Organização nega prostituição de venezuelanas em local visitado por Bolsonaro
O Metrópoles esteve no local e, segundos vizinhos, as menores e suas mães eram resguardadas e não tinham contato com a comunidade
atualizado
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Paulo Henrique Moraes, representante da Cáritas, organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que em Brasília tem ajudado refugiados venezuelanos, negou qualquer tipo de atividade de prostituição entre aqueles que a organização ajuda. Ele falou à imprensa neste domingo (16/10) na sede do grupo católico.
“Nós desconhecemos essa prática por aqui. Todos os venezuelanos que atendemos aqui na parte da assistência e da garantia de direitos, todas elas são pessoas que buscam empreender, trabalhar. Grande parte são mulheres solteiras, outras casadas, de família. Todas sem essa prática, muito pelo contrário, buscam vivenciar suas vidas de forma íntegra”, ressaltou.
As venezuelanas citadas por Jair Bolsonaro (PL) no podcast Paparazzi Rubro-Negro, na última sexta-feira (14/10), inclusive, não moram mais na casa a qual o presidente as visitou, em São Sebastião, no Distrito Federal.
O mandatário compareceu ao local em abril de 2021 e a visita voltou à tona por conta de sua fala polêmica sobre ter “pintado um clima” entre ele e as adolescentes que moravam no local. Bolsonaro teria dito, ainda, que, na casa, as menores estavam “arrumadas para ganhar a vida”, insinuando prostituição infantil. “Meninas bonitinhas de 13 a 14 anos arrumadas no sábado, para que? Para ganhar a vida”, disse o presidente.
A fala pegou mal nas redes e o presidente tem sido muito criticado sobre a declaração.
Questionado sobre a situação das mulheres citadas por Bolsonaro, Paulo disse desconhecer a identidade das personagens envolvidas na polêmica, mas que chegou a ele informações de que “as famílias estão muito assustadas com a situação diante da repercussão do que foi vinculado”.
No local, onde as mulheres moravam, vizinhos afirmaram a reportagem que as menores e suas mães não moram mais na residência desde o fim do ano passado, meses após o chefe do Executivo Nacional ter visitado no imóvel.
A atual inquilina da casa informou que as mulheres se mudaram pois a residência apresentava sérios problemas na estrutura. Ela, inclusive, teria feito um acordo com a imobiliária para morar no espaço enquanto o reforma.
Indagado, um comerciante cuja loja fica ao lado da casa disse ao Metrópoles que sempre via as mulheres passarem pelo região, mas declarou não acreditar na afirmativa de que no imóvel funcionava uma casa de prostituição. Segundo ele, elas sempre foram resguardadas e não tinha contato com eles.
Confira fotos do local mencionado por Bolsonaro na entrevista:
O Metrópoles apurou ainda que no dia em que Bolsonaro foi até à casa onde as venezuelanas estavam abrigadas, acontecia uma ação social para refugiados. Além disso, a visita não teria sido por acaso, a equipe do presidente já teria acordado com a organização humanitária que ajuda as refugiadas a ida ao local.
O encontro do atual chefe do Executivo com as mulheres foi transmitido, à época, pelas redes sociais oficiais do presidente. Nas gravações, foi possível ver Bolsonaro conversando com as venezuelanas sobre a saída delas do país natal, bem como fazendo críticas ao isolamento social vigente no período. Em nenhum momento, contudo, o gestor falou sobre prostituição no local ou mostrou descontentamento com a situação.
Venezuelanos refugiados no Brasil
Cerca de 17.260 imigrantes foram registrados no DF entre 2015 e 2020, segundo relatório do Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra), órgão que auxilia na produção de informações qualificadas para a criação de políticas públicas no Brasil referentes ao tema.
De acordo com os dados da OBMigra, houve aumento na quantidade de estrangeiros que vieram para a capital federal, respectivamente, 1.918 e 2.612 imigrantes, entre 2018 e 2019. Porém, em decorrência do menor número de pessoas circulando pelo mundo devido à pandemia de Covid-19, somente 952 indivíduos, entre mais de 40 nacionalidades, foram registrados no DF em 2020. Até setembro de 2021, o volume já havia superado o do ano anterior.
Em outubro do ano passado, a reportagem do Metrópoles percorreu diversas regiões administrativas e conversou com vários estrangeiros que dependem das ruas para sobreviver, como é o caso de Jéfferson Daniel.
“Eu saí [da Venezuela] porque não tenho dinheiro para manter minha família e estou passando necessidade. Não tem comida, não tem emprego. Eu estava estudando e tive de parar com tudo”, conta ele, que fixou moradia perto da Torre de TV, na área central de Brasília.
A falta de direcionamento para quem vem de fora é a principal crítica do coordenador de Estatística do Observatório das Migrações Internacionais, Antônio Tadeu Ribeiro de Oliveira. “A grande lacuna no país é essa inserção na sociedade brasileira. A pessoa entra [no país], mas depois fica quase por conta própria”, destaca.
Segundo o IMDH, há pessoas de mais de 40 nacionalidades no DF. Dos 3.297 imigrantes atendidos pelo instituto, os venezuelanos (70%) aparecem com mais frequência. Outros países de origem recorrentes são: Haiti, Cuba, Paquistão, Bangladesh, Síria e Gana. A faixa etária com maior quantidade de indivíduos é entre 18 a 59 anos, com 68%. Além disso, 47% dos atendidos são do sexo feminino e 53%, do masculino. Cerca de 60% declaram residir no DF.