Polícia Civil prende família que traficava até LSD em gotas no DF
As investigações começaram há seis meses. Pai, filho e nora foram presos na manhã desta segunda-feira (22/10)
atualizado
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A 6ª Delegacia de Polícia deflagrou operação na manhã desta segunda-feira (22/10) para desarticular uma quadrilha de tráfico de drogas especializada na comercialização de entorpecentes sintéticos e cocaína. Os criminosos atuavam na região do Itapoã, Plano Piloto e Samambaia. Doze pessoas são investigadas.
Estão sendo cumpridos 22 mandados judiciais, sendo 12 de prisão e 10 de busca e apreensão. Até as 8h, oito pessoas foram conduzidas à delegacia. Também foram apreendidos 300 comprimidos de ecstasy (cada um vendido por R$ 50), um tubo de LSD em gotas e um quilo e meio de cocaína.
De acordo com a PCDF, uma família (pai, filho e nora) comandava o tráfico dessas substâncias. Ures Alves de Andrade, 44 anos, Luelson Mateus Diego de Andrade, 22, e Vanessa Sousa do Nascimento, 22, foram presos. Pai e filho têm passagens por tráfico. Eles moravam em uma chácara no Lago Norte.
“Em uma segunda etapa, vamos aprofundar as investigações para chegar até os fornecedores. Hoje, a nossa prioridade foi desarticular a atuação desse grupo criminoso na nossa região”, disse o delegado-chefe da 6ª DP, Érico Mendes.
Segundo o delegado, a família era proprietária de um bar no Itapoã, usado como fachada para a venda de drogas. “A movimentação no bar incomodava os moradores. A investigação, inclusive, teve início após uma denúncia anônima”, explicou Mendes. “Apuramos que, semanalmente, um integrante da quadrilha ia até Goiânia para pegar as drogas. Eles pagavam cerca de R$ 15 por cada ecstasy e revendiam por R$ 50”, completou.
As investigações começaram há seis meses. A operação foi batizada de Arpão e conta com o apoio da Divisão de Operações especiais (DOE) e da Divisão de Operações Aéreas (DOA), da Polícia Civil do Distrito Federal. A Polícia Federal prestou auxílio à PCDF com uso de cães farejadores.
Duas a cada mês
O uso de LSD e ecstasy tornou-se uma roleta-russa para os usuários de entorpecentes no Distrito Federal. Estudos apontam que, a cada seis dias, uma nova droga sintética surge no mundo. Essas composições inéditas são comercializadas por traficantes como se fossem substâncias conhecidas, e essa estratégia criminosa chegou a Brasília.
A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) tem atestado a tendência, que pode ser mortal para quem consome drogas. Em apenas seis meses, de março a setembro de 2018, os peritos do Instituto de Criminalística (IC) da corporação identificaram 15 novas substâncias apreendidas nas ruas. Ou seja, duas drogas nunca antes vistas por mês, apenas na capital da República.
Uma delas é a 25E-NBOH, apreendida por policiais da Coordenação de Repressão às Drogas (Cord) no último dia 3 de outubro. Um jovem de 18 anos foi preso com 250 microsselos e os vendia como se fossem LSD. A substância não integra a Portaria n° 344/98 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que define quais drogas são proibidas.
Por isso, os investigadores acreditam que a composição química foi criada por duas razões: para driblar as normas das agências reguladoras e para baratear os custos de produção, pois fabricar drogas “genéricas” costuma ser menos dispendioso.
Diante da constatação do IC, o delegado Erick Sallum, da Cord, recorreu ao Código Penal e autuou o jovem com base no artigo 273, que trata sobre venda, armazenamento e distribuição de medicamento falsificado, adulterado ou de procedência ignorada. A pena para esse crime varia de 10 a 15 anos de prisão.
Internacional
Investigações apontam que as drogas são desenvolvidas por químicos na Ásia e na Europa, e distribuídas por meio de navios para diversos países, entre eles, o Brasil. Elas chegam em forma de cristal ou em pó.
Segundo o perito criminal da Polícia Civil Luciano Arantes, os laboratórios clandestinos do Brasil misturam esse princípio ativo com medicamentos de livre comercialização e corantes, para formar comprimidos, ou o colocam, ainda em forma líquida, em papel com uma gramatura específica.
O último levantamento da Polícia Federal informa que, apenas em 2015, a PF fechou 17 laboratórios de manipulação de drogas sintéticas no país, e oito deles estavam localizados em Goiás.
