Os personagens da tragédia na UnB. A aluna brilhante elogiada por professores e o futuro biólogo que se tornou um frio assassino
Filha do meio, Louise deixa duas irmãs, pais e amigos. Todos ressaltam as qualidades da jovem universitária, morta por um rapaz obcecado pela colega. Ele flertava com a depressão nas publicações em redes sociais
atualizado
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Os moradores do Distrito Federal ainda tentam entender o crime bárbaro que ocorreu às vésperas deste fim de semana. O brutal assassinato da estudante Louise Ribeiro, 20 anos, pelo colega do curso de biologia na Universidade de Brasília (UnB) Vinícius Neres, 19, deixou a população estarrecida. Pessoas ouvidas pelo Metrópoles e relatos nas redes sociais revelam duas personalidades opostas. De um lado, uma jovem cheia de amigos e que começava a dar os primeiros passos na vida profissional. Do outro, um rapaz fechado, que deixou sua obsessão ganhar contornos trágicos.
As cenas de horror descritas sobre o crime que tirou a vida de Louise foram protagonizadas pelo amigo e suposto ex-namorado. Alguém em quem a jovem confiava, dava risadas das piadas no Facebook e compartilhava assuntos sobre a futura profissão dos dois. Mas as duas histórias tiveram uma reviravolta. Enquanto Louise teve a vida interrompida precocemente, Vinícius,que confessou à Polícia Militar e à Polícia Civil o assassinato, deve passar os próximos anos atrás das grades.Confira os perfis da vítima e do assassino:
Jovem meiga, aluna brilhante
Ler os comentários em páginas da internet de conhecidos de Louise Ribeiro é tarefa para os fortes de coração. Torna-se inevitável não segurar as lágrimas. Os elogios não se esgotam. Doce, meiga, estudiosa, responsável, educada… Todos esses adjetivos se repetem nas homenagens feitas nas redes sociais por amigos e parentes.
A família da estudante veio de Aracaju para Brasília e Louise tinha duas irmãs. Como o pai era militar, aprendeu desde cedo a ter disciplina e levar a sério as responsabilidades que lhe cabiam. Ela era a filha do meio e cursava o 5º semestre de biologia na UnB. A dedicação com os estudos e o bom desempenho na universidade lhe renderam uma vaga de estágio no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Além disso, a universitária foi monitora de uma disciplina do departamento do curso. Professores dela relataram que Louise era uma aluna brilhante.
Em 2012, viajou para a cidade de Rockville, em Maryland, nos Estados Unidos, onde passou dois anos realizando intercâmbio. Aliás, ela adorava viajar. Tinha o sonho de conhecer o mundo.
As fotos do Facebook da universitária mostram uma jovem extremamente sorridente e em viagens cercada de amigos. Cabelos loiros e vestidos estampados coloriam a página dela, que, na noite de sexta (11), foi atualizada. Próximo à imagem de perfil, agora pode-se ler: “Em memória de Louise Ribeiro”.
O pai da menina, tenente Ronald Ribeiro, 49, trabalha no gabinete do comandante do Exército, no Setor Militar Urbano (SMU). Ele ficou estarrecido quando descobriu o que tinha ocorrido com a filha. Com a voz serena, mas emocionada, agradeceu a solidariedade e a preocupação das pessoas. A mãe da estudante, Sandra Batista da Silva, passou a sexta-feira (11) recebendo o abraço e o carinho de pessoas próximas no apartamento da família na 102 Norte.
“A família está muito abatida. Ninguém espera que algo assim possa acontecer com a gente. Paramos para pensar o que leva um ser humano a fazer isso?”, desabafou um dos amigos de Ribeiro, Lauro Veiga, 49. O também tenente do Exército trabalhou com o pai de Louise durante quatro anos.
Antes de receber a trágica notícia, Isadora Ribeiro, irmã da estudante, relatou no Facebook que Louise entrou em contato com a mãe por volta das 18h avisando que iria para a Pizzaria César, na 404 sul, com um grupo. O texto dizia: “Não sabemos se ela chegou no local. Procuramos as amigas, mas as meninas disseram que não tinham combinado de sair. A última coisa que sabemos é que ela entrou no Whatsapp às 20h”. A redação do Metrópoles tentou entrar em contato com Isadora, mas não obteve retorno.
Na segunda-feira (7), a universidade que proporcionou à jovem alegria e conquistas fará duas homenagens para a estudante. Às 10h, o Instituto de Biologia vai realizar um ato em lembrança à universitária no gramado próximo ao prédio. Por volta das 14h, toda a comunidade acadêmica participará de um protesto contra a violência no teatro de arena do campus Darcy Ribeiro.
A trágica perda da jovem aluna traz profunda dor à comunidade acadêmica e certamente deixa estarrecida a sociedade do Distrito Federal
Trecho da nota emitida pela UnB
Louise foi vista pela última vez, na quinta-feira (10/3), às 20h, no prédio do curso de biologia da Universidade de Brasília (UnB) A família registrou o desaparecimento, nesta sexta (11) às 6h40, na 2ª Delegacia de Polícia, na Asa Norte.
De futuro biólogo a frio assassino
Morador de Ceilândia, de acordo com o perfil dele nas redes sociais, Vinícius estudou em uma escola pública de Taguatinga antes de ser aprovado no vestibular e ingressar na UnB, em 2013, por meio do Programa de Avaliação Seriada (PAS). Chegou a cursar um semestre de química antes de se transferir para biologia. Estava no 6º semestre e, de acordo com colegas, sempre foi um cara na dele, com estilo “nerd”. No entanto, também tinha um lado “esquisito”, segundo pessoas que o conheciam, mas que não souberam descrever com precisão o que seria esse traço da personalidade dele.
Em alguns posts no Facebook, Vinícius denotava uma personalidade que poderia dar sinais de depressão. Em outros, compartilhava piadas e costumava marcar Louise e as amigas dela.
Segundo Vinícius relatou à polícia, ele teria namorado Louise entre abril e dezembro de 2015 e conhecia a família dela. Eles se distanciaram e acabaram terminando o namoro. Mas Vinícius não aceitava o fim do relacionamento. Em 27 de dezembro, fez sua última publicação na rede social falando sobre “mentiras: mentiras por todos os lados”.
Há um mês, ele furtou um frasco de clorofórmio do laboratório da UnB e guardou com ele. Na quinta-feira (10/3), conseguiu a chave de uma sala de experimentos da instituição após afirmar à professora que precisava revelar fotos. Mais tarde, a família de Louise recebia uma mensagem do celular dela falando que se atrasaria, pois iria a uma pizzaria. Naquele momento, Vinícius fazia com que a universitária cheirasse clorofórmio. E despejou 200ml do líquido na boca dela, que morreu ainda no laboratório da UnB.
O corpo de Louise foi encontrado com sinais de estrangulamento e parcialmente queimado. Durante depoimento na Divisão de Repressão a Sequestro (DRS), Vinícius Neres não apresentou sinais de arrependimento. Chegou a rir e contou com detalhes como foi o assassinato, enquanto comia sanduíche.