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Pacientes do DF sofrem há dois meses sem remédio para doenças crônicas

Usado para diversas comorbidades, como artrite, doença de crohn e síndromes raras, adalimumabe pode custar até R$ 15 mil

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Imagem colorida de uma mulher branca segurando a caixa de um remédio verde
1 de 1 Imagem colorida de uma mulher branca segurando a caixa de um remédio verde - Foto: Material cedido ao Metrópoles

Pacientes do Distrito Federal têm sofrido com a falta do medicamento adalimumabe, na dosagem de 40 miligramas, nas Farmácias de Alto Custo da capital.

Os usuários informam ao Metrópoles que estão há cerca de dois meses sem o remédio, que é eficaz contra diversas doenças crônicas e que pode chegar a custar R$ 15 mil no mercado convencional.

A estudante de psicologia Ana Carolina Sartório, 30 anos, é portadora desde 2019 da síndrome de Vogt-Koyanagi-Harada, enfermidade rara que atinge tecidos que possuem melanócitos, como olhos, ouvidos e pele.

Ana perdeu temporariamente toda a visão e parte da audição, mas conseguiu recuperar com o uso do adalimumabe depois de seis meses.

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Pacientes injetam seringas de 40 mg do adalimumabe
Remédio é fornecido pela Farmácia de Alto Custo, mas, no DF, está em falta desde junho, apontam pacientes
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Remédio pode custar até R$ 15 mil

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“A minha doença é rara. Inicialmente, eu tomei corticoide para depois usar outro imunossupressor. Comecei tomando outro medicamento, mas ele não ‘segurou’ a síndrome, que foi se reativando em meu organismo”, explica Ana Carolina.

“Nessas reativações, eu volto a tomar o corticoide, mas o corticoide passou a desenvolver em mim uma doença secundária, chamada cushing, além de problemas como fibromialgia, astigmatismo, diabetes, pressão alta, dentre outros”, diz a estudante.

Segundo ela, por causa do cushing, a médica dela recomendou o adalimumabe. “Esse remédio conseguiu evitar que a síndrome ficasse se reativando no meu corpo. Sem ele, eu preciso ficar tomando corticoide, que me causa todos esses efeitos colaterais que citei”, completa Ana Carolina.

“Não posso ficar sem esse medicamento de forma alguma. Sem ele, minha vida vira um inferno. Eu engordo bastante, fico muito frágil, preciso que minha mãe me dê banho porque eu não consigo ficar muito em pé. É só eu parar de tomar o adalimumabe que o círculo do cushing volta novamente, e ainda corro o risco de perder a visão de maneira definitiva.”

A servidora pública Patrícia Calazans Oliveira, 49 anos, sofre de artrite reumatoide desde 2018. Por causa da doença, outros problemas foram surgindo, como artrite psoriática, hidradenite supurativa e blefarite crônica. “Um abismo puxa o outro; essas comorbidades são associadas ao problema inicial”, explica Patrícia.

Para suprimir as dores, inchaços, inflamações e nódulos, o adalimumabe é fundamental no tratamento de Patrícia. A paciente é medicada com a droga desde 2018. A cada 15 dias, Patrícia precisa de duas seringas, cada uma com a dose de 40 miligramas.

Ficar sem o medicamento faz com que Patrícia sofra severamente com os sintomas da artrite reumatoide. “Fico com dificuldade de caminhar por causa dos inchaços e dores nos pés. Sinto dores em articulações do corpo todo: mãos, pulsos, cotovelos, ombros, joelhos etc. Minhas mãos ficam vermelhas e inchadas e tenho uma sensação de cansaço que não passa nunca”, conta a servidora.

A paciente diz que, embora a artite reumatoide não tenha cura, o adalimumabe ajuda na remissão da doença, diminuindo os sintomas e deixando o problema “inativo”. Sem o medicamento, a servidora apela para analgésicos, anti-inflamatórios e corticoides.

“Vou buscando alternativas e juntando medicamentos, mas essa ação não é efetiva porque não controla o conjunto sintomático e ainda causa disfunções hepáticas, gástricas e renais. Então, acabo usando muito mais medicações para controlar o ‘efeito do efeito’”, afirma a mulher.

O que dizem as autoridades

A Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) informou em nota que apenas segue protocolos do Governo Federal para a compra do adalimumabe. A pasta alega estar aguardando a disponibilização do insumo.

O Ministério da Saúde afirmou que a compra do medicamento se dá via pregão. As duas últimas licitações foram desertas, isto é, não contou com empresas oferecendo venda do adalimumabe ao Governo Federal. Segundo o MS, “um terceiro pregão está em andamento”.

A pasta aponta que outros fármacos podem atender os pacientes enquanto o adalimumabe não é disponibilizado. “A migração de tratamento para outro medicamento da linha de cuidado pode ocorrer a critério médico”, informa. Os pacientes, no entanto, podem esbarrar exatamente no critério médico informado pelo ministério.

Os especialistas que atendem Ana Carolina, por exemplo, não recomendam a substituição, segundo ela. “Eu não teria problemas em aceitar outro medicamento se os médicos concordassem, mas já tomei outros na tentativa de substituir o adalimumabe e nenhum deu certo, mesmo em doses altas. Cada paciente é um caso. No meu, não é possível abrir mão.”

“Se for para trocar de remédio, vou ter de marcar consulta e esperar que o médico prescreva ou não o medicamento substituto. Isso leva em média 40 dias. Esse período de espera já é prejudicial”, cita Ana Carolina. “Se o biossimilar puder ajudar, vai ser incrível, é melhor do que não ter nada. Mas será que vou ter que fazer todo esse protocolo de novo?”

Mais sobre o adalimumabe

De acordo com o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos Bio-Manguinhos, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o adalimumabe é um medicamento imunobiológico que tem como alvo terapêutico o bloqueio da molécula TNF-alfa, citocina envolvida na criação de doenças autoimunes no campo da reumatologia, gastroenterologia, dermatologia e oftalmologia.

Usado por crianças e adultos, é fundamental para pacientes com artrite reumatoide e artrite idiopática juvenil, artrite psoriasica, espondilite anquilosante, doença de Crohn, psoríase, hidradenite supurativa, uveíte, entre outras doenças.

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