ONG do DF transforma sacos de ração em bolsas recicláveis para venda
Com apoio da Secretaria de Trabalho, o projeto ajuda financeiramente famílias vulneráveis e animais de estimação da capital do país
atualizado
Compartilhar notícia
Um grupo de 20 mulheres e jovens do Distrito Federal em situação de vulnerabilidade social encontrou na costura uma forma de se profissionalizar e criar produtos sustentáveis. A entidade Fórum Brasil Mulher Forbs, em parceria com a Secretaria de Trabalho, está desenvolvendo com esses alunos o Ecão-bags Brasil (referência à ecobag), um empreendimento no qual sacos de ração são transformados em bolsas ecológicas.
O projeto recebeu apoio da deputada distrital Júlia Lucy (União Brasil). A parlamentar destinou R$ 100 mil em emendas ao curso de costura para capacitar as mulheres e comprar maquinário.
“Nosso mandato é muito focado nas mulheres. Tive a oportunidade de conhecer o Ecão-bags, projeto fantástico promovido pela ONG Fórum Mulher Brasil, que, além de engajar mulheres para o trabalho, vai de encontro à tendência mundial de economia circular e da sustentabilidade”, comentou a parlamentar, em uma postagem nas redes sociais.
É em um ateliê localizado em São Sebastião que a turma reúne-se todas as terças, quintas-feiras e sábados a fim de colocar em prática as habilidades desenvolvidas durante o curso de costura. A ideia de criar o projeto surgiu no início da pandemia de Covid-19, em 2020, onde muitas famílias apoiadas pela Forbs estavam com dificuldades financeiras.
“As mulheres estavam desempregadas e sem condições de sustentar os filhos, e nós também encontramos muitos animais de estimação abandonados nas ruas, sem comida. Diante desse cenário, queríamos ajudá-los e resolvemos arregaçar as mangas e criar um projeto que gerasse renda. Apesar das dificuldades, a ação cresceu e foi apoiada pela Secretaria de Trabalho no final de 2021”, conta Marisa Ramalho, presidente da entidade e coordenadora geral do Ecão-bags.
A entidade, que atua há 25 anos, já formou um grupo de mulheres que, agora, vão multiplicar a experiência com a nova turma. A meta é criar uma cooperativa e garantir a continuidade dos trabalhos e da assistência às famílias cadastradas na organização, além de uma renda fixa para essas costureiras.
No ano passado, a equipe conseguiu vender em torno de 2 mil peças em feiras de adoção. Segundo Marisa, com os recursos, foi possível também alimentar animais domésticos e contribuir com resgates, castração, vacinação, remédios e cirurgias de bichinhos abandonados.
Os sacos de ração utilizados nas confecções são provenientes de doações da população, que entregam as embalagens em pontos de coleta. Em alguns casos, os funcionários da entidade recolhem o material nas residências. Além disso, uma fábrica de alimentos para pets do DF destinou cerca de 60 mil pacotes que seriam descartados para apoiar a produção das bolsas ecológicas.
“A população está bastante engajada nas doações. Também aceitamos sacos de areia para gato. Tudo se transforma nas nossas mãos. Além das ecobags, fazemos estojos, lixeiras para carros, aventais, bolsas pequenas. É uma linha de produtos que varia entre R$ 14,90 e R$ 29,90”, detalha a coordenadora.
A costura como instrumento de mudança
Durante a pandemia, a vida da costureira Liedi Rosa, de 39 anos, teve uma mudança inesperada. Pouco tempo depois de ser dispensada do emprego como doméstica, descobriu um câncer de mama no período em que amamentava a filha mais nova. Após passar por uma mastectomia total, sessões de quimioterapia e esvaziamento da axila, ela buscava meios para auxiliar nas despesas de casa.
Como não poderia voltar ao antigo trabalho, encontrou nas atividades artesanais com o crochê, uma renda para ajudar a família. Porém, no final do ano passado, por conta da saúde, Liedi precisou dar uma pausa novamente. A moradora de São Sebastião foi diagnosticada com outro câncer, desta vez na pelve. “Nunca quis ficar sem fazer nada, foi então que uma amiga me falou do projeto Ecão-bags, fiquei muita interessada”, relembra.
Hoje, enquanto passa por outro tratamento de quimioterapia combinado com radioterapia, encontra na costura uma forma de lidar com o processo. “Quando estou sentada nas máquinas, até esqueço da doença, uma ótima terapia. A alegria das colegas também é contagiante e ajuda”, reflete Liedi.
Em busca do sonho de cursar medicina, o estudante Luciano Cardoso, de 21 anos, decidiu candidatar-se ao projeto para conseguir uma renda que custeasse um notebook e um curso preparatório para o vestibular. Atualmente, ele concilia os estudos com a costura.
“Além de aprender um ofício que posso executar nas minhas horas vagas, tenho guardado dinheiro para bancar o meu sonho. Sou o único homem na turma, quando soube, pensei que não conseguiria assumir a vaga. Mas tem sido uma terapia, descobri um talento que nem imaginava”, conta ele.
A venezuelana Maria Virginia Azuaje, de 51 anos, é outra costureira que ingressou no Ecão-bags. Ela veio para o Brasil com a família há cerca de dois anos, em busca de melhores condições de vida. Antes de mudar-se para o DF, passou alguns meses morando em Roraima, onde relata ter passado por dificuldades. “Existia muita xenofobia por parte dos habitantes e dificuldade para conseguir emprego. Com a ajuda da Organização das Nações Unidas, conseguimos vir para Brasília. Agora, trabalho com a costura e me relaciono bem com todos os colegas”, diz a mulher.
O projeto também conta com a María Lionza González Aleman, de 47 anos, uma venezuelana que almeja seguir carreira no empreendedorismo. “Sempre trabalhei como autônoma no meu país. Esse é o terceiro curso de costura que faço no Brasil e o que mais tenho gostado. Estou muito feliz aqui com meus filhos e marido”, ressalta ela.
Cursos profissionalizantes
Além das aulas de costura, o projeto também ensina sobre marketing digital e técnicas de vendas para outros 50 jovens que participam da ação. A profissionalização servirá de apoio para a produção das costureiras.
E mesmo com os trabalhos a todo vapor, aos sábados, a turma participa de palestras voltadas para autoestima, empreendedorismo e violência doméstica. Temas que ajudam as pessoas envolvidas no projeto a refletirem e ampliarem o conhecimento sobre os direitos humanos.
Como ajudar
A previsão é que as inscrições para os cursos ofertados sejam abertas em junho. Quem quiser doar embalagens de ração, pode entregá-las nos seguintes pontos de coleta: Cia da Terra (Lago Norte ou Jardim Botânico), Comercial São Benedito (Asa Norte) e Folha Santa (Asa Norte).
Para aqueles que tiverem interesse em comprar os produtos, podem entrar em contato com a ONG pelo WhatsApp (61) 99953-3553.
Quer ficar ligado em tudo o que rola no quadradinho? Siga o perfil do Metrópoles DF no Instagram.
Receba notícias do Metrópoles no seu Telegram e fique por dentro de tudo! Basta acessar o canal: https://t.me/metropolesurgente.