Organização de Fayed tem “grande influência no GDF”, diz juiz federal
Pedido de prisão ressalta o “notável círculo de interferência na esfera estatal” do grupo comandado pelo doleiro
atualizado
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A organização criminosa supostamente comandada por Fayed Traboulsi tinha “grande influência no GDF”. A afirmação consta do pedido de prisão do doleiro, à qual o Metrópoles teve acesso. Segundo o juiz que assina o documento, cabia ao policial civil aposentado Marcelo Toledo a interlocução com o Palácio do Buriti. Toledo seria o “responsável por vazamentos de informações sigilosas”, uma vez que tem “amizade com autoridades policiais”.
Fayed e Toledo foram presos pela Polícia Federal nesta quinta-feira (17/11), a pedido do Ministério Público Federal (MPF). Quem assina a decisão é o juiz federal substituto Ricardo Augusto Soares Leite, da 10ª Vara Federal de Brasília. Também foi decretada a prisão preventiva do empresário Carlos Eduardo Rocha Marzola, apontado como laranja do doleiro. No entanto, até a última atualização desta reportagem, Marzola encontrava-se foragido.
De acordo com o magistrado, o grupo teria ainda influência na Receita Federal, demonstrando a grande capilaridade do esquema. “A única alternativa que vislumbro para a dissolução desta organização delituosa, além do encarceramento de Fayed, é a efetivação da prisão preventiva dos denunciados”, diz o documento.
O magistrado também afirma que Fayed Traboulsi tem “personalidade voltada para a prática delitiva”, pois “responde a vários inquéritos penais, segundo a folha de antecedentes”. Entre eles, destaca Ricardo Augusto Soares Leite, estão corrupção, crime contra os sistemas financeiro e tributário, contrabando, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica, entre outros.
“A periculosidade do réu — evidenciada pelas circunstâncias em que o crime foi cometido e por seus antecedentes penais — por si só basta para embasar a custódia”, diz o juiz. Na mesma decisão, foram negadas as prisões preventivas da esposa e de um irmão de Fayed.
Ao ser questionado pelo Metrópoles, o GDF negou qualquer relação com o doleiro ou a organização de Fayed. O Palácio do Buriti afirmou que “os investigados não exercem nenhum tipo de influência na atual gestão”. Segundo nota enviada à reportagem, o governo reiterou que “apoia as investigações e defende a apuração de todas as supostas irregularidades”. Até a última atualização desta matéria, nem a Polícia Civil nem a Receita Federal tinham retornado os contatos para comentar o assunto.
Defesa: “Prisão foi desnecessária”
O advogado de Fayed Traboulsi, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, considerou a prisão desnecessária. “Os fatos ocorreram há três, quatro anos. O juiz diz que meu cliente responde a diversos processos, mas isso não é motivo para a prisão preventiva”, afirmou. O defensor disse ainda que, embora a Justiça tenha pedido os passaportes dos acusados a fim de evitar uma possível fuga do país, o cliente já havia entregado o documento à polícia em 2013.
Kakay ressaltou que não vai entrar com pedido de habeas corpus para soltar o doleiro. A defesa de Fayed vai esperar a audiência de custódia, que será realizada na próxima segunda-feira (21/11), às 15h30. O advogado de Marcelo Toledo não atendeu as ligações da reportagem.
Operação Miquéias
As prisões de Fayed e de Toledo ocorreram no âmbito da Operação Miquéias. Eles são acusados de participar de uma organização criminosa que fraudava fundos de previdência de servidores de prefeituras de nove estados e do Distrito Federal. Desde 2013, o esquema teria desviado ao menos R$ 50 milhões dos benefícios.