“Ouvi um estalo. Ia morrer todo mundo”, diz morador de prédio desabado
Jovem diz que desceu as escadas correndo e conseguiu salvar uma televisão antes de o prédio ruir, em Taguatinga
atualizado
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Com a filha de 1 ano nos braços, a auxiliar de limpeza Josilda Alves, 45, esteve no local onde um prédio de quatro andares desabou, nessa quinta-feira (6/1), na QSE Área Especial 20, em Taguatinga. Ela e os filhos Wesley Oliveira, 19, (jovem de vermelho na foto em destaque) e Samuel Oliveira, 20, aguardavam a autorização para poder entrar no local e resgatar alguns bens. O rapaz ainda conseguiu salvar uma televisão de casa, poucos minutos depois de ouvir um estalo na estrutura e correr. “As paredes já estavam fazendo barulho, estalando, e ali eu tinha certeza de que o prédio não ia ficar em pé”, diz.
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Assustada, Josilda deixou tudo para trás quando o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) pediu para os moradores evacuarem o prédio. A mãe de quatro filhos diz que, agora, vai procurar um novo lugar para morar. “Não tem jeito né? Só quero pegar minhas coisas e arrumar um lugar para alugar. Pagava R$ 1,2 mil para morar aí, e com esse valor, nunca imaginei que o prédio estaria nessas condições”, explica.
O prédio tinha apartamentos de até quatro quartos. Segundo moradores, o valor do aluguel no prédio variava entre R$ 750 e R$ 1,2 mil. Agora desabrigada, Josilda está hospedada com os filhos no Hotel Positano, em Taguatinga Sul. A estadia foi fornecida pela dona do prédio, Amanda Albuquerque, que está fora de Brasília. Por meio de nota, a mulher lamentou a tragédia, mas não fez comentário algum sobre a situação irregular do edifício, que não tem Habite-se nem alvará.
Antes de o prédio desabar, Wesley desceu as escadas com o televisor que conseguiu salvar nos braços e disse ter ouvido as paredes estralando. Ele colocou o eletrônico dentro de uma Kombi que estava em frente ao prédio. Após a evacuação do local, porém, nem o equipamento a família conseguiu levar, porque até a área onde o veículo está estacionado é considerada de risco.
“Desci correndo porque a gente tinha que evacuar rápido. Pegamos só o que deu mesmo. Graças a Deus deu tempo de sair, se não tinha morrido todo mundo”, recorda o jovem.
O dono de uma oficina ao lado do prédio diz ter sofrido um prejuízo de aproximadamente R$ 450 mil, em máquinas e ferramentas que ficaram totalmente destruídas com a ruína. Leonardo Medeiros, 36, também precisou evacuar o local antes que o edifício caísse. A oficina Lottus ficou completamente destruída pelos escombros.
“A parede que tínhamos do lado do prédio também rachou e deu infiltração, mas nunca imaginamos que o prédio cairia. Poderia ter morrido todo mundo aqui da loja”, comentou.
A oficina tem três funcionários e todos estavam presentes no momento do desabamento. Agora, a equipe espera receber indenização pelos danos e prejuízos que tiveram.
Desolada, outra moradora do prédio diz que chorou a noite inteira. Juliane Oliveira, 32 anos, se abrigou na casa de uma parente na Candangolândia, com os três filhos. Na manhã desta sexta-feira, ela também retornou ao local da tragédia, na esperança de poder entrar no antigo apartamento e buscar os pertences. Porém, foi barrada.
Nessa quinta, Juliane só conseguiu pegar umas poucas mudas de roupa, antes de o edifício ruir. “No momento do desespero, eu não sabia nem o que levar. Vi meus sonhos desabarem junto com esse prédio. Chorei a madrugada inteira. É tão difícil conquistar as coisas, perder tudo de uma vez é dolorido demais”, lamenta Juliane.
Sem alvará
O prédio não tinha alvará de construção ou carta de Habite-se, ou seja, era irregular. A informação foi confirmada ao Metrópoles pelo Governo do Distrito Federal. Ainda segundo o GDF, a obra não foi autorizada pela Central de Aprovação de Projetos da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh) e sequer houve solicitação de licenciamento para o projeto.
“Morreu a esperança da gente”, afirma moradora de prédio que desabou
Já a Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal) informou que o único registro encontrado de ações fiscais no local trata-se de uma notificação por descarte irregular de resíduos.