Combustível desviado saía mais barato em “posto clandestino” no DF
Presos pela PCDF, motoristas de caminhões-tanque são acusados de fazer parte de esquema que rendia R$ 30 mil a cada mês
atualizado
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Policiais Civis saíram às ruas do Distrito Federal para desarticular uma organização criminosa especializada no furto e receptação de gasolina e diesel. Investigadores da Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri) cumpriram 12 mandados de prisão preventiva e seis de busca e apreensão. Uma pessoa está foragida.
De acordo com as investigações, os combustíveis eram desviados pelos próprios motoristas dos caminhões-tanque, por meio de galões, gerando lucro de R$ 30 mil para a quadrilha por mês. Cada litro furtado saía no mercado paralelo por R$ 0,30 a menos em relação ao cobrado pelos postos.
Veja imagens da operação na manhã desta quarta:
A operação batizada de Dianomea — distribuidora, em grego — mapeou o esquema criminoso liderado por pessoas que pertencem à mesma família. O bando atuaria desviando combustível há pelo menos 10 anos no DF. Os alvos foram detidos em endereços de Samambaia, Recanto das Emas, Ceilândia e Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA).
Dois homens foram identificados como os principais líderes da organização criminosa. Parentes, eles já tinham passagem na polícia por venda irregular de combustível. Agora, responderão por furto, receptação qualificada, crime contra o meio ambiente e ordem econômica. Se condenados, podem pegar pena superior a 10 anos de reclusão.
Segundo a PCDF, os motoristas dos caminhões-tanque que participavam do esquema desviavam de 20 a 50 litros de combustíveis diariamente. A depender da temperatura do dia, a subtração não era percebida nos medidores devido à dilatação. Foi identificada uma vítima até o momento, dono de 15 postos, que contabilizou em torno de RS 50 mil de prejuízo a cada mês.
Passo a passo
De acordo com os investigadores, os motoristas retiravam combustível do reservatório na distribuidora. No caminho para os postos, faziam uso de galões para subtrair uma pequena quantidade da gasolina ou diesel. Os veículos chegavam aos estabelecimentos, porém com cerca de 20 a 50 litros do produto a menos.
Conforme explicou Elianto Couto, delegado responsável pelas investigações, o rombo só era notado pela vítima no final de cada mês. Um dos líderes tinha, inclusive, uma espécie de posto clandestino na própria chácara localizada em Samambaia. O lugar era usado como depósito, onde foram encontrados mais de 5 mil litros de combustível.
“Os chefes da quadrilha estruturada chegavam a ganhar até R$ 900 por dia, possuindo, inclusive, caixas de água de mil litros nas residências para armazenamento dos combustíveis subtraídos. Com o lucro, o dinheiro era novamente inserido na atividade, gerando um processo cíclico de criminalidade”, explicou o coordenador da Corpatri, delegado André Leite.
Durante as investigações, os policiais identificaram que caminhões de empresas terceirizadas, que trabalham para o governo do DF, também eram abastecidos com os combustíveis desviados. A Polícia Civil acredita que o grupo criminoso seria o maior do Distrito Federal a praticar esse tipo de delito.
Prejuízo milionário
A ação de grupos criminosos nos dutos de transporte de petróleo e derivados causa prejuízo de R$ 150 milhões à Petrobras por ano. Preocupada com a escalada do número de furtos de combustível, que mais do que triplicou em três anos, a estatal lançou no dia 7 de junho um programa de inteligência e segurança, o Pró-Dutos. Além de perdas financeiras, a empresa quer evitar que se repita no país o cenário de violência vivido no México, onde o furto em dutos motiva assassinatos e impõe custos anuais de cerca de US$ 1,5 bilhão à petroleira Pemex.
No Brasil, entre tentativas e episódios efetivos de furto, foram registrados 72 casos em 2016. No ano passado, o total subiu para 261, a maior parte em São Paulo (151) e no Rio de Janeiro (69). A avaliação da estatal, segundo fontes, é que organizações criminosas descobriram que a venda irregular de combustíveis é um bom negócio, principalmente em períodos em que os preços dos combustíveis estão mais altos e a economia em recessão.
Na maior parte das vezes, o foco dos bandidos é o petróleo no estado bruto (40%), mas há furtos também de derivados, como gasolina, óleo diesel e até nafta petroquímica, que, misturada a combustíveis automotivos, tende a parar nos postos revendedores e nos tanques dos motoristas.
Assista: