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Órfãos da Covid-19. Como crianças lidam com a morte dos pais pela doença

DF tem 636 óbitos pela pandemia do novo coronavírus e muitas famílias, incluindo crianças pequenas, têm que lidar com a dor do luto

atualizado

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Hiran Rodrigues e família
1 de 1 Hiran Rodrigues e família - Foto: Imagem cedida ao Metrópoles

A pandemia do novo coronavírus matou 636 moradores do Distrito Federal – dados de domingo (5/7) –, fazendo dezenas de órfãos. Entre as pessoas que perderam familiares queridos para a doença, muitas crianças ainda procuram entender o que aconteceu. São meninas e meninos que buscam conforto com outros parentes para superar esse momento difícil e aprender a lidar com o luto.

Especialistas ouvidos pela reportagem garantem: não é possível poupar os pequenos mentindo para eles e escondendo o que houve. Para ajudá-los, é preciso conversar sobre a vida e a morte. “Deve prevalecer a honestidade com a criança. O adulto deve explicar a relação da vida, dizendo o que está acontecendo e o porquê. Tudo de acordo com a possibilidade de entendimento. A criança é capaz de compreender”, orienta a psicanalista Andréa Martins.

A seguir, o Metrópoles revela como famílias devastadas pela morte decorrente da Covid-19 têm se unido para vencer a dor da perda e cuidar de crianças cujos parentes sucumbiram à doença.

Lua no céu

A vendedora Rosicleia Gerônimo da Silva, 28 anos, era casada havia mais de uma década com o técnico em enfermagem Hiran Rodrigues Lima, 47. Juntos, tiveram duas filhas, Ângela Ingrid, 13, e Ana Júlia, 4 anos (foto em destaque).

Hiram foi o primeiro funcionário do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) a falecer da Covid-19 na unidade de saúde, que é referência para o tratamento da doença no DF. Com diferença de um dia, o irmão de servidor do Hran, Ivaldo Rodrigues, 43, também morreu vítima do coronavírus.

“Era bom pai e tinha um coração imenso para ajudar. As minhas filhas estão muito abaladas. Elas estavam acompanhando e entenderam que o pai se foi. Agora, quero que elas sigam os seus ensinamentos e tenham essas lembranças do meu esposo. Elas tinham conhecimento do tanto que ele fazia pelos outros”, comentou.

A Ângela quer demonstrar que está bem, mas eu sei que ela sofre pelo pai e estamos unidas. Cuidando umas das outras. só o tempo vai curar essa dor

Rosicleia Gerônimo da Silva, viúva do técnico em enfermagem Hiran Rodrigues, 1º profissional do Hran a morrer vítima da Covid-19

A primogênita do profissional da saúde disse que a ficha ainda não caiu. “Eu ainda estou aprendendo o que é esse sentimento. Não sei como reagir, mas estou ajudando a minhã mãe para a gente se manter distraídas”, revelou a adolescente.

Segundo Rosicleia, a filha mais nova disse que o pai é a lua e está brilhando no céu. “Quando conversei com ela, falei que o papai tinha virado uma estrelinha e ela disse: ‘não, mamãe. Ele virou a lua porque a lua brilha mais que as estrelas’. A Ana Júlia entendeu e também está me dando força”, encerrou a vendedora.

Veja fotos da família: 

5 imagens
Hiran Rodrigues
Rose com Ângela e Ana Júlia
A família
Os quatro
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Hiran com a esposa e as filhas

Imagem cedida ao Metrópoles/Arquivo pessoal
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Hiran Rodrigues

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Rose com Ângela e Ana Júlia

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A família

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Os quatro

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Boas Lembranças

Heitor Lucas, 5 anos; Mariana Elis, 1; Matheus Henrique, 5; e Isaac Gabriel, de 7 anos, são bisnetos de Lourival Florêncio Barbosa. Morto aos 77 anos, seu Lourival está entre as vítimas mais recentes da Covid-19 na capital do país. Ele teve o óbito declarado no último dia 29.

Mãe de Heitor e Mariana, a enfermeira Alana Gabriela Rodrigues Lima, 25, disse que as crianças ainda estão aprendendo a lidar com a morte do bisavô e deseja que as boas lembranças fiquem em seus corações. A neta classificou Lourival como um homem bom e de sorriso fácil, que sempre ensinou valores sobre a vida.

“Ele tinha muito contato com as crianças, diariamente. Não foi fácil a perda, mas eu e minha prima preferimos não esconder nada dos nossos filhos”, afirmou Alana.

“O Heitor me perguntava mais porque eu estava chorando e se o vovô biso não mexeu quando a gente foi vê-lo pela última vez. Ele está entendendo aos poucos que o bisavô não está mais entre nós. Já os meus sobrinhos sentiram mais. Meu vô levava eles para a escola todos os dias”, acrescentou.

Os sobrinhos de Alana, Matheus e Isaac, são irmãos e filhos da prima da enfermeira, a técnica administrativa Anna Karolyne Silva Barbosa, 31. Os dois meninos não tiveram contato com os avós maternos, que morreram antes de eles nascerem. Assim, o biso Lourival era o vovô. E ele agora está no céus: muito melhor do que aqui, pois lá não tem coronavírus.

Veja Matheus, Isaac e Heitor falando sobre a partida do bisavô e a Covid-19:

 

Veja fotos da família: 

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As netas comemorando o aniversário de 6 anos do Isaac com o avó
Alana grávida de Heitor com o avó e o marido dela, Júlio César
Alana e o avó
O bisavô Lourival com Heitor, Matheus e Isaac
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Lourival com a família

Imagem cedida ao Metrópoles/Arquivo pessoal
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As netas comemorando o aniversário de 6 anos do Isaac com o avó

Imagem cedida ao Metrópoles/Arquivo pessoal
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Alana grávida de Heitor com o avó e o marido dela, Júlio César

Imagem cedida ao Metrópoles/Arquivo pessoal
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Alana e o avó

Imagem cedida ao Metrópoles/Arquivo pessoal
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O bisavô Lourival com Heitor, Matheus e Isaac

Imagem cedida ao Metrópoles/Arquivo pessoal

 

“Entendemos que tínhamos que explicar para eles viverem essa perda e entenderem o ciclo da vida. Até pelo momento que estamos vivendo. Passar pelo luto nos torna mais fortes para lidar com outras situações ao longo da nossa história”, avaliou a enfermeira Alana.

Uma postura aprovada pela psicanalista Andréa Martins: “Esconder não é correto, tira ou inibe a capacidade de enfrentamento. Muitos familiares caem nessa ilusão de não conversarem sobre o assunto e isso pode acarretar em algo lá na frente, na vida madura, e trazer consequências no futuro.

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