Esse processo, geralmente, é feito por pessoas que não têm conhecimento em química. Fazem isso de forma intuitiva e usam equipamentos improvisados. As pessoas que compram não imaginam qual é a composição ou a intensidade da reação da droga no organismo
Luciano Arantes, perito criminal da Polícia Civil
Análise especializada
Cada um dos nove peritos especializados em entorpecentes do IC faz, em média, 100 análises por semana. Eles atendem a demanda de todas as delegacias do Distrito Federal. Inicialmente, é feito um teste prévio utilizando reagentes. O método é usado apenas para dar uma “direção” para os profissionais.
O Metrópoles acompanhou esse primeiro passo realizado no IC. Uma pequena amostra do primeiro comprido analisado é colocada no recipiente e, ao adicionar o reagente, o líquido ganha cor amarelada semelhante a uma gema de ovo.
Essa coloração indica que se trata de n-etilpentilona, a mesma droga que matou a universitária Ana Carolina Lessa, 19, em 23 de junho de 2018. No segundo teste, o reagente provoca uma cor azulada ou um preto intenso, cores que indicam: o entorpecente é MDMA (metilenodioximetanfetamina), o mais comum entre as apreensões de comprimidos no DF. Em 2018, de janeiro a outubro, foram 178 registros.
Após esse processo, os testes são feitos em uma máquina chamada de CG-EM, que identifica diferentes substâncias dentro de uma amostra.
Confira:
Os primeiros registros de uso da n-etilpentilona no Distrito Federal ocorreram em 2016. Em três anos, foram mais de 50 ocorrências. Apenas de janeiro a março de 2018, o IC contabilizou 13 apreensões da droga. Em uma delas, feita em agosto, a polícia localizou 150 comprimidos da substância, que também é vendida em forma líquida, selo ou cristal.
LSD
Luciano Arantes afirma ainda que, atualmente, apenas 5% dos selos apreendidos no Distrito Federal são LSD. Dados do Instituto de Criminalística da PCDF constataram que, de 2009 a 2012, 100% das apreensões eram de LSD. Depois do primeiro semestre de 2013, o número caiu para 50%.
A partir de 2014, os peritos identificaram a comercialização dos NBOMes, conhecidos também como Smiles ou N-bombs, fortes alucinógenos sintéticos vendidos como alternativas ao LSD. Nesse grupo, estão a 25B-NBOMe, 25I-NBOMe e a 25C-NBOMe.
Todas essas substâncias submetem quem as usa a altos riscos de overdose. Usuários relatam que, ao consumirem as drogas, sentem grande confusão mental, coração acelerado e alucinações. Em 2014, a Anvisa incluiu 11 tipos de NBOMes na Portaria n° 344. Em 2016, também foi identificada a família NBOH: 25I-NBOH e 25B-NBOH, além do DOC.
Investigações intensificadas
A preocupação das autoridades com o crescimento das drogas sintéticas no Distrito Federal fez com que uma nova divisão fosse criada, há cerca de três meses, dentro da delegacia especializada em entorpecentes, a Cord.
Trata-se de um mundo paralelo e de uma droga elitizada. Os fornecedores e traficantes usam a tecnologia a favor do crime. Percebemos que a polícia também precisava mudar a forma de investigar e focar esse mercado ilegal, que traz prejuízos não só para a segurança pública como também para a saúde e as famílias dos envolvidos
Erick Sallum, delegado
De acordo com o policial, o perfil dos traficantes e consumidores é o mesmo: jovens, estudantes universitários, de classe média e que não precisam do dinheiro do tráfico. “Eles aproveitam a droga para o consumo próprio e para vender entre amigos ou em festas. Percebemos que investem o dinheiro em celulares mais caros ou viagens”, explicou Erick Sallum. A região do Distrito Federal que apresenta a maior circulação dessas drogas é o Plano Piloto, segundo a Polícia Civil.
Por não terem cheiro característico, ao contrário da maconha, e pela dificuldade de serem detectados por cães farejadores e raios-x de aeroportos, os selos e comprimidos são transportados das mais variadas formas. Traficantes de outros estados conseguem enviar alucinógenos até mesmo pelo correio.
A comunicação e as encomendas entre fornecedores e traficantes são feitas por meio de aplicativos de conversas criptografadas, como o WhatsApp, ou em grupos secretos nas redes sociais. A preocupação com a segurança da negociação é tanta que, antes de aceitarem mais membros nessas comunidades, os administradores fazem um trabalho de contrainteligência e analisam criteriosamente os perfis dos novos usuários. Diante de qualquer desconfiança, o grupo é desfeito.