Operação da PCDF investiga empresas ligadas a assessor de Fraga
Parlamentar nega irregularidade e acusa uso político da polícia durante a campanha eleitoral. Deputado é candidato ao GDF
atualizado
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Uma operação da Polícia Civil nesta quinta-feira (6/9) colocou novamente a corporação no olho da campanha eleitoral. A Coordenação Especial de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado, aos Crimes contra a Administração Pública e aos Crimes contra a Ordem Tributária (Cecor) cumpriu sete mandados de busca e apreensão contra duas empresas de publicidade e comunicação suspeitas de lavagem de dinheiro. Os estabelecimentos, informou a PCDF, seriam ligados a Francisco Edielson, assessor parlamentar do deputado Alberto Fraga (DEM), um dos 10 candidatos que disputam o comando do GDF com o governador Rodrigo Rollemberg (PSB).
Segundo o delegado Virgílio Agnaldo Ozelami, as duas empresas faturaram mais de R$ 10 milhões nos últimos três anos, mesmo tendo como sócios pessoas de baixa renda, entre elas uma ex-diarista.
De acordo com a polícia, a ex-diarista seria Fátima Ferreira, sócia da Cloud Technology e irmã de Flávia Ferreira, dona da Atos Dois (nome fantasia Xeque Mate) e ex-mulher de Edielson. Para o policial, trata-se de um núcleo familiar que atuaria de forma suspeita. Integrantes da Xeque Mate atualmente prestam serviço para campanhas de outros buritizáveis.
Segundo informações do Portal da Transparência, a Atos Dois e Fátima Ferreira dos Santos ME (microempresa de nome fantasia de Cloud Technology (microempresa) receberam R$ 968 mil em verba indenizatória de Alberto Fraga no período entre janeiro de 2015 a julho de 2018.
Durante coletiva de imprensa, o delegado titular da Cecor, Fernando César, afirmou que não há indícios de envolvimento direto do deputado Fraga com o suposto esquema. Ozelmani completou dizendo que todo o material apreendido será analisado para descobrir o caminho percorrido pelo dinheiro.
O deputado nega qualquer irregularidade. Afirma que apresentou todas as notas fiscais dos serviços prestados para divulgação da sua atividade parlamentar, entre eles publicações em redes sociais e impressão de informativos.
A assessoria do parlamentar afirmou que a investigação tem cunho político, “uma vez que Fraga ameaça o projeto de reeleição de Rollemberg. Fraga está incomodando”. Segundo pesquisa Ibope divulgada no dia 24 de agosto, o deputado federal está em terceiro lugar na intenção de votos dos brasilienses, com 9%, atrás de Rollemberg (12%) e Eliana Pedrosa (14%).
Também foi confirmado, por meio da assessoria de Fraga, que Edielson é lotado no gabinete. “Mas o que ele faz fora do horário de serviço não é de responsabilidade do deputado e, se forem comprovadas as irregularidades, providências serão tomadas”, completou.
Os mandados foram cumpridos em Ceilândia, Taguatinga e Plano Piloto. O delegado Ozelami explicou que a polícia recebeu denúncia de que empregadas estariam fazendo lavagem de dinheiro. Em consulta à Receita, verificou os faturamentos milionários e constatou que as donas as empresas tinham uma vida humilde em Taguatinga, incompatíveis com a movimentação. A operação foi batizada de Blindness.
A reportagem não conseguiu contato com os demais citados.
Superdelegacia
A Coordenação de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado da Polícia Civil do DF foi criada em janeiro deste ano com o status de uma superdelegacia. Comandada pelo delegado Fernando César Costa, a megaestrutura é apontada como um instrumento do governador Rollemberg para intimidar seus rivais em ano eleitoral.
A reportagem acionou a Polícia Civil para repercutir as declarações de Fraga de que a operação teria cunho político, mas, até a publicação desta reportagem, a corporação não havia se manifestado.
Operação 12:26
Outra operação da Cecor, no mês passado, trouxe à tona a discussão sobre o uso político da PCDF. Alvo de interceptações telefônicas da Polícia Civil a partir de autorização judicial, Carlos Augusto Sobral Rollemberg, irmão do governador, foi caracterizado como “ponto focal” de diversas ingerências junto à administração pública e com alto poder de “motricidade” perante o governo, embora não exerça nenhum cargo no GDF. O Metrópoles teve acesso à íntegra da investigação, descrita nos autos do Inquérito nº 386/2018, batizada de Operação 12:26.
A partir de uma série de diligências, como escutas telefônicas, campanas que flagraram encontros, análise de documentos e depoimentos colhidos, a Polícia Civil concluiu que há envolvimento de 10 pessoas no esquema de tráfico de influência, advocacia administrativa, além de indícios de prática de corrupção.
Nove dos 10 alvos da Coordenação Especial de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e aos Crimes contra a Administração Pública (Cecor) são: Carlos Augusto Sobral Rollemberg, Luiz Fernando de Souza Messina, Leonardo Rocha de Almeida Abreu, Guilherme Rocha de Almeida Abreu, Marcello Nóbrega de Miranda Lopes, Flávio Dias Patrício, Hermano Carvalho, Augusto Diniz, Marcos Woortmann. Um dos investigados morreu em julho.