a um atraso na entrega dos insumos. Por isso, nesse dia, a testagem estava suspensa.
Segundo o presidente do Conselho Regional de Enfermagem do DF (Coren-DF), Elissandro Noronha, os profissionais relatam falta de reagente em toda rede pública. “Isso mostra despreparo. Nós nos preparamos para a Covid e esquecemos que a dengue vem sempre todo ano, e já é endêmica”, destacou.
Outro lado
O Metrópoles entrou em contato com a Secretaria de Saúde sobre a questão. Segundo a pasta, a rede pública conta com 19.216 testes rápidos de dengue IGM e IGG em estoque e a quantidade de testes rápidos para detecção de antígeno é de 3.925 unidades. E também aguarda a entrega de mais testes até o final de maio.
Em nota, a pasta orientou que a população priorize buscar os testes em UBSs perto de casa. Hospitais e UPAs só devem ser procurados em casos em que a pessoa apresente manchas roxas ou alteração da capacidade visual ou do nível de consciência. A SES-DF não comentou a situação no Hran na manhã desta terça-feira.
Leia a nota completa da Secretaria de Saúde:
“A Secretaria de Saúde ressalta que o diagnóstico da doença não depende da realização do teste, uma vez que existem outras estratégias que permitem avaliação do quadro clínico por um profissional de saúde. Mediante um conjunto de sintomas aferidos e um histórico compatível é possível fechar o diagnóstico do paciente. Atualmente a Pasta possui 19.216 testes rápidos de dengue IGM e IGG em estoque e a quantidade de testes rápidos para detecção de antígeno é de 3.925 unidades. A empresa fornecedora informou que os testes devem ser entregues até o fim deste mês. A SES aguarda a entrega. A orientação é que pessoas com sintomas de dengue procurem a Unidade Básica de Saúde mais próxima de sua residência. As unidades funcionam de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h. Quarenta e duas UBS funcionam também aos sábados. Os atendimentos em Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e hospitais devem ocorrer, prioritariamente, para os casos em que a pessoa apresentar manchas roxas ou alteração da capacidade visual ou do nível de consciência. A quantidade de atendimentos feitos está disponível no seguinte link”.
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