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Outdoor no Lago Norte marca tempo de fechamento do Teatro Nacional

Interditado desde 2014, o Teatro Nacional começou a ser reformado no ano passado. Sala Martins Pena deve ser entregue até o final de 2024

atualizado

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Wey Alves/Metrópoles
Outdoor Teatro Nacional
1 de 1 Outdoor Teatro Nacional - Foto: Wey Alves/Metrópoles

Dois outdoors instalados no quintal de uma casa no conjunto 3 da QI 5 do Lago Norte chamam a atenção de quem passa pelo endereço em razão da crítica retratada: um protesto contra os 10 anos de fechamento do Teatro Nacional Cláudio Santoro, tombado como patrimônio histórico e artístico do país.

Nas placas estão fixados mecanismos especiais para controlar a contagem progressiva do tempo em que o Teatro Nacional está fechado. Nesta terça-feira (21/5), a contagem atingiu a marca de 3.783 dias.

A ideia de criar os outdoors partiu do compositor e maestro Jorge Antunes, 82 anos. Ele projetou os cartazes e os instalou no quintal da residência dele, em outubro de 2022. Todos os dias, por volta das 8h30, a contagem é atualizada.

A ligação do músico com o teatro já dura 50 anos. Ao longo desse tempo, Jorge perde as contas de quantas vezes se apresentou no espaço cultural, mas garante que foram mais de 100 ocasiões.

“Durante todo o período em que moro em Brasília, desde 1974, fui um músico muito atuante utilizando o Teatro Nacional. Minha primeira grande obra Qorpo Santo foi estreada lá, em 1983. O evento mais recente foi em 2013, quando foi apresentada minha ópera Olga. Então, é uma tristeza a gente ver o Teatro Nacional fechado durante tanto tempo, e os governos que passaram nada fizeram, deixaram pra lá”, comenta Jorge. 

Interditado desde 2014 por inadequação estrutural, o Teatro Nacional começou a ser reformado em janeiro de 2023. A primeira etapa da obra, que compreende a restauração da Sala Martins Penna, foi orçada em R$ 62 milhões e, em abril atingiu 40% de execução. A previsão é de que o espaço seja entregue até o final deste ano.

O compositor e outros músicos da categoria temem que, com a inauguração da Sala Martins Pena, a reforma das outras salas não seja levada adiante. “Abrir a Sala Martins Pena não é abrir o teatro, porque a grande Sala Villa-Lobos continua fechada e destinada ao descaso total”, diz. 

Segundo ele, inicialmente, quando o espaço foi interditado, acreditava-se que ele seria reaberto em poucos meses. “Recebemos a notícia da interdição sem grandes preocupações, pois imaginamos que voltaria a funcionar em dois meses, mas a espera já perdura 10 anos. Nós temos a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional que, durante todo esse tempo, tem tido dificuldade de local pra ensaiar e se apresentar, pois está sem a sua sede”, ressalta. 

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“10 anos de vergonha nacional”

O maestro conta que já tinha a estrutura dos outdoors instaladas no quintal da casa dele e que as utilizou por muitos anos com o intuito de fazer campanha eleitoral. Jorge foi candidato, pelo PSol, a deputado distrital em 2006, senador em 2010 e deputado distrital em 2014, mas nunca foi eleito.

Desde então sem uso, ele decidiu projetar as placas para protestar contra uma década de fechamento no Teatro Nacional. Na ocasião de inauguração dos outdoors, foi feita a estreia da obra coral-sinfônica de Jorge intitulada Trenodia para um Teatro Fechado para coro misto, orquestra, declamadores, buzinas de automóvel, tiros de foguete e sons eletrônicos, escrita especialmente para o evento.

“A maioria da população brasiliense conhece o teatro por fora, mesma coisa com os turistas também quando passam. As pessoas adoram ver cascas bonitas, pouco se importando com o seu interior. Os concertos da orquestra têm um público cativo, ou seja, não passa de 5 mil pessoas. O que é para o governo a reclamação dessa minoria?”, indaga o músico.

De acordo com ele, os outdoors geram repercussão, mas na avaliação dele é uma “repercussão medrosa”. “Eu espero que resolvam o problema estrutural, principalmente a questão da acústica do teatro. Nossa categoria tem pouco espaço para colocar a boca no trombone”, diz.

Reforma do Teatro Nacional

Por meio de nota, a Secretaria de Cultura do Distrito Federal informou que a obras no Teatro Nacional estão avançando conforme os cronogramas. “Como exemplo, já estamos avançando na fabricação das novas poltronas, mais confortáveis e acessíveis. A previsão é a Sala Martins Pena e seu Foyer que sejam entregues à sociedade no fim desse ano”, destacou a pasta.

Ao todo, são investidos R$ 62 milhões na execução da obra. Desse total, em torno de R$ 8 milhões são provenientes de aditivos que se mostraram necessários com o avanço da reforma.

O progresso segue em três etapas, avançando da parte externa para a interna e dos camarins para cima, subindo os quatro subsolos até alcançar a Sala Martins Pena e o palco. Os próximos passos incluem a conclusão do forro, a instalação dos dutos e a ligação tanto da parte elétrica quanto de ar-condicionado e hidráulica.

O projeto tem como um dos pilares dar acessibilidade e conforto a pessoas com deficiência, trazendo rampas de acesso para quem tem limitações de locomoção e um elevador que dá livre acesso aos cadeirantes a todas as áreas do teatro, incluindo o palco, com autonomia.

Já na parte externa do Teatro Nacional estão sendo feitas as instalações hidráulicas para alimentação do reservatório, além dos acabamentos da sala do gerador e instalação de grades. Dois geradores serão instalados para atender a Sala Martins Pena e, na próxima etapa da obra, mais três para atender toda edificação.

Presidente cobra reabertura

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a cobrar, no início de abril deste ano, a reforma do Teatro Nacional. A declaração ocorreu durante cerimônia de lançamento da pedra fundamental do campus Sol Nascente do Instituto Federal de Brasília (IFB).

“Esse país está tão abandonado que a capital do Brasil tem um Teatro Nacional há 10 anos fechado”, disse o presidente, que afirma que cobra a reabertura tanto do GDF quanto da ministra da Cultura, Margareth Menezes.

“É preciso a gente colocar aquele teatro para funcionar, porque ele é o patrimônio da humanidade, tombado pela Unesco, e nós precisamos cuidar. No Brasil, a gente tem a mania de tombar as coisas. ‘Isso não pode mexer’. Mas a gente não coloca dinheiro para manter, e as coisas vão se deteriorando”, apontou.

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